- Não seja ridícula. – murmuro prestando atenção nos meus pés em contato com o chão gelado – Não é como se eu estivesse me mudando de Oslo.
- Eu não sou estúpida, Mohn. – ela diz e eu sinto meus tímpanos explodirem com o tom de sua voz. – Assuma, você foge toda vez que alguma coisa te assusta.
- Me lembra o motivo de nós ainda sermos amigas, por favor. – grunho ofendida enquanto olho para as enormes portas de madeira no corredor.
Nada naquela casa me remetia a um lar.
Todos os corredores vazios e gelados que vinham acompanhados de um silêncio mórbido tornaram-se apenas parte de uma época macabra da minha vida.
-Eva? – a voz baixa de Noora preenche meu ouvido. – Eu sinto muito por toda essa merda.
- Eu também sinto. – sussurro estalando meu pescoço.
- A vida é fodida pra caralho. – minha melhor amiga murmura morbidamente e eu gargalho.
Ela não fazia ideia do quanto.
- Tente passar uma estadia na casa dos Mohn. – digo divertida e, mesmo distante, eu sabia que ela estava revirando seus enormes olhos claros.
- Não seja ranzinza. – ela diz e eu faço uma careta sabendo exatamente o que estava por vir. – Dê uma chance a sua cidade natal. Você está literalmente na cidade mais movimentada, animada e interessante de toda porra do mundo, e tudo que você faz é sofrer e reclamar?
Noora nunca fora sutil e eu estava estranhamente acostumada com isso. Mas havia algo em suas palavras que me atingira da pior maneira possível.
Durante meses eu havia empacado em uma parte de mim que não agradara ninguém.
– Você tá certa. – eu grunho mal humorada e ela gargalha – E eu te odeio por isso.
- Cala a boca. – ela diz rindo e eu choramingo. – Seja a garota que eu amo, Mohn.
- Eu não acredito no que meus lindos olhos estão vendo. – uma voz conhecida grita do meio da multidão e eu forço um sorriso girando meus calcanhares.
Eu realmente odiava Noora nesse exato momento.
A garota parada a minha frente sorri e eu a observo. Eu sabia exatamente quem encontraria quando, por algum tipo de milagre, decidi escutar Noora. Contudo, cada fibra do meu corpo parecia repelir aquela estranha volta no tempo. A bebida em sua mão, e o manolo em seus pés fazem minha espinha estremecer.
Era como olhar pra porra do meu reflexo de alguns anos atrás.
A morena arqueia as sobrancelhas enquanto me analisa e eu sinto meu corpo gelar. Reviro os olhos e ela sorri angelicalmente. Mas eu a conhecia bem o suficiente pra saber que nada em sua postura era real. O tom doce, toda aquela grife usada e o rosto angelical eram apenas um grande disfarce. Ela era o diabo encarnado.
- Você sabe o que dizem, certo? - murmuro entediada e ela arqueia uma de suas sobrancelhas perfeitas - Esse lugar não é nada sem mim.
- Sabe, eu sempre soube que em algum momento você voltaria para a realidade. - ela diz andando em minha direção e eu bufo. - Não seja uma vadia ingrata. Vem, vamos encher a cara.
Vicky segura uma de minhas mãos e me puxa em direção ao bar. Alguns olhares recaem sobre nós e eu jogo minha cabeça pra trás enquanto algumas pessoas cochicham.
- Ignora isso.- Ela diz levantando a mão e chamando o barman - Algumas pessoas não superaram o fato de você ter largado tudo para viver um conto de fadas, só que ao contrário. Mas eu tenho uma coisa que vai resolver...
- E o que seria?
- Deus, a quanto tempo você não vive decentemente? - arqueio as sobrancelhas enquanto Vicky olha em direção ao barman parado ao nosso lado - Tequila.
O homem sorri para nós duas antes de girar os calcanhares e andar em busca de uma garrafa de tequila que eu reconheceria de longe. Ele para novamente ao nosso lado, pondo dois copos e enchendo com a bebida.
- Boa sorte. - ele murmura divertido antes de sair e eu rio morbidamente.
