Capítulo Dezesseis

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Se sentindo na obrigação de dar uma explicação ao proprietário da terra e vendo que o homem parecia disposto a não sair do lugar, Drelk foi ao seu encontro. Em sua mente maquinava mil e uma desculpas para não levar chumbo no lombo, mesmo assim; juntou coragem e foi.

Quando estava perto o suficiente para ver o rosto do homem, Drelk quase riu de si mesmo pelo susto desnecessário.

- Ayron?

Embora estivesse à vontade, Drelk não se atreveu a chamá-lo de Cipó. Este era um apelido de infância. E no momento, não sabia como Ayron iria reagir.

— Legal vê-lo aqui! ...Tudo bem com você? ...Lembra-se de mim? —  Disse Drelk um tanto confuso com o modo em que Ayron o olhava em silencio.

— Acho que me lembro. Muito vagamente. – Respondeu inexpressivo.

– Sou eu..., o Drelk, sobrinho dos Savioli! Dona Margarete, Yousef...! Eles são vizinhos de seu pai! — Insistiu ele quase que abrindo a mente do rapaz e socando todas as lembranças em seu cérebro com as próprias mãos. — Brincávamos juntos quando éramos crianças!

O esforço para fazer com que o rapaz precisasse de tantos detalhes para se lembrar de um amigo de infância, fez com que Drelk começasse a duvidar se realmente estava certo com relação a pessoa. Para ele, a certeza de que aquele rapaz seria o seu amigo Ayron, parecia ser incontestável, mas esta certeza se esvaía pouco a pouco. Sentindo como se um balde de água fria tivesse sido jogado em suas expectativas, Drelk finalmente desistiu.

— Me desculpe por invadir a sua propriedade e..., também por isso... — Drelk desculpou-se todo morno, quase frio. Frisando os lábios numa clara decepção, gesticulou com o indicador um repetido vai e vem entre os dois, se referindo ao seu estupido engano.

Drelk estava prestes a se despedir quando finalmente o jovem resolveu abrir a boca:

– Lembro-me sim... — disse em tom monocórdio  Desculpe-me por não me recordar de imediato. É que ultimamente ando meio distraído, tendo alguns lapsos de memórias.

Após as apresentações, trocaram pouquíssimas palavras.

Não mostrando nenhum interesse na conversa, Ayron apenas o observava. De vez em quando balançava a cabeça fazendo um sinal de que estava entendendo tudo. De repente Drelk parou a tagarelice se sentido constrangido ao perceber que o amigo parecia não dar a mínima para o que ele falava. Se dependesse de Drelk, eles ficariam horas e horas relembrando da época em que aprontavam na beira do rio.

– Gostaria que você viesse comigo. – Finalmente Ayron falou, mas foi numa cadencia robótica, totalmente inexpressível.

– Pra onde?

– Pra lá... – apontou Ayron na direção da densa floresta. – Tem umas plantas que gostaria que visse e...

Drelk interrompeu a conversa e quase aceita o convite, mas se lembrou da hora. Havia se passado muito tempo desde que saiu para dar apenas uma volta pelo sitio.

– Acho melhor deixar pra outro dia. – respondeu Drelk preocupado com os tios que provavelmente já estavam a sua procura. — Já está na hora de eu voltar.

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Onde histórias criam vida. Descubra agora