3 - Tremor

504 102 59
                                    

3 - Tremor

Mais de quatro horas se passaram e eu estava começando a desejar uma bolinha pra passar o tempo também. Ficar ali esperando qualquer coisa acontecer era pior do que não saber o que eu sou. Eu ficava pensando e pensando no que a doutora May me disse na salinha, e isso me atormentava mais e mais a cada hora que passava. Ela soube plantar o desespero em mim muito bem, como Bonucci disse, ela é uma sádica cruel. Roberto estava agitado por alguma razão - ou não, ele é meio sem noção pelo que já vi. -, ele andava de um lado para o outro falando a língua dele e eu tentava entender de alguma forma, foi até bom para esquecer dos meus pensamentos de até agora pouco. 

Um barulho diferente aconteceu, um sonoro biiiip como o de um caminhão dando ré, corri, fechei a porta do quarto e fiquei sentado no canto dela, encolhido e com medo, logo em seguida a porta do meu quarto se abriu, um daqueles sargentos de preto - notei pelos três V. - me esperava na porta.

- Hora do almoço, vamos. - disse ele seco. Não respondi nada, apenas o segui, do lado de fora já estavam Bonucci e Roberto enfileirados com uma corrente na cintura e nos punhos. Me colocaram por último, prendendo bem firme as amarras e mandaram a gente prosseguir, Roberto nos guiava tranquilamente, vai ver ele estava irritado por causa da fome e agora que ele vai resolver isso ficou mais calmo. Mesmo assim eu fiquei indignado com ele se acostumar com o tratamento que nos dão, que dão a ele desde pequeno, é totalmente desumano.

Era estranho ver isso, mas eu achava que só tinha duas portas fora a minha, mas uma maior estava camuflada e só abria com o som estranho que saia do lado de fora. Era algo como um corredor de celas como a minha, diferente da minha cela que só tinha três prisioneiros, as celas seguintes conseguia ver cinco, seis prisioneiros enfileirados. Foi na enorme fila que me assustei com a quantidade de pessoas como eu que existem e estão sofrendo aqui a mais tempo do que eu, isso não é nada humano! Bom, pelo menos eu acho que ainda sou humano...

A fila extensa era demorada, pouco mais de vinte minutos andando no corredor reto chegamos a um grande salão, nele várias mesas da única cor que se tem aqui com cadeiras redondas e pequenas nos esperavam. Alguns dos presos eram um tanto diferentes, maiores que o normal ou tons de pele que nunca vi, como um rapaz da pele avermelhada e a costa arqueada, outro era bem obeso e a cara dele lembrava um pouco um sapo e por aí vai. Mas o que me deu dor no coração de ver era um menininho, ele devia ter mais ou menos a idade da minha irmã que vejo no meio da confusão dentro da minha cabeça. Ele era como um anjinho, pele negra e brilhante de olhos caramelo e uma asa... Depenada. Literalmente depenaram o par de asas do garotinho, ele estava triste, pela cara era novo ali assim como eu ou nunca se acostumou a ficar sem as suas asas...

Eu preciso fazer alguma coisa. Mas o quê??? Vamos, pensa Aiden, pensa...

Sentamos eu, Roberto e Bonucci com mais sete numa das mesa. Esperamos todos sentarem até vir várias mulheres com roupas de cozinha com seus carrinhos lotados de marmitas descartáveis.

- Devo te avisar que a comida não é boa. - disse Bonucci.

- Eu já imaginava isso. Afinal, não estamos em um hotel não é? - ele riu

- Nem a cara. - concluiu rindo ao ver a minha cara de nojo, uma marmita cheia de algo pastoso e amarelo e um líquido vermelho, uma coisa eu reconheci. Era frango, um bem cozido.

Roberto me cutucou falando algo para mim e olhei para Bonucci traduzir:

- Ele perguntou se você vai comer tudo.

Eu olhei para a marmita dele e vi que estava quase no final já, eu não sei se a gororoba era saudável, preferi não arriscar. Balancei a cabeça para ele que pegou mais da metade para comer, e comeu bem rápido, fiquei indignado com a velocidade, isso seria um super poder? Comer rápido?

O DomOnde histórias criam vida. Descubra agora