Capítulo QUATRO - A incompetência de alguns

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Gisele nunca esteve tão irritada em toda sua vida! Simplesmente não podia acreditar na incompetência dos seguranças da mansão e, pior ainda, nos rios de dinheiro que todo mês era obrigada a gastar com eles, tudo em vão.

"Infame!", esbravejava toda vez que se lembrava das fotos que o maldito paparazzo havia tirado. O que aconteceria com sua reputação se as fotos fossem publicadas? O que diria ao mercado publicitário? O que seria da sua nova coleção?

Estava simplesmente petrificada, em estado de choque, por longos minutos se manteve parada, olhando atentamente para a câmera fotográfica que estava em cima da sua mesa de cristal. Já tinha dito tudo que queria dizer, gritando o mais alto que podia, enfim, feito um verdadeiro "barraco". Só não demitiu todos os seguranças por causa do seu marido, que não permitiu, apelando para o bom senso.

Mesmo sendo uma ocasião séria, Ágata simplesmente não conseguia controlar a vontade de sorrir. Nunca tinha visto a mãe daquele jeito: Sentada na cadeira executiva de couro, com os cabelos ruivos assanhados, embora estivessem cortados elegantemente em estilo Chanel, bem semelhante ao usado por Victoria Beckham anos antes — aliás, sua mãe era amicíssima dela. Cômico era a cara de enterro dos seguranças e de Gérson, todos olhando para Gisele, parados, sem dizer uma única palavra, embora vontade não lhes faltasse. Mas depois de tudo que ouviram, era impossível não sentirem medo até de respirar.

— Por que não trazem logo o colchão e o cobertor e dormem na minha frente? — Perguntou Gisele com sua incrível arte de ser irônica. — Em vez de ficarem parados me olhando com essa cara de tacho, reforcem a segurança da mansão, conversem com o administrador do condomínio; enfim, resolvam essa situação. Eu não quero que esse tipo de coisa aconteça novamente. Sumam da minha frente!

Graças a Deus! Achei que teria que ficar aqui o resto da minha vida nesse silêncio ensurdecedor, pensou Ágata saindo do escritório com os demais.

Gisele precisava ficar sozinha. Se fosse para explodir novamente, preferiria que não houvesse ninguém por perto. Não queria contribuir para a sua fama de mal-humorada, chata, antipática ou até mesmo de Malvina Cruela. Não concordava com as definições; tudo bem que às vezes exigia demais das pessoas, mas eu sou uma sobrevivente, apenas isso, repetia para si mesma diversas vezes.

Levantou-se da cadeira em passos lentos e foi até a mesinha ao lado, onde repousavam algumas fotos de quando era mais jovem. No centro, em absoluto destaque, ficava uma fotografia da premiação de Miss Universo 1990. Fechou os olhos e começou a se lembrar de todos os sacrifícios que havia feito durante a vida. Não havia se tornado quem era da noite para o dia. E não deixaria que ninguém estragasse o que ela construíra com tanto esforço.

Ao abrir os olhos e encarar aquela fotografia, conseguia lembrar-se de cada detalhe que antecedera aquela premiação. Um remorso surgia-lhe como um lembrete, rasgando seus sentimentos.

Naquela época, havia uma grande pressão para ganhar aquele concurso de beleza, ser Miss Universo era e é até hoje o sonho de muitas modelos. Porém, como vencer tantas concorrentes de todo o mundo? Mesmo sendo a queridinha do júri, havia, na época, uma modelo que a ameaçava. Sim, era brasileira e a conhecia havia muitos anos. Roubou vários dos meus patrocínios, ela se lembrava, e por isso teve que tirá-la do seu caminho, pois facilitaria sua consolidação no mundo da fama. E, para isso, sua rival simplesmente teve de desaparecer. Não foi a primeira e nem a ultima vez que faria isso com alguém.

Desde a adolescência repetia para si mesma que pagaria qualquer preço para subir na vida, mesmo se fosse necessário passar por cima de muitas pessoas com um trator, e foi com esse pensamento que ela conseguiu superar a vida difícil da qual preferia deixar no passado, pois era nada mais do que isso: passado.

Entretida, assustou-se ao ver seu celular vibrar em cima da mesa de cristal. Ao olhar no visor, viu que se tratava do diretor da revista Dia a dia. Ele não era simplesmente alguém que havia conhecido por aqueles dias, era um fantasma do seu passado sombrio.

Revirou os olhos e soltou um suspiro zangado. Tenho que realmente atender esse velho chato e oportunista, resmungou para si.

— Pensou direitinho sobre o que conversamos ontem? — Ele perguntou sem delongas.

— Sim. — Fez cara de tédio.

— Já tem alguma resposta?

— Não tenho outra opção. Então, você já sabe da resposta. Só falta comunicar minha querida filha.

— Ótimo! E espero que não dê para trás, pois você sabe que já lhe ajudei muito no passado.

— Não precisa me lembrar. Infelizmente não posso apagar isso da minha vida. Ágata passará uma semana em Angra dos Reis e quando ela chegar... acertarei tudo e te avisarei. Ok?

— Seria ótimo se ele fosse para Angra com ela, assim já notificaríamos a imprensa.

— Isso não dará certo. Ela pediu para fazer essa viagem para descansar e não quero estressá-la mais do que já está. Primeiro porque, quando ela souber que terá um novo namorado, não gostará nada disso; segundo, tenho que conhecer esse seu neto para aprová-lo. Não quero minha filha namorando qualquer um.

— Ela ainda não se acostumou com namoro de fachada? Faça-me favor, você mima muito essa garota. E mesmo que você não goste dele, não se esqueça de 1990. Você é o que é em grande parte graças a mim.

— Lourenço, pode deixar, eu sei como resolver, please? Agora, tenho que desligar. Estou muito ocupada. Tchau! — Desligou sem deixar que ele respondesse.

Em seguida, sentou-se na cadeira executiva e, passando as mãos pelos cabelos, ficou pensando em sua falta de sorte. Não bastava o problema com o paparazzo, agora teria de resolver a questão da chantagem. Tinha que fazer esse favor ao neto do Lourenço, só assim o rapaz conseguiria fama. Afinal de contas, seria notícia em todas as revistas e muitos programas de fofocas iriam querer uma exclusiva com o novo affair de Ágata Fernandes. O único problema era que ainda não o conhecia. Tem que ser bonito! Pensou Gisele.

Ainda teria que convencer a dramática Ágata... começou a imaginar o escândalo que sua filha faria quando descobrisse que teria mais um namorado de fachada. Tudo bem que esse será o terceiro só este ano, argumentou Gisele para si, mas Ágata terá que entender e colaborar.

Mergulhou o rosto nasmãos por alguns segundos e, enchendo os pulmões de ar, resolveu, comdeterminação, que o melhor era manter-se forte e cautelosa. Por isso, nadamelhor do que ir ao massagista para resolver toda aquela tensão    


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Olá leitor(a)! esses capítulos iniciais vocês estão conhecendo os personagens e seus conflitos. Me contem o que estão achando deles. E não esqueçam de apertar na estrelinha. O próximo capítulo está ainda melhor. 

Glamour Entre o Amor e a VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora