Capítulo dez

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Passava das dezessete horas e Yousef dirigiu seu jipe exigindo toda potência que dispunha em seu motor, para não perderem o ônibus. Com pericia peculiar, ele manejava o volante de seu possante, torcendo de um lado para o outro. Tentava compensar a folga do volante para conseguir manter o veículo na estrada. Em resposta, o carro pulava como louco, levantando uma nuvem de poeira em seu rastro.

Yousef conhecia muito bem aquelas estradas, pois nascera ali e jamais mudara do lugar. Aquele sítio era a sua vida, e isto lhe dava uma grande vantagem pois conhecia cada buraco daquela estrada tortuosa.

Passaram-se meia hora e logo o ônibus chegaria. Este ônibus era o único que fazia aquela rota. Ele passava apenas três vezes ao dia: às sete horas da manhã, ao meio dia e finalizava com a sua última viagem às dezoito horas.

Nesta época a Vila ainda desfrutava do seu forte comercio de grãos. Embora muitos agricultores já estivessem transformados suas propriedades em pastos, ainda existiam muitas fazendas insistindo no plantio.

Durante o dia o movimento nas ruas da Vila era intenso. Eram carroças, tratores, caminhonetes e caminhões de vários tamanhos. Todos cheios até a tampa com sacos de grãos trazidos das lavouras. E nos grandes depósitos, os motoristas faziam filas com seus enormes caminhões para transportá-los até o porto marítimo mais próximo.

Com o passar dos anos o preço dos grãos despencou, já não era tão viável o plantio. Muitos dos que não perderam suas propriedades para os bancos, acabaram aderindo à criação de gado. Com isto; a Vila faliu já que os maiores empregadores eram os grandes silos. As colheitas exigiam a cada safra, um enorme número de mão de obra e boa parte desse dinheiro eram deixados ali mesmo na vila.

Em apenas dez minutos Yousef já estava na parada de ônibus. Havia um homem sentado no banco de espera e ele achou conveniente parar seu jipe um pouco mais adiante.

Estranhamente, ao passarem perto daquele que estava na parada, mutuamente sentiram um calafrio. Os cunhados se entre olharam. Não apenas eles haviam sentido aquele arrepio, mas o homem sentado no ponto de ônibus também o sentiu. Diferentemente de Yousef e Hidalgo, o estranho teve a sua parte pressentida numa densidade dez vezes maior.

— Filho..., abaixe-se e se esconda atrás do banco do carro, por favor! — pediu Hidalgo olhando seriamente para Yousef que apenas afirmou com a cabeça numa expressão de aprovação e medo.

— Será que é um guardião? — perguntou Yousef com o coração disparado no peito.

— Talvez; mas pode ser também apenas um viajante. — respondeu Hidalgo com o olhar fixo no estranho encapuzado. — Digo; um viajante consciente, um daqueles...

— Pra mim; este bando de demônios são todos iguais! — praguejou Yousef que parecia extremamente assustado.

— Eu também penso assim, mas você sabe muito bem que se não fosse um deles, eu não o teria... — disse Hidalgo sinalizando o seu filho no banco de trás do jipe.

— E você acha que não seja coincidência? Será que ele está aqui por causa do...? —Sem esperar a resposta do cunhado e tentando esconder o seu medo para não assustar o sobrinho, calmamente colocou a mão sobre a cabeça do garoto e o abaixou para que não fosse visto pelo estranho. — Fique aí quieto meu rapazinho, não se levante por nada.

— Porque pai? — perguntou Drelk encolhendo o corpo no vão entre o banco da frente e o de traz, mas tentando manter a cabeça erguida querendo ver se identificava algo de errado lá fora.

— Apenas obedeça, meu filho! — falou Yousef passando o braço para traz do banco novamente e forçando mais uma vez, carinhosamente a cabeça do sobrinho para baixo.

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Onde histórias criam vida. Descubra agora