06 de Novembro de 95'

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Era uma lembrança que eu queria esquecer.

"Foi um acidente."

Sempre repetiram isso por todos os anos que se seguiram na minha vida e, mesmo que eu até possa concordar, não deixo de pensar em tudo o que aquilo me causou.

E a minha família também.

Minha mãe nunca mais viu a irmã gémea depois daquilo. Ela e o marido me perdoaram porque eram pessoas amorosas e não queriam que eu carregasse um peso daquele tamanho pelo resto da minha vida, não que tenha sido eficiente de todo, mas não podia negar que tinha me aliviado um pouco o remorso eterno. Mas também sabia que a tia Miranda não conseguiria olhar mais no meu rosto todos os dias sem reviver o pior pesadelo que uma mãe pode passar.

Então se afastou.

Foi um processo muito doloroso para todos nós. O trauma, a culpa, os pesadelos e tudo o que se pode imaginar, principalmente o processo de luto. E até hoje, sempre que fecho os olhos, o que eu mais desejo é nunca ter saído daquele quarto.

Quando o meu pai me apresentou o Sacana Profissional, um ano depois, foi uma forma de eu me reinventar, de ocupar a minha mente juvenil e me concentrar em algo que só trazia prazeres efémeros. Aquela tragédia nunca me deixou viver em plenitude, sempre fechou o menino Knox que saltou de pré adolescente para um homem responsável da noite para o dia.

Responsável por meus actos.

E agora essa vaca pensa que pode trazer todos seus ares fúnebres para dentro desta casa novamente? Até a torcida da Seleção Brasileira sabe o quanto ela está enganada.

— Boa tarde — Mamãe diz e se afasta para o lado quando o enorme segurança da víbora também entrou, assim como todos, não demora ao arregalar os olhos pela forma como a atrevida a encara. Aida parece estar sendo exorcizada numa nova versão de câmara lenta, a diferença é que o demónio é que está querendo fugir dela.

— Boa tarde. — Observa tudo ao redor, de nariz empinado, e estica a mão para a parede de músculos que a segue como mosca atrás de merda – Se bem que é isso mesmo – e ele lhe entrega uma revista.

— Já nos conhecemos? — Dona Amanda pergunta e estranha.

— Talvez da televisão. — Aida gira os olhos para mim. — É com seu filho que quero falar.

Agora estão todos olhando para mim. Podem olhar mesmo, sou bonito demais.

— Por aqui. — Aponto para a porta de saída, cheio de ironia, e caminho até lá. Ela não pode e nem deve pensar que consegue me intimidar dentro da minha própria casa, diante dos meus irmãos e da minha mãe.

— Knox! — Dona Amanda bradou, arrancando arrepios da minha espinha. Como é que até com trinta e quatro anos aquela ameaça disfarçada de meu nome ainda funcionava?

Sacana Profissional - Knox Steel #1Onde histórias criam vida. Descubra agora