(Aria) Capítulo 10

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É com o coração aos pulos que desligo a chamada. Não esperava que ele dissesse isso. Nem um pouco.
"Quero transar com você de novo".

Bem, é claro que ele quer. Sou incrível na cama. Mas de jeito nenhum vou dormir com esse cara de novo, não depois de ter passado o dia me sentindo a própria Hester Prynne. Só que a autocrítica com que estou me atacando é bem mais contundente do que qualquer coisa que a pobre sofreu na mão dos puritanos.
Nossa, não fui feita para sexo casual. Me sinto...Profana.O que é ridículo, porque
se alguém foi profanado ontem foi Henrique. Não só o seduzi, como o amarrei e montei
em cima dele como se fosse meu próprio parque de diversões.

Sou uma piranha.- digo a mim mesma

Você não é uma piranha.Tá, talvez eu não seja. Talvez seja só uma mulher de vinte e dois anos que se divertiu sem compromisso uma vez na vida.O único problema é que gosto de compromisso. Sexo e relacionamento andam
de mãos dadas para mim. Adoro ficar abraçadinha, ter piadas internas e ficar até
tarde conversando. Sou membro de carteirinha do Clube do Namoro e, depois de
ontem, posso dizer com sinceridade que o Clube do Sexo Casual é uma merda. A noite
foi incrível, mas a vergonha não vale os orgasmos.

Suspirando, jogo o telefone na almofada do sofá e pego o roteiro que estava lendo
antes de Henrique me interromper. A peça escrita por outro aluno vai ser meu trabalho
de conclusão de curso na Briar. Sou uma das duas protagonistas femininas e, embora
o material seja um pouco melodramático para o meu gosto, estou ansiosa para os ensaios. Desde a minha estreia no teatro em Boston, neste verão, fiquei com comichão para atuar na frente de uma plateia ao vivo de novo. O que é só mais um fator para contribuir com o meu estresse neste momento.Minha carreira está numa encruzilhada, e não tenho ideia de qual caminho seguir. Quando entrei na faculdade, pedi ao meu agente para se concentrar em só encontrar projetos de verão para mim. Seria muita tentação largar a graduação caso aparecesse um papel atraente, e eu queria o meu diploma. Agora que estou perto de me formar.

Ainda estou perdida em pensamentos quando o telefone toca. Dou uma olhada na
tela e, por um segundo, acho que é Henrique, até ler com mais cuidado e perceber
que é Paulo.

Paulo está te ligando, sua idiota.

É, talvez lidar com isso seja mais importante agora. Meu peito se enche de ansiedade. Não deveria atender. Não mesmo.

AtendO

ligação On

Paulo: Você tá bem? - são as primeira palavras
que ouço.

Aria: Tô. Por que não estaria?

Paulo: Passei no alojamento depois da aula ontem e você não estava. E mandei mensagens
a noite toda.

Aria: Eu sei.- Engulo em seco.Dormi na casa de uma amiga.

Aria: Eu disse que não queria ver você .

Paulo: Queria que você mudasse de ideia.

Paulo: Cacete, amor. Sinto sua falta. Sei que só faz dois dias, mas estou morrendo de saudade. Eu errei, tá legal? Já entendi tudo agora. Não devia ter dado um ultimato e definitivamente não devia ter dito que a sua carreira de atriz não vai dar em nada. Estava chateado e descontei em você, e você não merecia isso. Quando fui na sua estreia, em Boston, fiquei bobo. É sério. Você é muito talentosa, amor. Sou umimbecil de dizer aquelas merdas todas para você. Não quis dizer nada daquilo.

Aria: Paulo...

Paulo: Você é a pessoa mais importante da minha vida.

Aria: Paulo...

Paulo: Você significa o mundo para mim, e quero me enforcar por ter afastado você de mim. Por favor, linda, me dá mais uma chance.

Aria: Paulo é que...

Paulo: Sei que posso consertar tudo. Só uma chance, e...

Aria: PAULO CACETA!

Paulo: Amor?- pergunta incerto.

Minha garganta está incrivelmente apertada, quase como se estivesse tentando me impedir de dizer as próximas palavras. Mas a culpa está me ruendo por dentro.

Não posso simplesmente sentar aqui e ficar ouvindo Paulo implorar, não quando estou me sentindo desse jeito. Engulo de novo e forço minhas cordas vocais a funcionarem.

Aria: Dormi com outra pessoa ontem à noite.- a resposta é um silêncio ensurdecedor que se arrastar por toda a eternidade.

Aria: Você ouviu o que eu falei? -sussurro.

Paulo: Ouvi. -Nós dois ficamos quietos. A dor e a culpa continuam a apunhalar minhas
entranhas.

Paulo: Com quem? - O questionamento me assusta.

Aria: O quê?

Paulo: Quero saber com quem foi.

Aria: Não importa. Não vai acontecer de novo.Foi…-Respiro fundo.

Aria: Foi um erro estúpido. Mas achei que você deveria saber. -Ele não responde.

Paulo: Obrigado por me contar.-resmunga.
Em seguida, desliga.

Levo um tempo para afastar o telefone do rosto. Corro os dedos pelo cabelo, e minha mão treme incontrolavelmente. Nossa. Isso foi… brutal. Uma parte de mim se pergunta por que eu fui falar. Não pulei a cerca nem nada disso. Eu não tinha obrigação nenhuma de contar para ele. Na verdade, se tivesse ficado de boca fechada, podia ter poupado a dor que ele deve estar sentindo agora. Mas sempre fui honesta com Paulo, e uma parte burra e culpada de mim insistiu que ele merecia saber.

Um gemido angustiado escapa da minha boca. Meu coração está doendo de
novo. A culpa agora é ainda pior, um nó bem apertado esmagando meu estômago. Em vez de voltar para o roteiro, pego o iPod e coloco os fones de ouvido. Então puxo o cobertor até o pescoço e ponho “Wrecking Ball”, da Miley Cyrus, no
repeat, porque a música resume muito bem como estou me sentindo agora.
Destruída.

Continua....

O DESAFIOOnde histórias criam vida. Descubra agora