Capítulo oito

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As horas se passavam e a agonia de Drelk aumentava. Nada de alguém o acudi-lo. Deixando-o, numa situação desconfortável, e com um nó intragável na garganta.

Completamente tomado pelo medo e cheio de preocupações, ouviu ao longe o trepidar das rodas de um carro. À medida que o veículo se aproximava, levantando poeira e ofuscando a sua visão com os seus fortes faróis formando dois fachos irregulares de luz, seu coração encheu-se de esperança, desejando do fundo de sua alma que essa fosse a sua carona.

O veículo se aproximou, mas Drelk ainda não o havia identificado. Relutante, forçou a visão na intenção de enxergar o motorista, esperando que ao menos fosse um bom samaritano e lhe oferecesse ajuda.

Quando o carro chegou a uma distância de aproximadamente trinta metros, finalmente reconheceu o jipe azul com capota em lona preta. Ao perceber que aquele era o carro de seu tio, suspirou profundamente, soltando a respiração com tremendo alívio, como se estivesse vomitando tudo de ruim que sentira até aquele momento. Naquele instante o medo que até então o havia fustigado de forma aterradora, deu lugar a um sentimento de satisfação, misturado a certa ansiedade que se apresentava como um breve frio em seu estômago.

- Tio Yousef?! - gritou Drelk, acenando com o braço para o alto, certo de que realmente era a sua carona.

- Olá, Drelk! - confirmou o velho, extraindo um estridente som, com a buzina do velho jipe. - Você realmente veio! Que maravilha!

Ao ter a confirmação visual de que se tratava de seu tio, Drelk tranquilizou-se relaxando todos os músculos do corpo. Eles estavam quase dormentes de tão tensos.

- Graças a Deus tio Yousef! Eu já estava ficando preocupado! - confessou o jovem, agora feliz. - Cheguei a pensar que o senhor havia se esquecido de mim!

- Claro que não! - salientou Yousef enquanto abria a porta do carro.

Ao descer, Yousef, uma figura delgada de ossos compridos e medindo quase dois metros de altura o abraçou.

Vestindo uma camisa de mangas compridas de cor clara e lista ocre, e enfiada para dentro da calça jeans, deixava a mostra seu cinto preso por uma enorme fivela onde estampado, havia a imagem de um cavalo em alto relevo.

Yousef, que mais parecia um boiadeiro, tirou seu chapéu de feltro preto estilo vaqueiro que escondia parte dos seus ralos cabelos acinzentado, para um cumprimento sorridente ao sobrinho.

Ao aproximar-se do tio, Drelk pode observar o sorriso do velho que exibia um dente de ouro na boca. Seu rosto com a barba branca por fazer, escondia seu queixo, mas exaltava o brilho dos pequenos olhos extremamente azuis, cintilando de satisfação.

- Desculpe-me pela demora, é que houve um pequeno imprevisto com o meu velho trator. Tive que procurar o meu boi Zangão para ajudar a puxar aquela mazela. Aquele velho trator vive quebrado!

Desde que comprara o trator, Yousef havia aposentado seu velho amigo. Um enorme espécime de nelore rajado que pesava quase uma tonelada. Yousef o treinara para puxar carroça desde que era apenas um bezerro. Com sua força descomunal e passos firmes, puxava vários quilos com grande destreza.

Após as justificativas do tio, Drelk quis saber sobre a tia:

- E a tia Margarete, não quis vir também?

- Você deve se lembrar de como ela é! Margarete não sai da sua toca por nada neste mundo! Vive trancada naquele sitio e sempre que eu a chamo pra sair, ela vem com várias desculpas dizendo que não pode deixar as criações sem cuidados!

Enquanto falava, Yousef ajudava o sobrinho com as malas.

- Mas, ela está com muitas saudades de você e de sua mãe!

Margarete era a mais velha de três irmãs, sendo: Mathild López, mãe de Drelk, a mais nova de todas.

A do meio que se chamava Miah, mudou-se daquele lugar há muito tempo e nunca mais tiveram notícias. Por isso as duas, que ainda mantinham certo contato, eram muito ligadas. Mas, desde que Drelk entrara para a família, Mathild e seu esposo se mudaram da Vila. As irmãs nunca mais se viram, desde então. Elas se falavam apenas por cartas ou pelo telefone.

- Sua tia vai ficar brava com a Mathild! Mais uma vez ela não quis vir vê-la! - lamentou Yousef com pena da esposa que estava ansiosa para rever a Irmã caçula. Imaginando que ela também viria.

- O senhor sabe como a minha mãe é...! Aliás, como elas são caseiras! - brincou Drelk comparando as irmãs. - Na verdade tio; minha mãe não parece gostar muito daqui!

- Pode até ser, mas o importante é que você gosta! - comentou Yousef num sorriso forçado.

- Na verdade, ela nunca gostou que eu viesse ao sitio! Até quando eu vinha com o meu pai ela encrespava! - justificou Drelk, lembrando-se de seu pai que sempre o acompanhava nas viagens. - Na verdade não sei como ela deixou que eu viajasse sem nenhum acompanhante. Meu pai sempre tinha que implorar para que ela me deixasse vir com ele!

- Ela tem as razões dela... Mathild sempre foi protetora! - Comentou Yousef olhando para o nada, disfarçando seus sentimentos ao lembrar-se do cunhado Hidalgo que morrera exatamente onde agora estavam parados. Com a voz trêmula completou: - Chega de lembrarmos-nos do passado. Bola pra frente garoto... O importante é que você está aqui, e com saúde!

Oba!!!

Mais um capítulo.

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Obrigado e até o próximo capítulo.

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Onde histórias criam vida. Descubra agora