Renata respira o ar puro da noite mais uma vez.
As estrelas ao seu redor são sua única companhia no terraço, portanto, ela decide voltar ao andar térreo da biblioteca e contar a descoberta aos amigos, tendo a certeza de que ali seria o local ideal para planejarem os próximos passos.
Empolgada, ela desce os degraus rapidamente, mas assim que seus pés deixam o último lance de escadas, a estranha agitação que mistura as vozes de seus amigos lhe devolve o sentimento de alerta e preocupação que havia lhe preenchido pelas últimas horas.
Batidas pesadas, escuras e fortes se sobrepõem às vozes dos estudantes que, conforme Renata observa, se ajudam para empurrar móveis pesados na direção da porta de entrada. As batidas se tornam mais agressivas conforme ela se aproxima, fazendo a maçaneta balançar vigorosamente.
- Elas estão tentando entrar! - Marcela percebe a confusão no olhar da amiga.
- Não vou lhes fazer nenhum mal! Eu prometo! - Uma única voz grita do outro lado. Renata não tem dúvidas de aquela é a voz de Lorena. - Estou sozinha.
- Uhum, e eu sou filho do Super-Homem! - Gabriel grita, sem deixar que o medo lhe tire a irreverência.
- Elas estão chegando, é melhor me deixarem entrar logo. Precisamos conversar! - A voz de Lorena, abafada por ter de se projetar através da porta e dos móveis acumulados, tenta soar inofensiva.
- Que história é essa? Você é uma delas! - Michele grita, inconformada com a dissimulação da mulher do outro lado da porta.
- É exatamente sobre isso que eu quero conversar. Descobri algumas coisas...
- Chega! - Samuel esbraveja, com a voz agressiva e decidida. - Enquanto meus pais não estiverem sãos e salvos eu não vou acreditar em uma palavra do que você disser!
- E se ela também tiver enfeitiçado nossos pais? - Caio pergunta, quase num choro.
- A única coisa que eu fiz foi mudar a fórmula do sonífero para vocês acordarem! - Lorena diz, enquanto continua tentando forçar sua entrada. - Vocês precisam me ajudar. Precisamos deter a Agnes!
- Essa história tá bem esquisita - Marcela diz, sem se deixar convencer por um segundo.
- Não está tão esquisita assim... - A colocação de Renata faz o grupo todo lhe encarar em expressões incrédulas.
- Tudo bem que ela é sua tia, Re. - Gabriel encerra os segundos de silêncio. - Mas você não pode ser tão ingênua a ponto de acreditar que a sua festa de aniversário não foi, na verdade, uma armação dessas bruxas nojentas para...
- Foi uma armação e eu tentei impedir. - Lorena começa a falar mais rápido, conforme percebe o aproximar do resto das mulheres às suas costas.
- Talvez a gente devesse dar uma chance - Renata diz, acreditando de fato na possível inocência de Lorena, ainda que com receio da desaprovação do grupo.
- Você só pode estar brincando... - Samuel joga as mãos para cima, como se desistisse de convencê-la do absurdo das últimas palavras.
- Renata - Lorena aproveita a confiança da garota. - Estarei junta das estrelas em alguns segundos. A chave verde tranca a porta da mesma cor. Tranque-a e fique com a chave em um local seguro. Se não acreditar em mim, pode me deixar presa do lado de fora. Eu prometo que não lhe farei nenhum mal.
Renata prontamente corre em direção à mesa principal, que ainda não havia sido utilizada como barreira, recolhe o molho de chaves e se volta na direção das escadas que subira há pouco.
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A Última Vela
FantasyMesmo depois da morte de seus pais, da mudança de casa e de escola, a festa de dezoito anos de Renata parece estar saindo exatamente como o planejado. Seus mais novos amigos se amontoam animados pelo chão da sala, aproveitando das comidas e bebidas...