ERA DE OURO

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Pelas frestas da janela feixes de luz do sol adentraram ao quarto escuro. Uma cama ao lado da janela abrigava uma criança que permanecia adormecida, a luz tocava o seu rosto sereno como quem afaga um ente querido antes de despertá-lo.
Os primeiros movimentos do despertar foram lentos, um rolar de lado na cama, uma espreguiçada sútil, todos em uma tentativa para vencer a preguiça matutina que mantinha o corpo levemente entorpecido.
O pequeno criou coragem suficiente para levantar de seu aconchego e abriu a janela, assim deixando que todo o ambiente de seu quarto fosse iluminado pela luz do amanhecer. As pupilas demoraram alguns segundos para se acostumarem com a mudança repentina na iluminação, levou a mão os olhos e os coçou levemente com os punhos fechados. A visão recuperou sua plenitude e como mágica um universo que dispunha de infinitas possibilidades surgira bem a frente de deus olhos, bem em seu jardim.
O sereno reforçava o cheiro de grama cortara que junto com o friozinho da manhã aconchegavam os sentidos recém despertos. Uma árvore de porte médio, mas de tamanho suficiente para suportar uma pequena casa de madeira, podia ser enxergue ao fim do quintal. Alguns pés de roseira eram dispostos em um canteiro bem debaixo da janela. O odor doce das rosas atraiam alguns pequenos insetos matutinos, como borboletas e abelhas que voavam em torno das flores.
Toda aquela imagem se assemelhava à uma pintura fantástica, divina. A infância realmente é uma era regida pela magia e a fantasia, capazes de fazer com que um mero quintal seja palco para infinitas aventuras de uma criança. A euforia de ter um dia todo pela frente tomava o coração do jovenzinho, deixo de comtemplar o paraíso a sua frente e correu em direção a porta do quarto. Girou a maçaneta e à puxou para dentro rapidamente, provocando um tremendo ranger das dobradiças, correu em direção a cozinha de onde vinha um cheiro de café recém passado. Sobre a mesa o café da manhã estava servido, algumas torradas com geleia de morango, uma grande jarra de suco de laranja e um bolo de fubá quentinho dentro de uma assadeira.
Uma refeição singela mas vista pelos olhos de uma criança tinham o requinte de um banquete real. O jovenzinho abocanhou algumas torradas rapidamente, tomou metade de um copo de suco na mesma velocidade que dragou as torradas e mesmo de pijama correu para fora da casa, ansioso para iniciar seu dia.
Repetiu os movimentos que acabara de fazer para sair de seu quarto, no momento em que fitou o exterior da casa, sentiu seu corpo paralisado. Não havia nada, bem a frente do menino o espaço que deveria conter um reino gigantesco e mágico o qual seria desbravado por suas brincadeiras havia sumido. A sua frente apenas uma vasta escuridão, um imenso vazio, um longo limbo.
Os olhos da criança permaneciam estáticos, traumatizados, sem piscar. Levou as mãos ao rosto em um sinal de descrença, impedindo que seus olhos enxergassem aquele vazio, a pobre mente infantil julgava que aquilo a sua frente não passava apenas uma miragem passageira.
Depois de alguns segundos esperando que a miragem se extinguisse, o jovem retirou as mãos do rosto e abriu os olhos. Enxergou apenas o teto de seu quarto, permanecia deitado em sua cama. Diferentemente de o seu primeiro despertar, agora seu corpo aprecia pesado, cansado. Levantou-se lentamente, permaneceu sentado sobre a cama analisando o que havia acontecido. Levou mais uma vez as mãos ao rosto o acariciando e assustou ao sentir sua pele áspera como uma lixa, uma barba por fazer adornava seu rosto de expressão cansada e só então o antes jovem pode perceber que tudo não passava de um sonho.
E nada mais daquela criança havia sobrado dentro de seu atual ser, só o que ainda permanecia era o gosto rançoso de um sentimento nostálgico nutrido por um tempo que jamais voltaria.

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