Vidas Entrelaçadas

Não vou ficar olhando você morrer

Já se passaram três meses desde que Gina se foi.
Dinah se afundou em um poço de autopiedade, se entregando a bebida.
Nas primeiras semanas ninguém se atreveu a dizer nada, a tentar impedir, conseguiam imaginar a dor que a polinésia sentia. Mas logo perceberam que ela estava se enterrando. Não ia ao trabalho, não conversava com ninguém, não cuidava das irmãs, mesmo que elas já fossem adultas e tivessem suas próprias vidas, queriam alguém cuidando delas.
Dinah comia pouco, bebia muito, e passava a maior parte do dia dormindo. Quando acordava ia novamente se embriagar.
Saiu do elevador cruzando as pernas, procurando as chaves do AP, com muita dificuldade pra acertar o buraco da fechadura. Fazia tanto barulho que uma porta atrás dela se abriu.
-O seu apartamento é esse aqui Dinah. - A polinésia se virou e encontrou sua irmã do meio. Mas ela tinha certeza que tinha duas Kamilas ali. Pelo menos tava vendo duas. - Vem. Vou cuidar de você, parece que nem consegue andar.
A menor veio de encontro a irmã, passou um braço de Dinah sobre seus ombros e com seu próprio braço segurou a cintura da mais velha.
-Você... - Dinah falava tão embolado que era difícil entender. -Você parece comigo. É minha irmã?
-É Dinah, eu sou sua irmã.
-Prazer... - Elas andavam devagar, com Kamila conduzindo. - Mas você... Você não é a Gina.
Os olhos de Kamila encheram d'água. Não queria falar sobre a irmã com Dinah naquele estado.
-Sou a Kamila, Dinah.
-Claro... Claro. Camila mora comigo. Latina gostosa. Você conheceu a Gina??
-Uhum. - Kamila com certeza não ia conversar sobre Gina.
-Eu amava a Gina. - Dinah quase se arrastava enquanto falava. E logo lágrimas desciam de seus olhos. - Ela só... Só tinha quatorze anos.
Kamila também chorava, enquanto tentava fazer a irmã entrar em casa. Camila apareceu na porta, suspirou e foi ajudar.
-Chancho... Tava falando da Gina pra essa moça linda. Ela parece comigo. Disse que chama Kamila. Minha irmã do meio chama Kamila. Você é minha irmã do meio?
-Dinah, cala a boca. - Camila disse e a polinésia apenas obedeceu.
Levaram ela pro banheiro.
-Pode deixar que eu cuido da sua irmã Mila. Vai dormir.
A mais nova se retirou e Camila começou a tirar as roupas de Dinah.
-Chancho para.
-O que é Dinah?
-Não tira minha roupa. Eu namoro. Não posso transar com você.
-Belo namoro. Não vê ela a duas semanas, nem liga, ou dá qualquer satisfação.
A polinésia tentou fazer cara feia, mas seu estado não permitia e Camila acabou rindo.
-Cala a boca vai Dinah.
Camila tirou as roupas de Dinah e abriu o chuveiro com água gelada, onde praticamente jogou a polinésia.
-Cha-Chan-Chancho. T-tá fr-fri-fria.
-É melhor assim.
Camila acabou ficando com dó de ver a amiga se tremendo. Desligou o chuveiro, levou ela pro quarto onde secou e trocou a amiga.
-Agora dorme Dinah. Temos que conversar sério amanhã.
Mas nem era preciso ter dado a ordem. Dinah se jogou na cama e dormiu. Camila olhou a amiga e não sabia o que fazer.
Ligou pra Ally. Achava que só ela poderia dar um jeito em Dinah.

**

Dinah abriu os olhos sentindo a cabeça parecer que ia explodir.
Tomou um comprimido, fez sua higiene e desceu pra cozinha. Não devia ter ninguém em casa, já era tarde e todos estavam trabalhando.
É claro que ela também devia, mas não tinha condições.
Quando entrou na cozinha porém, encontrou uma loira baixa, de cabelos lindos, pele macia, mas com um olhar duro.
-Ally? - Ela se aproximou da namorada, na intenção de beijar seus lábios, mas a menor virou o rosto. - O que foi?
-Precisamos conversar Dinah.
Dinah se sentou e esperou uma bronca das grandes. Mas não foi o que veio.
-Eu quero terminar Dinah.
Dinah ficou encarando Ally.
-Não tá falando sério baixinha.
-Estou sim Jane. Acabou.
Dinah se levantou e ficou olhando Ally.
-Porque?
-Porque Dinah? Tem coragem de perguntar? Você tá se destruindo. Não trabalha, não se cuida, não cuida das suas irmãs. Você tá se deixando levar pela dor e não luta contra isso.
-Você disse que estaria do meu lado.
-NÃO VOU FICAR OLHANDO VOCÊ MORRER.
-Não me deixa Ally.
-Você não me dá escolha Dinah. Não quero essa nova Dinah. Quero a minha Dinah, cheia de vida e alegria. Quero a Dinah que sorria e me fazia sorrir. Que se preocupa com as pessoas. Que não se deixa levar pela tristeza. Não essa Dinah que se permite afundar num poço de autopiedade. Pra mim já deu. Adeus Dinah.
Ally colocou sua aliança sobre a mesa e saiu.
Dinah se encostou na porta, de onde escorregou até o chão e chorou.