Capítulo 12

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Trinta minutos depois, passo minha carteirinha de estudante no leitor da arena de hóquei, bebendo o café que peguei no caminho. O corredor largo está deserto, e
a sola do meu tênis faz um barulhinho contra o piso lustroso à medida que caminho até os fundos do edifício. Passo pelas salas de aula e de projeção, a cozinha e o salão de musculação, por fim atravesso o imenso salão de equipamentos. A arena é de última geração. Chad Jensen podia ter escolhido entre meia dúzia de escritórios grandes e confortáveis, mas por algum motivo ele preferiu uma sala  modesta e escondida perto da lavanderia. Bato à porta e só abro depois de ouvir o treinador gritar: "Entra". O último
jogador que entrou sem bater levou uma bronca que deu para ouvir lá dos chuveiros.

Gosto de pensar que o treinador usa seu escritório para bater punheta e que é por isso  que insiste tanto em privacidade. Logan tem uma teoria de que ele abriga uma família secreta na sala que só pode sair nas altas horas da madrugada. Logan é um idiota.

Henrique:Oi, treinador. Você queria me ver...

Paro assim que percebo que não estamos sozinhos. Não costumo me surpreender com facilidade. Sou o tipo de cara que nada com a maré, o que significa que é preciso muito mesmo para me assustar. Neste momento, a única maré com a qual estou nadando é a onda de ansiedade se espalhando pelo meu sangue e infiltrando meus ossos.

FrankO'Shea se levanta da cadeira de visitas e lança seu olhar gélido sobre mim.
Desde o último ano do ensino médio que não o vejo, mas ele não mudou nada. O cabelo raspado e escuro, o corpo atarracado, a boca severa.

Frank: Salvatore.- diz, com um breve aceno de cabeça.

Henrique: Treinador O'Shea -Jensen olha de mim para ele e vai direto ao que interessa.

Jensen: Henrique, Frank está entrando na equipe como nosso novo coordenador defensivo. Ele me repassou o
histórico de vocês na Escola Preparatória Greenwich.-o treinador faz uma pausa.

Jensen: Achei melhor vocês resolverem seus problemas antes do treino de amanhã.

Nem imagino o que O'Shea tenha dito sobre o nosso "histórico". O que quer que  tenha sido, sei que, além de ser mentira, foi desfavorável para mim, porque aversão
de O'Shea da história é tão distorcida que faz as matérias do National Enquirer parecerem trabalhos acadêmicos muito bem pesquisados. O treinador Jensen caminha até a porta.

Jensen:Fiquem à vontade.

Droga, ele está deixando a gente sozinho?Seria bom ter uma testemunha caso O'Shea tente alguma coisa. Afinal, o cara deu um murro num dos próprios jogadores no estacionamento vazio de uma escola secundária. Eu tinha dezoito anos na época. Não denunciei, porque entendi os motivos dele, mas isso não significa que esqueci...

Ou que perdoei.

O'Shea não fala nada até a porta se fechar atrás do treinador.

Frank: Então. Tem algumproblema aqui?

Henrique: Me diz você.- E me forço para acrescentar: "Senhor".

Frank: Estou vendo que ainda é o mesmo espertinho insolente de quando treinava comigo.

Henrique: Com todo o respeito, senhor, faz cinco segundos que entrei aqui. Não acho que o senhor possa fazer esse julgamento.- Meu tom é educado, mas, por dentro, estou fervendo. Odeio esse homem, o que é uma ironia e tanto, porque teve uma época
em que eu o adorava.

O DESAFIOOnde histórias criam vida. Descubra agora