Capítulo 3 - Preparativos

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Tobias lambe as patas, dedicando uma atenção especial aos pelos que ocupam a região entre cada um dos dedos de almofadinhas rosas. Seu rabo balança sem pressa, deixando um rastro de pelos caídos pelo chão da sala.

Ele fareja os fios de cabelo de Michele, que se espalham pelo tapete, próximos à mão inerte que ainda encosta no copo deitado, cujo conteúdo desliza até a porta de entrada. No líquido escuro, já não e mais possível identificar a substância sonífera misturada anteriormente.

Tobias conduz as patas até o outro lado do cômodo e dá algumas voltas, observando os seis amigos inconscientes, que respiram compassadamente, procurando a melhor posição para se acomodar, apoiando finalmente a lateral da cabeça no tênis de Caio, cujo corpo adormecido, pende para frente da poltrona onde está sentado.

Lorena observa a cena satisfeita e acaricia as orelhas do gato, antes de subir as escadas de madeira, em direção ao quarto.

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UMA SEMANA ANTES

- Vai ser às seis, lá na casa da minha tia. – Renata termina seu lanche de peito de peru e queijo.

- Também conhecida como sua casa. – Samuel aponta.

- Isso. – O rosto de Renata se contrai em uma expressão de leve vergonha. – Ainda não me acostumei a chamar aquela casa de minha.

- Vai ter bolo? – Marcela pergunta.

- Vai ter bebida? – Gabriel pergunta.

- Tem que levar presente? – Samuel pergunta.

- Sim. Não. E sim. – Renata limpa as mãos com o guardanapo áspero da cantina da escola. – Acho que vou comprar um suco.

- Quer que eu compre pra você? – Caio prontamente levanta o rosto do livro que lê.

- Tudo bem. Eu consigo comprar um suco e voltar sem sofrer um acidente no caminho. – Renata ri, levantando-se.

- Cara, você nem disfarça. – Gabriel soca o ombro de Caio de leve, assim que Renata deixa a mesa.

- Disfarçar o que?

- Que você tá super a fim dela. – Marcela diz, sorrindo.

- Eu só estava sendo educado. – Ele volta o olhar para as palavras de Agatha Christie.

- Educada sou eu. – Michele acrescenta. – Eu shippo vocês!

- Caio e Renata... – Marcela pensa por um instante. – Caiata... Renaio...

- Renaca... – Michele experimenta outros nomes. – Carena.

- Argh, Carena é muito feio! – Marcela ri.

- Chega! – O rosto de Caio se converte em uma clara expressão de raiva, no momento em que ele levanta a voz.

Todos se calam, um pouco assustados.

Renata, enquanto espera sua vez na fila da cantina, termina de responder à mensagem da tia.

LORENA: Estou indo visitar uma amiga. Vou demorar. O almoço está na geladeira.

RENATA: Ok.

Renata já está habituada ao tom sempre frio e distante da tia, enquanto Lorena agradece pelo fato das conversas nunca ultrapassarem o indispensável.

- Você demorou! – Depois de espiar pelo olho mágico, Cornélia abre a porta, antes de voltar rapidamente para a bancada da cozinha. Lorena tira o casaco, deixando-o em cima do sofá, e tranca a porta ainda aberta, pensando nas novas rugas presentes no rosto da amiga, que há alguns dias não estavam lá.

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