Capítulo DEZ - Dias maravilhosos ao fim

35 0 0
                                    



Quando algo nos faz bem, queremos que seja eterno, que nunca acabe. No entanto, mais triste do que a realidade é a vida sem sonhos. Infelizmente a semana passou depressa para Ágata. Foram sete dias maravilhosos em Angra dos Reis, momentos únicos e inesquecíveis. O fato de estar naquele paraíso já era bom, mas ter conhecido Andrew fora, de longe, o melhor presente que a vida lhe dera. Vida não, Deus. Acreditava sinceramente que essa amizade era uma dádiva do Criador, enviada no tempo certo. Mas agora uma tristeza profunda a havia dominado, assim como uma tempestade no verão.

Enquanto arrumava as malas, ficou imaginando como seria dali para a frente. Teria de voltar à sua rotina agitada, ouvir as ordens de sua mãe, limites no que fazer, comer, vestir, respirar, enfim, o de sempre.

Parecia ter vivido um sonho e agora teria de acordar e encarar a realidade, mas havia um problema: não estava preparada para isso. O que realmente queria era continuar ali, levando uma vida tranquila ao lado de Andrew, ou quem sabe, viajar para a Amazônia e explorar aquele lugar, conhecer as plantas, os animais, sentir o ar fresco e a alegria que só a vida simples pode propiciar. Que loucura! Conhecia Andrew havia sete dias e já queria viver o resto de sua vida ao lado dele? Não que estivesse apaixonada, apenas gostava de sua companhia, da forma como a ouvia e a compreendia sem julgar, das frases bonitas que dizia, daqueles olhos verdes encarando-a com afeto, da voz firme e ao mesmo tempo calma que fazia seu coração parecer uma bateria de escola de samba. Era só isso. Nada de paixão. Pelo menos, esse era o argumento que usava consigo mesma toda vez que pensava nele. Está bem, pensou ela se olhando no espelho, tudo isso é consequência de ter passado muito tempo com ele. E se apegar rápido demais a alguém é normal, ainda mais quando a pessoa é o Andrew.

— Será que apenas eu estou feliz de voltar para casa? — Perguntou Cris, encostada à ombreira da porta, com os braços cruzados, sabendo exatamente qual seria a resposta. Ágata apenas a olhou com uma das sobrancelhas levantada.

— Veja pelo lado bom, esses dias aqui em Angra valeram a pena.

— Sim, mas infelizmente acabaram. — Ela saiu da frente do espelho e sentou-se em sua cama com os ombros caídos. — E agora, o que será da minha vida? Será que vou suportar voltar para aquela mansão? Voltar para aqueles desfiles chatos? Ir a aqueles eventos cheio de pessoas hipócritas e egoístas?

— Consegue sim. Você sempre conseguiu, por que não conseguiria agora? — Sentou-se ao lado dela. — Eu te admiro muito, minha amiga, você é muito forte. Porque, para fazer o que você faz, mesmo sem gostar, exige muita força.

— Que força? — Passou as mãos pelo rosto ao mesmo tempo em que respirava fundo. — Se eu realmente fosse alguém forte, já teria colocado um fim em tudo isso. Estaria fazendo o que eu realmente gosto, seria eu mesma e não um reflexo do que a minha mãe é ou quer que eu seja. Sabe Cris, esses dias que passei com o Andrew me fizeram ver como eu seria mais feliz se fizesse minhas próprias decisões na vida. Pude ver como tenho desperdiçado meu tempo procurando fazer aquilo que agrada minha mãe. E para qual finalidade? Para deixá-la mais rica, manter o império de glamour que ela mesma construiu. Será que eu não tenho o direito de construir o meu próprio império? De ter o meu próprio glamour?

— Eu te entendo. — Cris olhou para a janela, procurando as palavras certas a dizer. — Mas tente olhar pelo lado bom.

— E você acha que tem lado bom?

— Tudo na vida tem. Minha mãe sempre costuma dizer que depende de como encaramos as coisas. Podemos escolher ser felizes ou tristes, mesmo em qualquer situação. Basta olharmos de modo positivo.

