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Era mais um típico dia de férias, já fazia parte da rotina acordar cedo, tomar o café no hotel, caminhar pela praia, achar um canto tranquilo e me afundar em Shirley Hazzard. Já estava naquele lugar mágico há cinco dias. Parecia ser necessário me desconectar do mundo, e ter o meu tempo. Sem planejamento algum, fiz as minhas malas e resolvi viajar, o destino: qualquer lugar com praia. Então, acabei escolhendo por ficar em Maceió.

Após um tempo perdida na leitura, eu a vi. Foi como olhar para a obra de arte mais linda. Clichê, eu sei. É que nesses cinco dias em Maceió, vi gente de todo o tipo. Algumas chamaram a minha atenção, mas não dessa forma.

Em meio à luz do sol, o vento soprando seus cabelos esvoaçantes, sentindo os seus pés pisando na areia quente. Notei que ela estava completamente absorta em seus pensamentos, mais parecia que estava se conectando com aquele ambiente. Ela revezava o seu olhar entre o céu e o mar. Enquanto eu, alternava entre a tentativa frustrada de voltar a ler o meu livro e olhar para aquela mulher.

Desisti da leitura e resolvi dar um jeito de ser notada. Mas como? Não sou de fazer grandes cenas, não sou cara de pau para chegar nela assim, simplesmente do nada. Resolvi mergulhar um pouco. Guardei meu livro na bolsa, tirei meus óculos e me levantei. Fiz questão de entrar em seu campo de visão. Não sei se fui notada durante o meu trajeto até o mar, só sei que mesmo dentro d'água, era inevitável não olhar para a areia e vê-la.

Com a intenção de me distrair, comecei a boiar e acabei perdendo a noção do tempo. Percebi que tinha ficado mais de uma hora lá dentro quando vi meus dedos começando a ficar enrugados. Foi nesse momento em que senti uma batida brusca em meu ombro, me fazendo afundar por meio segundo e engolir um pouco de água.

Fiquei de pé já preparada para discutir com quem me afogou. Limpei meus olhos rapidamente, porque estavam cheios de sal. Foi quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez. Ficamos em silêncio por alguns segundos, que mais pareceram um século.

Foi inevitável, me desarmei no instante em que a vi ali, de frente para mim, com um olhar assustado. Recolhi o xingamento que ia fazer, afinal, era a moça do cabelo esvoaçante, agora, com seu cabelo domado pela água. Até que depois desse século que passou, digo, esses segundos, ela quebrou o silêncio e falou:

- Desculpe. Você está bem?

- Não foi nada. Fique tranquila.

- Tem certeza? – Ela insistiu

- Obrigada pela preocupação, mas estou bem!

Ela deu um meio sorriso, disse então que como eu estava bem, ia voltar para a sua atividade e partiu.

De fato, na hora estava tudo bem. Ela estava bem ali, parada na minha frente. Não foi a tática que eu usei, mas ela me notou, ou a palavra seria, me afogou? Não importa. Esqueci que engoli água, esqueci que meu olho ardia. Ela tinha uma voz rouca, não sei se por conta da combinação da brisa da noite e a pouca roupa usada no verão ou se era de fato a voz dela. Seu olhar era penetrante, parecia que tinha uma voz em seus olhos falando o tempo todo "me olhe Ana, me olhe". Eu só fiz foi obedecer e olhei. 

Ela continuou nadando não sei se em uma direção específica e eu fiquei lá, boiando esperando ela acertar meu outro ombro. Levantei a minha cabeça algumas vezes da água para vê-la se afastando cada vez mais. Até que certo momento a vi parando e me olhando. Na verdade, não sei dizer se ela parou e me olhou ou só parou para retomar o fôlego, bendita miopia essa minha. É evidente que esperei em vão.  

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