Capítulo 18

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- Hoje é o último dia em que estamos em trégua. – Killian falou alto o suficiente para que toda a massa escura de soldados a sua frente o ouvisse – Nesta noite, façam amor com suas mulheres, abracem seus filhos, festejem com suas famílias, porque a partir de amanhã não saberemos se os veremos novamente. Não saberemos se voltaremos para casa, e se voltarmos, se os encontraremos sãos e salvos. Amanhã, mudaremos o futuro, portanto aproveitem o que em breve será passado. – ele tomou fôlego, levantando a espada no ar – Amanhã, partiremos com nascer rubro do Sol. Mataremos pela nossa pátria. Mataremos pelas nossas famílias. Mataremos para viver!

Um brado de guerra se fez ouvir na multidão. Espadas, arcos e escudos se ergueram sobre as cabeças, e a feição de vários homens se transformou em um esgar assustador frente os dias negros que os aguardavam. Coragem e bravura emanaram da aglomeração de soldados, e Jones, satisfeito, assentiu com a cabeça, erguendo sua espada às outras. O clamor durou vários minutos, e, ainda bradando, a multidão se dispersou aos poucos, vários homens passando por Killian e lhe expressando suas esperanças, lhe prometendo suas forças e audácias, confiantes de que nenhum francês passaria por suas defesas.

Jones enfim suspirou defronte um grande espaço de terra batida, e enfim guardou sua espada. Encarou o chão pensativo. Centenas de milhares de homens estariam indo à guerra sobre sua responsabilidade, não poderia deixar que nada acontecesse à sua pátria enquanto ele estava em tão alto cargo.

Um tanto taciturno, ele se virou e se encaminhou com David e Earl de volta à sede bélica. Assim que adentraram as portas duplas, Jones ignorou todo o movimento que havia ao redor dele. Armas e armaduras sendo organizadas, ordens sendo dadas e obedecidas, a poeira que subia em espirais a partir das centenas de pés sobre o chão... Jones rumou diretamente para uma minúscula sala ao final do recinto, e lá se jogou sobre a cadeira de madeira, apoiando os dois pés sobre a mesa em frente.

Embora a batalha que nem de longe sua primeira batalha. Não era como se ele fosse um iniciante no ramo. Então por que estava tão apreensivo, irrequieto e soturno?

Nesse momento David adentrou a sala. Parou por um momento na porta observando o amigo. Mas não perguntou nada, apenas murmurou com uma voz rouca:

- Mandaram te avisar que todos estarão na Taberna do Ned depois que o Sol se pôr. Você sabe... uma última despedida de tudo o que conhecemos antes de amanhã... – David fez uma pausa esperando que Jones respondesse, mas como não o fez, ele finalizou em um murmurar – Eu acho seria algo bom a você... E a todos os soldados, você realmente os motivaria se aparecesse por lá.

Apesar de nada a dizer, Killian levantou o rosto para o amigo e se limitou a assentir. Mas quando David se retirou, Jones jogou a cabeça para trás, a apoiando no espaldar da cadeira e mirou o teto. Permaneceu daquele jeito por um longo tempo até ver que a luz do Sol já havia desaparecido há muito.

Não iria para a Taberna do Ned, jamais precisara de tal conselho. Ele tinha outro tipo de terapia que se intitulava Emma.

Não foi difícil acha-la. A cidade estava vazia. Os soldados estavam em casa aproveitando suas famílias, ou na taberna, bebendo e escolhendo uma mulher para se passar a noite uma última vez. Emma estava observando de longe uma roda de música e dança ao lado da Taberna. Killian reconheceu Trist no meio da roda, rindo um tanto alterado e apalpando o traseiro de uma dançarina. Jones desviou os olhos para observar a reação de Emma à tudo aquilo e viu a mulher franzir a sobrancelha, um instante depois desviando os olhos.

Seu olhar recaiu sobre os pés de Jones. Ela levantou o rosto e seus olhos se comunicaram. Apenas assim. Desnecessário um aceno de cabeça, uma piscadela, sobrancelhas arqueadas... Tudo havia acontecido numa fração de segundo, em apenas um olhar. Jones virou as costas e andou calmamente até onde havia deixado seu cavalo, estrategicamente na lateral de um armazém sem janelas, por onde ninguém perambulava no momento. Alguns minutos depois Emma apareceu vindo pelo outro lado do prédio. Um olhar muito sereno dançava em seu rosto, e durante alguns segundos Jones não disse nada, apenas a fitou em silêncio.

If Tomorrow ComesOnde histórias criam vida. Descubra agora