Eu precisaria.
- Olha pra você. 5 minutos nessa cidade e já está tendo toda a atenção. Eu tinha me esquecido de como tudo isso funcionava.- ela murmura antes de virar sua bebida e eu sinto o tom amargo impregnar o ambiente - Então, me conte sua história.
Forço um sorriso antes de virar minha bebida e levantar a mão chamando novamente o garçom. Ele arqueia as sobrancelhas de forma divertida e enche nossos copos novamente, deixando a garrafa ao lado. Olho em direção a Vicky novamente e ela me encara de forma inquisitiva.
- Nada que você já não saiba. - digo e ela bufa revirando seus enormes olhos.
- Não me espanta que você tenha fugido.- ela diz olhando para suas unhas - Algumas pessoas precisam correr o máximo que podem para não terem que olhar pra si mesmas.
Ela estava puta.
Eu reconheceria aquele tom e mágoa a milhares de km. Quando decidi voltar para Oslo, eu havia deixado muitas coisas para trás. Eu havia me deixado para trás. Eu havia deixado ela.
- Você está certa. - digo e ela desvia seu olhar em minha direção - Eu não sou boa com toda essa coisa de sentimentos, okay? Mas eu sinto muito por tudo que eu fiz.
- Águas passadas. - ela diz pegando a garrafa de tequila e eu faço uma careta sabendo que ela não havia superado isso. - Eu não preciso de ninguém que não queira estar comigo. Agora me diga, o que aconteceu naquela cidadezinha que te fez voltar tão desesperadamente?
- O de sempre. - digo pegando a garrafa de sua mão e tomando um gole, ignorando seu comentário sobre Oslo - Amor.
Vicky gargalha como se a melhor piada de todos os tempos acabasse de ser contada. Franzo o senho sabendo que nada nela havia mudado.
- Tudo bem, aqui vai o que eu acho sobre relacionamentos, - ela diz levantando um dedo e eu rio tomando outro gole de tequila. - Você precisa de alguém que te faça rir, alguém que você possa confiar mesmo de olhos fechados, e alguém que te foda da maneira correta. Mas o mais importante mesmo, é que essas 3 pessoas não se conheçam.
Gargalho sentindo a tequila em meu organismo e Vicky me acompanha.
- Você não é muito boa com essa coisa de conselhos. - murmuro enchendo meu copo e ela da de ombros.
- Que seja. - ela murmura divertida - Eu estou olhando pra você agora e eu posso ver uma coisa estranhamente familiar.
- O que? Nós usamos o mesmo rímel? - pergunto debochada e ela nega levantando seu copo enquanto me encara de forma estranhamente fascinada.
- Você realmente tentou, não é? - ela diz sorrindo e eu franzo o senho confusa- Ser parte de uma coisa melhor que isso aqui. Mas aqui vai algo sobre todos nós: não importa o quanto tentamos, ou corremos, nenhum de nós muda o que nascemos pra ser.
- Me diga algo que eu já não saiba. Eu sou uma Mohn. - sussurro morbidamente e ela me encara ainda fascinada. - Nós não temos finais felizes.
- Bem vinda de volta, vadia.
NOTA
Precisamos falar de resiliência. Eu nem sei com que cara aparecer aqui depois desse tempo todo, but here I am. Gente, eu sei que muitos de vcs esperam, e outras já desistiram. Sinto mt mesmo por não ter mais a coisa de postar sempre, então eu nem vou prometer nada. Agradeço a todo mundo que deu um apoio. Enfim, chegamos a 30k e 700. Vocês não tem NOÇÃO de como isso me motiva. Eu preciso mesmo que vcs comentem, conversem comigo, até me xinguem galera.
Ps: Vcs viram as meninas juntas ontem?
Beijo na aba esquerda da bunda 30k e 700
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Resiliência (ChrisxEva)
FanfictionAlbert Camus escreveu: "Abençoados são os corações que podem dobrar, eles nunca se partirão." Mas eu me pergunto... se não se partir não haverá cura, não havendo cura, então, não haverá aprendizado. E se não houver aprendizado... Então não haverá lu...