Mórbida Macieira

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Caminhava no rochoso pavimento,

Triste e lento. Na deserta rua

Iluminada, cintilante à luz da lua

Que brilhava em meu pensamento.

Arvoredos robustos no avistamento

Salvo a longínqua árvore nua


Tão bela a planta cadavérica

Me atrai com seu feitiço sombrio

Envolvendo-me na névoa, ébrio

Co'a pávida beleza quimérica!


A Escuridão torna-se o alento

Bebendo eu o sumo da parreira

Vejo o tronco magro e alvacento

Tal qual o porvir da fogueira

Mil galhos, co'o gume sedento

Por minha morte derradeira!


Sento-me na sebe entristecida

Tão cinzento que mal-via

De tristeza envolvida

O amálgama da melancolia


Do topo da árvore cai algo

Rubro, vermelho, umbroso carmesim

De botões na fronte, salvo

Seu lânguido sorriso pavoroso

Cabeça de olhar tenebroso

Que olhava diretamente para mim


Assusto-me com o rubro semblante

Ainda assim, do crânio me aproximo

Como a morte na beleza inebriante

Sussurrou o morto, "tu és o próximo!"

Poesia: Para Quem Sabe SofrerOnde histórias criam vida. Descubra agora