(Henrique) Capítulo 14

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Apesar de toda aquela baboseira de “o que passou, passou”, está na cara que meu ex-treinador está determinado a tornar a minha vida um inferno. O primeiro treino com o novo coordenador defensivo atrasou uma hora mas só para os defensores.Enquanto todos os outros iam para o vestiário para tomar banho, trocar de roupa e voltar para casa, O’Shea obrigou a defesa inteira a ficar para mais umas séries,isso depois de anunciar que somos os piores jogadores de hóquei que ele já viu.

Quando enfim nos dispensou, eu e meus colegas de time patinamos para fora do gelo, xingando e reclamando o tempo todo. No vestiário agora vazio, tiramos o equipamento, todos pingando de suor, a cabeça pegando fogo e o humor deplorável.

Logan: Decente, é?-pergunta cheio de sarcasmo, repetindo a descrição que fiz
ontem.

Henrique: Ele só estava mostrando que tem o pau maior que o nosso- murmuro.

Henrique: Deve ser o jeito dele de impor respeito.

Não, é o jeito dele de me punir por magoar sua filha, mas mantenho a informação para mim mesmo. Não porque O’Shea me mandou não discutir a questão com meus colegas de time, mas porque prefiro não ter que pensar na merda toda que aconteceu com Miranda.
Ironicamente, minha relação com Miranda O’Shea não só afetou minha vida escolar como também minha vida universitária. Ela é a razão pela qual hoje deixo bem claras todas as minhas intenções ou a ausência delas antes de qualquer envolvimento.

Tudo bem que, na época, também achei que tinha deixado tudo às claras,mas é óbvio que não fui tão explícito quanto deveria ter sido. Hoje em dia, faço questão de que as mulheres saibam exatamente em que pé estamos antes que suas cabecinhas se encham de fantasias sobre finais felizes.

Logan: Vai fazer alguma coisa no jantar?-pergunta quando chegamos ao vestiário.

Logan: Grace vai pegar comida chinesa na cidade e me encontrar lá em casa. Acho
que vai levar comida pra todo mundo.

Henrique: Ah, valeu pelo convite, mas vou sair com Maxwell. Não sei que horas chego em
casa.

A conversa termina assim que entramos em nossos respectivos boxes. Mal termino de ensaboar o saco, e Logan já desliga o seu chuveiro. Nossa. O cara tomou banho como se alguém tivesse apostado um milhão de dólares se ele era capaz de passar sabão e se enxaguar em menos de trinta segundos.

Logan:Até mais- diz, passando uma toalha pela cintura.

Sei que está ansioso para ver Grace, e, por algum motivo, isso provoca uma sensação estranha em meu peito. Não é bem ciúme. Nem ressentimento.

Decepção talvez?

Eu sei. Meus melhores amigos estão   apaixonados. Preferem ficar abraçadinhos e dar beijinhos em suas mulheres do que sair com os meninos, e não fico chateado com eles por isso, nem um pouco. A questão é que parece o começo do fim para nós. Depois que meu irmão mais velho se formou em Harvard, perdeu contato com os amigos de faculdade em poucos meses. Agora mal fala com os colegas de time que achou que levaria para a vida toda. E, com os amigos da faculdade de direito,troca e mails no máximo uma vez por mês.

Entendo que amigos se afastam depois da faculdade. As pessoas se casam...Se mudam... Fazem novos amigos e desenvolvem outros interesses. Mas odeio a ideia de não ter Gusttavo ou Logan ou Weslley na minha vida. Também odeio a parte cínica do meu cérebro que aponta para a inevitabilidade disso.

Ano que vem, vou para a faculdade de direito. Não vou ter tempo nem de dormir,quanto mais de rever os amigos. Gusttavo provavelmente vai mudar de cidade e jogar para algum time da Liga Nacional de Hóquei. Logan também, se der certo com o Providence Bruins, a equipe de base que já declarou interesse em contratá-lo depois da formatura. É só uma questão de tempo até ele ser chamado para um time profissional e se afastar também. E quem sabe o que Weslley pretende fazer depois da formatura? Até onde sei, pode voltar para o Texas.

Merda. Por que estou tão filósofo hoje? Talvez porque tem três dias que não faço sexo. Infelizmente, isso é muito tempo para mim, e meu saco não gosta. Culpa da Aria claro.

Xxx: Henrique!

Uma voz familiar me chama assim que deixo a arena. Vejo Kelly se pavoneando na minha direção, parecendo saída das páginas de um catálogo de roupas da Nova Inglaterra. Um cachecol vermelho e grosso envolve seu pescoço, e ela está de botas de couro marrom e um sobretudo cinza comprido. O cabelo louro está preso num coque bagunçado, com longas mechas emoldurando o rosto.

Está gostosa pra cacete, mas, sinceramente, não penso nela nem em Michelle desde que dormi com Aria. Ainda assim, não me sinto culpado de não ter ligado nem mandado uma mensagem, e Kelly não me censura por isso ao me cumprimentar com um abraço caloroso.

Como disse, hoje em dia as mulheres sabem em que pé estou. E, ironicamente, quando Kelly e Michelle se aproximaram de mim no Malone’s, vieram com o discurso do “sem compromisso” antes mesmo que eu abrisse a boca. Me disseram na lata que só queriam o meu pau, e fiquei muito feliz em satisfazê-las.

Continua....

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