Capítulo 16

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O segundo jogo da temporada é um desastre absoluto. Não melhor dizendo, é um banho de sangue. Seguimos em fila até o vestiário no mais absoluto silêncio, a humilhação da derrota nos seguindo feito uma nuvem negra. Foi o mesmo que baixar as calças, mostrar a bunda e pedir uma surra. Demos o jogo de bandeja para o outro time. Não, demos uma goleada de bandeja.

Tiro a camisa, repetindo mentalmente cada segundo do jogo. Os erros que cometemos esta noite estão todos gravados na minha mente. Perder é uma merda...Perder em casa é pior ainda. Droga, vai ter muito torcedor chateado no Malone’s hoje. Não estou ansioso para ver ninguém, e sei que meus colegas de time estão no mesmo clima. Nenhum deles mais do que Alex, que arranca o uniforme às pressas, como se estivesse coberto de formigas assassinas.

Henrique: Você fez bons disparos ao gol hoje.-digo a ele, e é verdade. Perdemos de zero,mas não foi por falta de tentativa. Jogamos duro. Só que o outro time jogou mais forte.

Alex: Teria sido melhor se um deles tivesse entrado.-resmunga ele.

Henrique: O goleiro estava uma muralha hoje. Nem o Gusttavo conseguiu dobrar o cara.

Nesse momento, Gusttavo se aproxima do armário e é rápido em tranquilizar o calouro de cara amarrada.

Gusttavo: Não esquenta. Ainda falta muito hóquei para jogar nesta temporada. Vamos recuperar.

Alex: É Claro.- Alex não está convencido. Mas o nosso momento motivacional não dura muito, porque o treinador Jensen entra no vestiário a passos largos, seguido por FrankO’Shea.

O treinador não perde tempo em oferecer um dos seus breves discursos pós-jogo. Como de costume, é como se tivesse uma lista de itens a cumprir.

Jensen: Perdemos, é uma merda. Não deixem isso afetar vocês. Só significa que temos que trabalhar mais nos treinos e jogar com mais garra na próxima partida.-Ele acena para todos e vai embora.

Eu poderia até imaginar que está com raiva da gente, não fosse pelo fato de que seus discursos depois de uma vitória seguem praticamente a mesma linha:Ganhamos. É muito bom. Não deixem isso afetar vocês. Vamos continuar trabalhando pesado nos treinos e ganhar mais partidas. Se algum dos calouros estava esperando que ele fizesse discursos motivacionais épicos no estilo Kurt Russell em Desafio no gelo, vai ficar muito
decepcionado.O’Shea permanece no vestiário. Meus ombros se tensionam instintivamente quando o homem se arrasta na minha direção, mas ele me surpreende ao dizer:

Frank:Boa cobertura na zona defensiva hoje. Você foi uma parede no segundo período.

Henrique:Obrigado.

Ainda estou desconfiado com o elogio inesperado, mas ele já seguiu em frente e foi elogiar Logan por ter controlado bem a desvantagem numérica do terceiro período. Jogo meu equipamento numa das enormes caixas de lavanderia, então sigo para os chuveiros para expurgar o fedor de derrota do corpo. Odeio perder, mas não me permito chafurdar na questão por mais que dez minutos.

Meu pai me ensinou o truque quando eu tinha oito anos, depois de uma derrota particularmente desmoralizante numa partida de lacrosse.

Pai: Você tem dez minutos.- avisou ele. -Dez minutos para pensar no que fez de errado e em como está se sentindo agora...Pronto?

Com um relógio na mão, ele apertou um botão e me cronometrou, e, por dez minutos, meditei e fiquei emburrado, remoendo a humilhação. Lembrei dos erros que cometi em campo e os corrigi na minha cabeça. Me imaginei socando cada um dos jogadores adversários na boca. E aí meu pai me disse que meu tempo tinha acabado.

O DESAFIOOnde histórias criam vida. Descubra agora