Puxa...

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Dinah olhava pra Ally, pensando em como ia começar a contar sua história.
-Bom... - Ela começou devagar. Respirou fundo. - Eu fiz boxe com a Mani desde os oito anos, estudei com a Camila desde os quatro. Mani é um ano mais velha, mas com dez anos começou a estudar na mesma escola que a gente. Não nos desgrudamos desde então.
"Camila foi sempre meio machinho. Gostava de futebol, roupas largas, carrinho... Aos doze ela deu o primeiro beijo, em uma menina. Claro que ela contou pra gente, ficamos animadas e eu acabei contando pra minha mãe. Foi aí que eu descobri o que era o preconceito. Minha mãe falou que nunca aceitaria isso de uma das filhas dela, meu pai assinou embaixo e ainda disse que mataria caso uma filha dele fosse lésbica."
"Prometi a mim mesma que nunca contaria nada sobre Camila de novo e que também jamais iria dizer a eles que meninas me atraiam."
"O tempo passou e com quinze anos eu e Mani ficamos um dia até mais tarde treinando boxe, porque íamos pra um campeonato. A gente estava no jardim da casa dela. Quando ela me deu um chute agarrei ela e caímos juntas no chão, rindo abraçadas. Ela disse que foi golpe baixo, mas eu não ouvia direito. Olhava o quanto ela era bonita. Foi quando rolou o primeiro beijo. Ficamos estranhas por um tempo, sem entender o que tinha rolado, mas logo Camila deu um tapa em nós duas e nos fez ver que gostávamos uma da outra. "
"Começamos a namorar e apesar dos pais de Mani saberem e darem total apoio pra gente, assim como Camila, eu mantinha essa relação em segredo. Não queria que meus pais soubessem porque eu tinha medo do que eles fariam."
"Passamos um ano namorando escondidas, nos beijando e trocando carinhos. Mani foi a primeira em tudo na minha vida e sempre foi incrível. Apesar de tudo ela era focada no sonho que tinha de abrir uma empresa e de certa forma eu a invejava. Não os bens materiais que ela sempre teve, mas o apoio incondicional dos pais dela, já que os meus não me davam apoio em nada."
"Um dia a gente tava em casa, não tinha ninguém e a gente ficou trocando carinhos no sofá, sem se preocupar com nada. No meio de um beijo meu pai chegou."
Dinah se calou por um momento com as lembranças daquele dia funesto. Respirou fundo e voltou a falar.
-Minha mãe estava logo atrás, então os dois virão. Mas foi meu pai que partiu pra cima de Mani. Começou a socar ela e eu não podia deixar ele ferir ela. O empurrei e tomei um soco. Minha mãe gritava me mandando sair de sua casa e eu fui. Sem pegar nada, sem levar nada.
"Passei a morar com Mani na casa dos pais dela, mas assim que fez dezoito ela, Camila e eu abrimos a empresa, que ficou no nome dela até eu e a Mila fazermos dezoito anos. Ela comprou um apartamento e começamos a morar juntas."
"A vida estava boa, mas eu sentia um vazio dentro de mim. Comecei a beber, chorar pelos cantos, chegar tarde em casa pra não ter que conversar com a Mani. Levava dinheiro pra minha irmã e me matava de chorar depois."
"Minha bebedeira e o fato de explodir sempre foi cansando Mani. Um ano antes de nos conhecermos ela terminou tudo. Tentei argumentar, ainda gostava dela, mas não adiantou, ela sempre foi decidida."
"Camila queria me matar pelo tanto que fiz ela sofrer nos quatro anos que ficamos juntas, mas não me julgou. Me deixou ir morar com ela."
"O vazio foi ficando pior e me afundei ainda mais. Sentia falta da minha família, de Mani... Me dedicava a empresa com todas as forças durante o dia, e a beber e transar com alguém a noite. Aí te conheci e você sabe o que houve depois."
"Meus pais nunca me procuraram e só vi meus irmãos de longe. Mas agora a Gina, uma das mais novas tá muito doente. Não sei direito o que tem, mas é grave. Precisa de cirurgia. Meus pais nem queriam me deixar ajudar, mas insisti e paguei pra ela ser operada. Mas não sei o que vai acontecer agora."
Dinah terminou chorando. Ally segurou sua mão.
-Puxa... Eu nem sei o que dizer amor.
Ela deu a volta na mesa e se sentou no colo de Dinah. Secou suas lágrimas com os dedos.
-Fica tranquila Dih. Vai ficar tudo bem. Eu tô com você. Não vou te deixar.
Dinah se sentia grata por aquilo. Independente de tudo, Ally continuaria do seu lado.

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