Capítulo 31 A montanha vermelha parte 1

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Os moradores de Áster assistiam o avanço das tropas inimigas por trás de janelas e portas entre abertas, muito assustados tentavam entender por que o Capitão da muralha que há tanto tempo os protegeu de invasores, caminhava junto de Baltazar naquela manhã. E nem imaginavam que o pior ainda estaria por vir.

Depois de percorrerem pela viela principal que se estendia por toda a cidade, finalmente chegaram a um grande lago. Onde em suas margens de ambos os lados haviam enormes árvores petrificadas. Acima de seus troncos negros, estranhos seres alados permaneciam imóveis como estátuas, observando tudo, e a todos com seus enormes olhos esbugalhados. Suas presas afiadas a mostra, causavam arrepios em quem por ali passava. Estavam ali como um aviso que deixava bem claro: Intrusos não eram bem-vindos.

- O que são esses seres horripilantes, Tarpien? - Perguntou Alice, que sentiu uma estranha sensação ao olhar para aqueles animais.

- São guardiões do mundo dos espíritos - respondeu Tarpien. - Nos tempos antigos, eram invocados para caçarem todos aqueles que morreram em Gaillardia e de e alguma forma voltaram à vida, mas também são ótimos guardiões de lugares onde suas portas deveriam ficar fechadas para sempre.

- Eu não gostaria de ter essas coisas horríveis me caçando - disse Alice, sentindo seu estômago revirar.

- É uma sábia decisão - respondeu Tarpien. - Esses são o tipo de criaturas que ninguém iria gostar de ter em sua cola. Esses seres são implacáveis, quase impossíveis de matar e só param quando conseguem o que querem, na maioria dos casos só descansam depois de terem destroçando o seu procurado.

- Estou com um pressentimento tão ruim - disse Alice, com a voz triste. - Acho que as coisas não poderiam estar piores, meu amigo - disse, acariciando as crinas de Tarpien.

- Posso tirar você daqui se assim desejar, criança - sussurrou Tarpien. - Não é mais preciso sangrar por esse mundo. Prometo que volto para buscar seus primos onde quer que eles estejam. Acredite, eu posso encontrá-los, mesmo que estiverem escondidos nos picos mais altos ou nas cavernas mais profundas de Gaillardia. Eu não descansaria até levá-los de volta para casa.

- Você é um bom amigo, Tarpien - disse Alice, e inclinando-se beijou a testa do cavalo. - Mas ainda não posso voltar. Se não for junto deles, prefiro ficar aqui. E além do mais, sinto que Gaillardia de alguma forma ainda precisa de minha ajuda.

- Gostaria que não, minha amiguinha corajosa! - Disse Tarpien. - Gostaria que não!

Nas margens do lago ao meio das árvores petrificadas, existiam duas mesas de bronze, e sobre elas, haviam duas pedras brancas de formato retangular. Pintadas ao centro das pedras em tom dourado, os desenhos de duas mãos brilhavam como ouro.
Quando finalmente o cortejo parou a Sra. Frigga se adiantou a frente de todos que foram alertados para não se moverem. Caso contrário, seriam mortos pelos guardiões alados.

Quando a Sra. Frigga aproximou-se das margens do lago, um dos Guardiões abriu suas enormes asas negras, e planou até uma das mesas onde pousou silenciosamente, e olhando nos olhos da regente da cidade grasnou alto como se aguardasse algo.

- O que ela está fazendo, Tarpien? - Sussurrou Alice, bem próximo a orelha do cavalo.

- Ela agora deve se apresentar para o guardião que mentalmente escolherá uma senha para que ela descubra - Respondeu Tarpien - Ela terá apenas uma chance para responder. E Isso deverá ser feito com as duas mãos sobre as marcas douradas de cada pedra. Onde as mãos dela ficarão presas até que ela diga a resposta.

- O que acontece se ela der a resposta errada? - Perguntou Alice, e olhando ao seu redor, notou que todas as criaturas aladas encontravam-se eufóricas, e passaram a se posicionar em lugares estratégicos, como se aguardassem a ordem para um ataque.

- Acho que não preciso te responder - disse Tarpien. Alice engoliu seco.

- Espero que ela não erre! - Disse a menina, que não conseguia tirar os olhos das criaturas aladas.

- Para o nosso bem, eu também espero - sussurrou o cavalo.

Quando a Sra. Frigga tocou as pedras, as mãos da mulher afundaram para o interior de ambas, de onde ela não conseguiria tirá-las de forma alguma, a não ser após dizer a senha correta. A criatura aproximou-se da mulher e agitando suas asas abriu sua enorme boca cheia de dentes, e soltou um grito agudo ensurdecedor, e todas as outras fizeram o mesmo. Depois disso um silêncio pairou nas margens daquele lago.

- Aquele que está morto, morto deverá ficar! - Disse a Sra. Frigga, e após prestar uma reverência à criatura voou de volta para a árvore de pedra. As mãos da regente foram liberadas, as mesas de bronze passaram a girar em círculos nos seus próprios eixos, enquanto uma passarela de pedra emergia das águas do lago.

- Ela conseguiu! - Disse Alice, em voz alta. Baltazar a fitou nos olhos, e por alguns segundos os dois permaneceram em uma troca de olhares até que Baltazar desmontou de seu garanhão e em forma de provocação acariciou os cabelos de Júlia que sorriu consentido o carinho.

- Maldito! - Sussurrou Alice. - Precisamos agir Tarpien, Júlia está cada vez pior. Sinto que logo ela deixará de ser totalmente quem ela é.

- Tenha paciência, criança - respondeu Tarpien. - Um ataque de frente não causaria nada além de sua morte. Precisamos aguarda o momento certo, devemos agir somente quando tivermos a oportunidade perfeita.

- Você tem razão - respondeu Alice, no momento que a Sra. Frigga dava seus primeiros passos pela passarela, e então todos a seguiram até um grande portão negro sobre os pés de uma enorme montanha composta por rochas vermelhas que brilhavam como brasa.

Duas das criaturas aladas se posicionaram ao lado do grande portão, e o empurraram até abri-lo por completo. Todos presenciaram, escuridão e escuridão. De onde alguns instantes depois sobre uma espécie de elevador bem primitivo construído com madeiras e cordas, surgiram pequeninos seres de rostos emburrados cobertos por longas barbas. Em suas mãos seguravam picaretas, talhadeiras e pesados martelos de cabos alongados. Vestiam macacões azulados, e em suas cabeças usavam capacetes dourados com pequenas luzes acopladas na altura da testa.

- Anões da montanha! - Gritou a Sra. Frigga. - Levem-nos até o salão dos esquifes.

Com as costas da mão, um dos anões tapou a claridade que ofuscava sua visão já acostumada com a escuridão, e só assim viu quem era a mulher que com eles havia se pronunciado.

- Minha senhora! - Disse o Anão, prestando uma reverência. - Queira nos acompanhar. - Disse, e com as mãos deu sinal para que a Sra. Frigga seguisse adiante.

Apesar de primitivo, o elevador mostrou-se muito resistente quando todos subiram abordo. Um dos anões puxou uma alavanca de metal, as velhas engrenagens giraram e o elevador mergulhou na escuridão.

As Crônicas de Gaillardia As Crianças, o Unicórnio e o Bruxo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora