Capítulo 17

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FRANK

O general francês possuía uma barbicha que chegava quase ao seu pomo-de-adão. Apresentava o físico de alguém que havia sido preenchido pelos mais rijos músculos em idades passadas, mas aos longo dos anos tais músculos foram se afrouxando consideravelmente. Seus olhos negros carregavam um rigor contido, e seu andar era calmo e calculado. Gritos e insultos eram ouvidos durante seu progresso pela fria e suja masmorra. Ignora-los já era mais que hábito.

A última cela era uma das dez solitárias que a prisão possuía. A porta de ferro rangeu quando o general a destrancou e a abriu. Esfarrapado e mórbido, o preso ergueu os olhos. Ele estava em pé, com os pulsos acorrentados pendendo dos dois cantos da parede, sujo, e embora magro, ainda possuía músculos rígidos saltando das roupas em farrapos. Um par de olhos, outrora jovem, encarou o general por trás dos cabelos bagunçados.

- Swan. – o general chamou com um sorriso quase sincero.

A resposta foi um olhar mal humorado desviado.

- Acho que já passou tempo suficiente nesta cela para repensar seus atos... o que acha?

Frank permaneceu em silencio sem se dar o trabalho de fitar o general.

- Estarei te removendo da prisão esta tarde, e temos uma reunião com o Rei Rodrik amanhã cedo – eu, você, o Rei, e todo o conselho de guerra.

O rapaz acorrentado ainda não desviou o rosto, mas suas sobrancelhas se curvaram em surpresa e uma semente de medo brotou ao fundo de seu estomago.

Não respondeu. Já havia aprendido que de nada adiantava suas respostas, suas opiniões, seu antigo cargo, o nome de sua família... Desconfiava até que sua vida já não adiantava até Kauffman aparecer ali.

- Trataremos para que esteja apresentável ao conselho, e voltaremos a nos ver esta tarde para uma conversa particular. – ele lhe deu um sorriso penoso – Só você e eu. – e virou-se para sair.

Vieram buscar Frank algumas horas depois. Ele não se moveu, não olhou o rosto de seus carcereiros, não emitiu grunhido algum; apenas se deixou ser levado.

Foi lhe dado uma ceia, um barril para se lavar e roupas novas e limpas. Fez o que lhe foi mandado e se manteve calado e sentado – com pulsos e tornozelos acorrentados – esperando pelo que viria.

Era quase noite quando o general Kauffman reapareceu. Não possuía mais o ar de superioridade, parecia cansado e desanimado. Sem falar nada, ele caminhou até o banco de ferro em frente Frank e se sentou com um suspiro.

- Frank – ele começou e o rapaz ergueu o rosto, olhando em seus olhos pela primeira vez no dia – vou ser bem direto e honesto com você esta noite. – o mais novo assentiu desinteressado e esperou. – É muito triste termos chegado a essas situações. Seu pai era meu amigo, eu vi você e sua irmã crescerem, eu esperava o dia em que seu pai seria nomeado o meu superior... e no entanto chegamos aqui. – Kauffman suspirou mais uma vez. – O Rei Rodrik reivindica a sua presença nas tropas que marcharão para a Inglaterra nas próximas semanas.

Frank o olhou descrente, com uma raiva surgindo fraca em algum lugar do corpo.

- Não lutarei pelo homem que matou meu pai. - sua voz saiu rouca devido a falta de uso – Não lutarei por um Rei que não sabe o que faz, que não sabe governar seu próprio povo.

- É verdade que o país está passando por uma fase turbulenta... – Kauffman assentiu olhando para o chão - Mas o Rei acredita que uma vez que fizermos a Inglaterra se curvar a nós teremos um maior território para cultivar, permitirá que a França cresça mais e que possamos colocar um fim à tormenta de nosso povo.

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