Capítulo dois

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Olhando para baixo, algo começou a surgir na palma da sua mão. Iniciava um processo de auto formação. Era como se minúsculas peças de um intricado quebra-cabeça fossem girando loucamente em todas as direções. Surgindo de um pequeno vórtice, saiam numa busca alucinante até cada peça encontrar o seu par ideal, quando enfim se encontravam, elas se atraíam como imã, encaixando-se rapidamente. Aos poucos iam dando forma ao objeto.

Embora as micro peças parecessem girar completamente desordenadas, o viajante as conduzia com eximia maestria, era como se resolvesse uma simples equação. Não demorou muito para uma bengala materializar-se em sua mão.

O processo de materialização era visualizado pelo viajante como se assistisse a um filme em câmera-lenta, já para um observador externo, era como se a bengala tivesse aparecido na mão do velho como um truque de mágica. Como há poucos observadores atentos no mundo cego, os poucos que notassem a bela peça, talvez pensariam que o velho já estivesse com ela quando chegou.

De cabo em ouro branco no formato da cabeça de uma águia com olhos de pequenos diamantes escarlates, não fazia inveja ao restante do corpo. Uma haste de imbuia mesclada com tons claro e escuro, entrelaçavam-se desde o cabo até a ponta. A madeira era toda entalhada com desenhos geométricos. Seu brilho espelhado refletia imagens fragmentadas devido as linhas dos entalhes.

- Acho melhor eu poupar as minhas energias... - pensou o viajante ironicamente, sentindo-se um pouco cansado. Tendo o apoio da bengala para se locomover, o velho viajante foi direto ao balcão de informações.

Vendo que a balconista não percebeu a sua presença e ainda continuava absorta enquanto lixava as unhas, ele emitiu um som de quem limpa a garganta, apenas para chamar a atenção da garota.

- Pois não? - perguntou ela num tom entediado e voz melosa. - O senhor deseja alguma coisa?

- Sim, gostaria de visitar um paciente que deu entrada aqui a algumas horas. - respondeu o viajante angustiado. Ele nem se importou com a altivez da garota. - O nome dele é Ayron Scopen.... Eu sou o...

- Aguarde um instante por favor. - disse a atendente interrompendo-o bruscamente para pegar o telefone.

- Mas, é que... Eu... - gaguejou o velho.

Ele se sentiu intimidado e extremamente furioso. Completamente indignado, ele a encarou de forma a deixar claro o seu semblante austero. O que não adiantou. A garota sem se incomodar, continuou a lhe servia um olhar de puro desdém.

Após alguns segundos falando ao telefone, quase cochichando para que o velho não a ouvisse, finalmente a atendente falou-lhe:

- O senhor poderia aguardar ali, ...por favor?

Sem encara-lo diretamente nos olhos, e com o telefone ainda na mão, ela indicou com a cabeça uma área reservada. A sala de espera.

Vendo que o velho não se moveu tão rápido como ela desejava, esticou o dedo na direção da saleta, reforçando sua sugestão. Mais parecia uma ordem do que realmente uma simples indicação.

O viajante seguiu com o olhar na direção apontada, mas foi apenas um reflexo. Vendo algumas poltronas, mesmo estando ele extremamente cansado fisicamente, ignorou a sugestão da telefonista e permaneceu parado diante dela como uma estátua, deixando-a muito furiosa. Ele quase riu da cara que a garota fez ao perceber que ele não estava nem aí para ela.

Ele achou um absurdo. Na sua concepção quem deveria estar furioso por estar sendo tão maltratado, era ele e não ela. Preparado para dizer algumas verdades para a jovem, o viajante abriu a boca, mas foi calado imediatamente com a nova atitude da atendente.

A recepcionista olhou para o segurança que estava sentado numa cadeira de madeira diante da entra de acesso a enfermaria e aos leitos do hospital, e depois voltou a encará-lo novamente. Momentaneamente, o viajante se deu por vencido, mas antes de decidir seguir o conselho da garota e ir para sala de espera, olhou no fundo dos olhos dela e soltou:

- Eu não sei o porquê de tanta implicância comigo! - disse ele enquanto ela o media sem ao menos disfarçar, em seguida completou: - Aliás; eu sei muito bem...

No fundo o velho sabia que implicância da garota, era simplesmente porque a sua aparência, mesmo tendo ele em uma das mãos uma suntuosa bengala, parecia a de um mendigo qualquer.

Bom amigos leitores, espero que a leitura esteja de acordo com suas expectativas. Estou contando com a presença de todos no próximo capítulo. O quê estão achando? Deixem seu comentários! A opinião de vocês é um norte para mim. Se estiverem curtindo essa viagem, clique na estrelinha e deixem um lembrancinha! 😂😂😂

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Onde histórias criam vida. Descubra agora