Capítulo um

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Momentos antes, quando o viajante se preparava para atravessar o véu já visualizado por ele, um processo fundamental na conclusão do teletransporte, parou bruscamente sentindo uma sensação muito ruim no peito. Mesmo tendo recentemente perdido parte de suas energias em uma férrea batalha, o viajante ainda conseguia executar o difícil processo de abertura dos portais proficientemente.

De repente, a imagem de sua amiga Vayla, aos prantos, quase que se materializou em sua frente. Naquele instante um arrepio de medo atacou-lhe a espinha produzindo um calafrio que lhe percorreu todo corpo. Seu coração, carregado de adrenalina, automaticamente partiu em louca disparada. Sem conseguir controlar-se e se esquecendo completamente dos protocolos de segurança sobre a viagem entre os mundos, o viajante gritou:

- Vayla...!?

Ele sabia que havia algo de errado com ela, o viajante podia sentir claramente. Vayla não o ouviria, disto ele tinha a plena certeza. Ao gritar por seu nome, estava apenas externando involuntariamente suas preocupações para com ela. Tentava entender o porquê daquela repentina visão.

Por não conseguir controlar as suas emoções, a membrana que delimita os dois mundos: Dramagerom e o mundo físico que conhecemos, foi atingida violentamente. O som do seu grito potencializado, criou uma onda que atingiu o véu em cheio, fazendo-o inflar como um balão, desencadeando uma reação da qual ele jamais havia visto. O viajante havia se esquecido de que ainda estava em Dramagerom.

Este mundo costuma potencializar e até mesmo materializar os desejos e sentimentos dos que se aventuram nele, principalmente os pensamentos dos viajantes desavisados. É preciso muito treinamento e concentração para conseguir aventurar-se nele em segurança, do contrário; o viajante poderá ser literalmente devorado por seus próprios medos.

Inúmeras vezes ele ouviu o seu mestre falar-lhe sobre as consequências de utilizar força em demasia contra a membrana divisora. Agora, parecia que estava vendo-o repetir-lhe mais uma vez: - "...Jamais se esqueça de que a travessia do véu tem que ser feita sempre de forma sutil! E você terá que estar atento a tudo, meu garoto...!" - Sua repreensão era sempre proferida entre dentes e disfarçando uma forçosa paciência. Era assim, quase todas as vezes em que percebia a completa falta de tato, ou a ansiedade contumaz de seu aprendiz.

Como resultado de seu deslize, os efeitos colaterais da viagem ficaram ainda mais intensos que os de costume. O risco de conseguir atrair a atenção para si, ou até mesmo de causar alguma fatalidade, poderia ter sido extremamente alto. Se fosse nos tempos em que os Herdeiros Guardiões ainda possuíam a pedra, por ele ainda ser um aprendiz, isso seria completamente inaceitável. Sua exclusão da ordem seria imediata.

Ele também quebrou uma das principais regras dos Herdeiros Guardiões: a total e completa discrição em tudo que faz. Essa regra era levada ao pé da letra pelos mestres guardiões, principalmente em suas viagens. Eles jamais poderiam serem vistos e nem percebido. De forma alguma. Deveriam sempre agirem como fantasmas. Sua existência não poderia ser revelada ao mundo. Eles simplesmente não existiam...

Por muito pouco, mas muito pouco mesmo, ele não ultrapassa os parâmetros de segurança predeterminados pelo antigo conselho dos Herdeiros Guardiões. Com base em tentativas e erros e as custas de muitas vidas, eles conseguiram estabilizar o poder da pedra. Este amuleto era a chave entre os mundos.

Apenas um erro como o de desprender muita energia para romper o véu delimitador dos mundos, os efeitos poderiam ser comparados ao vácuo altamente destrutivo de uma bomba muito potente. Seu raio de destruição alcançaria vários metros de distância, transformando tudo em seu caminho num amontoado de cinzas e poeira.

- Mais que porcaria...! - xingou o viajante ao perceber o que tinha feito. Ele até poderia ter evoluído em seu aprendizado, mas ainda lhe faltava muito para poder conseguir controlar seus poderes.

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Onde histórias criam vida. Descubra agora