Essas palavras fizeram Ágata se lembrar de Andrew. No tempo em que estivera com ele, sempre ouvia algo positivo. Frases que pareciam vir de um livro de autoajuda. Talvez, ele fosse sua autoajuda. A saudade começou a apertar-lhe o peito ao mesmo tempo em que se sentia uma boba, pois havia passado o dia anterior inteiro com ele e já estava com saudades.... Como assim?

— Você tem razão Cris. Mas não posso continuar a suportar isso. Eu preciso ter coragem e fazer as coisas serem realmente positivas, não apenas olhar como se fossem.

— Mas você conseguirá. Só espere o tempo certo, não queira fazer isso de modo precipitado, pois em vez de se libertar você poderá se enrolar. Você conhece sua mãe, sabe como ela é. Acredito que não quer magoá-la ou decepcioná-la.

Ágata a olhou com gratidão. Por mais que sua vontade fosse chegar à mansão, falar tudo que estava entalado na garganta e sumir do mapa, sabia que o conselho de Cris era mais sensato. Era realmente necessário aguardar o tempo certo. A maioria das coisas que é feita no impulso não dá certo.

— E o Andrew? Já se despediu dele?

— Ainda não. — Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Marcamos de olhar o pôr do sol hoje.

— Que romântico! — Juntou as mãos, sorrindo. — Você ainda diz que não está rolando um clima entre vocês....

— Para Cris! — Disse sorrindo. — Não tem nada de romântico e nem clima rolando. É que da ilha daqui de trás têm uma vista privilegiada do pôr do sol. Ele me disse que é lindo! E quando eu fui lá, não deu tempo de ver. Por isso, decidimos ir hoje. Se quiser, pode vir com a gente.

— Você sabe que não gosto de estragar encontros românticos! — Ágata a chamou de boba. — Estou brincando com você. — Ficou séria. — Mas verdade seja dita, nunca te vi tão feliz como durante esses dias. Acho que o Andrew te faz muito bem.

— Ele é uma pessoa maravilhosa! Diferente dos "amigos" homens que eu tenho. — Revirou os olhos. — Se é que posso chamar aqueles oportunistas de amigos. — Lembrou-se de relance de um modelo que fingiu ter um relacionamento com ela apenas para conseguir mídia, postando uma foto deles no Instagram com uma legenda romântica. Ridículo, eram apenas amigos e depois disso, com certeza, Ágata colocou um fim na amizade. Isso a deixava irritada. — Eu percebo que o que importa para ele é a minha amizade, não o status. Pena que você não quis sair conosco, sua chata.

— Como não? Ontem almoçamos os três juntos, esqueceu? Além disso, quis que vocês tivessem a oportunidade de se conhecer melhor. Porque, se eu estivesse junto o tempo todo, seria o centro das atenções — brincou.

— Tem hora que eu não aguento o seu ego inflado! — Apertou suas bochechas. — Pessoa fofa do meu coração.

Cris sabia que um sentimento diferente estava crescendo no coração de sua amiga, por isso evitou sair com eles. Pôde perceber, no curto tempo em que esteve com Andrew, que ele era alguém sincero e que realmente queria o melhor para Ágata. Notou, inclusive, que fariam um belo par. Torcia para que realmente pudessem ficar juntos. Ágata merecia uma pessoa como Andrew que, com toda a certeza, lhe daria forças para prosseguir e ser realmente feliz. Além disso, teriam filhos lindos, idealizou Cris.

Ao mesmo tempo em que se alegrava com isso, Cris sabia que nem tudo seria um mar de rosas. Se esse romance fosse mesmo acontecer, Ágata teria que vencer outro obstáculo, talvez o maior de todos em sua vida: a opinião de sua querida mãe. Na verdade, Gisele não aprovaria esse relacionamento. Andrew definitivamente não passaria no seu padrão de qualidade. Que horror! Imaginou Cris, desde quando escolhemos a quem amar?

Tudo bem, não tocaria nesse assunto com a Ágata, deixaria que as coisas se desenrolassem naturalmente. Às vezes, é necessário enfrentar um obstáculo por vez, para só depois conseguir vencer os próximos que virão. E esse seria apenas mais um diante dos demais que Ágata já vencera, ou pelo menos desistira. 

Glamour Entre o Amor e a VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora