Capítulo ONZE - Quase um beijo

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Era um domingo, o pôr do sol estava exageradamente lindo, anunciando assim o fim daquele dia. Havia uma mistura de laranja com rosa e o sol parecia entrar no mar. Pássaros voavam no horizonte e uma brisa tornava o ambiente refrescante. Ágata e Andrew estavam sentados lado a lado em um banco de madeira, admirando aquela cena em uma ilha que parecia uma montanha. Estiveram naquele lugar dias antes, quando passearam juntos pela primeira vez de barco. Porém, como não houve tempo, não puderam assistir o pôr do sol como pretendiam. Mas agora, finalmente estavam ali, e aquela ocasião não era apenas o fim de mais um dia, era também o fim de uma semana mágica para Ágata e de realizações para Andrew.

Permaneciam calados, como que assistindo a um espetáculo teatral. E de fato era.

De repente, uma brisa mais forte levou o perfume de Ágata direto para as narinas de Andrew. Ele fechou os olhos, como que degustando aquele aroma de jasmim, que de alguma forma o fazia repousar e desejar que aquela ocasião se tornasse eterna. De fato, não se lembrava de se sentir tão feliz como naquela semana que estivera com Ágata.

Ele a olhou e percebeu seus olhos marejados, que brilhavam com a luz laranjada do sol, ficando ainda mais belos.

— Você está bem? — Perguntou preocupado.

— Sim. — Respondeu ainda olhando para a frente, enxugando uma lágrima com os dedos. — Desculpe, estou me sentindo uma idiota por estar emocionada com algo tão simples.

— Você não é uma idiota. Dizem que é nas coisas simples da vida que encontramos razão para sorrir, motivos para viver e esperança para vencer.

— Você deveria escrever um livro de frases de autoajuda.

— Acho que não. Quem compraria meu livro?

— Eu compraria. Embora já conheça muitas de suas frases. — Virou-se para ele. — Eu vou sentir saudades de você.

— Você fala como se não fôssemos mais nos ver.

— Não é isso... mas pode ser isso. — Ele fez cara de confuso e Ágata concluiu que ele ficava ainda mais lindo a cada segundo. — Minha vida é uma loucura. Cheia de viagens, desfiles, fotos, eventos, comerciais...

— E você ficará tão ocupada que se esquecerá de mim... — Ele fez uma expressão triste de propósito.

— Não, eu não vou esquecer de você. — Era o que ele queria ouvir. — Esses dias aqui em Angra foram inesquecíveis e estou muito feliz por ser sua amiga, não sou do tipo que abandona amizades. Ainda mais amizades verdadeiras que me fazem tão bem como a sua. — Ela olhou para o chão. — Você não sabe como eu precisava disso. — Ela ia dizer que precisava dele, mas não teve coragem, não queria dar a impressão errada. — Você não imagina como estou triste por ter que voltar para a minha realidade. — Olhou para ele.

— Talvez a sua realidade esteja aqui.

— Pode ser. — Abaixou a cabeça. — Mas minha mãe não deixaria isso acontecer.

— Às vezes você fala como se estivesse na Idade Média vivendo em um regime monárquico e não democrático. Você pode escolher o que fazer. Basta querer.

— Não é tão simples, Andrew. — Voltou a olhar para o mar, cruzando os braços. — Você não sabe o que eu já passei ou do que minha mãe é capaz. Eu queria ter a coragem de fazer isso que você falou, mas não tenho. — Virou-se para ele. — Todas as nossas escolhas têm consequências, e qual seria a minha? Se eu largasse as passarelas, quem me apoiaria? Do quê eu viveria? O que seria de mim? Desde que eu me entendo por gente sou modelo, sempre estive na mídia, essa é minha vida. Largar tudo seria uma mudança drástica demais para eu enfrentar sozinha.

— E quem disse que você estaria sozinha?

Ágata sentiu seu coração disparar, tentou entender o que significava aquela pergunta. Na verdade, sabia o que ele queria dizer, mas queria ter certeza, por isso perguntou cuidadosamente: — E quem estaria comigo?

— Eu estaria. — Olharam-se intensamente, como que tentando decifrar o que ambos pensavam. — Você não precisa enfrentar uma tempestade sozinha. Seja qual fosse a consequência de sua escolha, eu te apoiaria. Você pode confiar em mim.

Ágata sentiu-se fraca. Se estivesse em pé, suas pernas falhariam. O que poderia dizer diante de palavras tão cativantes? Não sabia explicar, mas confiava no que ele dizia. Ele a fazia sentir-se segura e com a sensação de que poderia enfrentar até o mais severo terremoto, pois, se estivesse ao seu lado, tudo daria certo. Tudo se resolveria. Por mais que tentasse falar, não conseguia, não havia palavras que descrevessem o quanto estava grata por conhecê-lo e por ter seu apoio. No entanto, não conseguira frear as lágrimas, que rolaram por seu rosto. Andrew sentiu seu coração apertado por vê-la assim. Ele estendeu a mão e enxugou suas lágrimas suavemente, Ágata apenas fechou os olhos, sentindo esse toque tão singelo.

— Não fique assim. — Disse ele com um olhar preocupado. — Não gosto de vê-la chorar.

— Desculpe, Andrew, mas fiquei emocionada por ouvir o que você disse. Acho que estou um pouco sensível. É isso. — Ela segurou as mãos dele, tirando-as lentamente de seu rosto. — Promete que tudo isso que você me falou foi sincero?

Ele não esperava por isso. Mas, gaguejando, respondeu que sim, mesmo que na verdade sua resposta fosse não. Nesse momento, sua consciência doeu. Gostava dela, mas tinha de continuar com seu plano, mesmo que a magoasse. Mas não queria magoá-la. Que aflição!

— Acredito em você. Muito obrigada por tudo Andrew, de verdade!

— Sabe o que eu queria fazer agora?

Me beijar? Pensou ela.

— Não, o quê? — Respondeu.

— Te prender aqui em Angra para você não ir embora. — Eles sorriram.

— Você nem mora aqui!

— Me mudaria sem problemas!

— Seria legal! Mas você seria preso por sequestro.

— Tecnicamente, um sequestro é quando mantemos alguém em cativeiro contra sua vontade. Acredito que isso não se aplica a você. — A luz do sol já estava fraca e os grilos começaram a cantar.

Ela deu uma risada, tentando fazer mistério.

— Gostei do seu argumento. — Levantaram-se ao mesmo tempo. — Mas agora terei que ir, já está escurecendo. — Aproximou-se. — Mais uma vez, obrigada.

Deram um abraço apertado, que durou longos segundos. O primeiro nesses sete dias que se conheciam, mas o suficiente para sentirem o melhor calor de suas vidas. Seus corpos se encaixaram de tal forma, como se fossem feitos um para o outro. Quando Ágata ia se virar, Andrew segurou seu braço e disse:

— Espera! Falta algo. — Ele lhe beijou a testa. — Para você sempre se lembrar de mim ao se olhar no espelho.

— Seu bobo! Nem ficou marca para eu olhar — disse com a sobrancelha levantada.

— A marca é invisível aos olhos, mas será visível ao coração.

Ágata mordeu os lábios e em seguida sorriu. Por um instante sentiu vontade de sair correndo e abraça-lo novamente, mas dessa vez sem soltá-lo. Ele sabia como deixá-la sem graça, ou melhor, sentir-se especial. Nesses poucos dias juntos, Ágata descobriu que a felicidade estava mais perto do que imaginava. Tudo na vida era questão de saber escolher. E, naquele momento, Andrew era sua escolha. Só precisaria de coragem para manter essa escolha, e isso lhe faltava.   

Glamour Entre o Amor e a VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora