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VITÓRIA POV

Cheguei em Maragogi na hora do almoço e já fui ligando para o motorista da van, precisava saber aonde estava o grupo do translado. O hotel tinha o hábito de indicar restaurantes e disponibilizava nesses pacotes pelo menos um guia credenciado, para acompanhar o grupo, mostrar os melhores lugares, dar dicas de atividades, essas coisas turísticas. Como era um bate e volta, os clientes não podiam perder tempo, então, oferecíamos o guia que facilitava muito a vida deles.

Fui até o restaurante que o motorista estava com parte do grupo. Embora estivessem acompanhados de alguém devidamente credenciado e que conhecia a região, as pessoas poderiam optar por conhecer o local por conta própria, era apenas informado o horário de retorno para o hotel e combinado o ponto de encontro. 

Olhei em volta, e não vi Ana Clara almoçando por lá. Não pensei no caso dela não estar acompanhando as sugestões do guia. Na pior das hipóteses, eu poderia bater no quarto 201, mas não vim até aqui para ficar só na vontade de vê-la. Queria aproveitar o dia com ela. Já tinha passado por quatro praias e nada! O motorista tinha o cadastro de todos os passageiros que compraram esse pacote. Pedi gentilmente que ele ligasse para ela, como se fosse uma ligação rotineira para alterar o ponto de encontro, tornando melhor e mais acessível para a maioria dos viajantes. 

O motorista me disse que ela se encontrava na Praia de Antunes, o que significava apenas treze minutos de distância!!! Ótimo!!! Entrei no carro e fui até a praia informada. Estacionei de qualquer jeito e comecei a andar na orla a sua procura. Vi muitas famílias e casais lá, por ser um pouco mais longe, o local era mais tranquilo do que os outros. As crianças adoravam, o mar era calmo, formava uma piscina gigante toda cristalina. 

Resolvi estender a canga e me sentar um pouco, fiquei lá parada apenas olhando. Era impossível não estar feliz em lugar daquele e era isso que as pessoas a minha volta aparentavam.
Tinha uma barraca de stand up, como não estava obtendo sucesso em achar a Ana Clara caminhando pela areia, arrisquei pelo mar. Subi na prancha e fui remando. O dia realmente estava pra além de gostoso, mas parecia que faltava alguma coisa. Há tempos eu não sentia essa urgência em encontra com alguém. Não era um alguém qualquer, era uma baixinha, cheirosa, com o olho cor de jabuticaba, nem sei se de fato era uma cor, só sei que combinava com ela. O dente era pequenino, mas o sorriso era gigante. Meu Deus!!!!!! Eu preciso achá-la

Eu já estava quase na outra extremidade da praia, quando vi um corpo solitário boiando na imensidão azul. Estava longe, não dava pra identificar quem era. Mas como eu já tinha presenciado essa cena no dia anterior, presumi que fosse Ana Clara e meu peito se encheu de esperança. Remei mais rápido, parando do lado dela. não tinha pensado no que falar quando a encontrasse, eu só me permiti ir. 

-Ei tu, mulher! -Chamei a sua atenção fazendo com que ela levantasse num pulo desesperada, fixando os olhos em mim.

-Vitória!!!!!!! Tu quer me matar do coração?! Né possível!!!

Não contive minha gargalhada estrondosa, fazendo-a rir junto, não sei se da reação dela ou da minha gargalhada. Qualquer que fosse o motivo, eu queria mais é que ela continuasse rindo.

-Não está nos meus planos te matar do coração, talvez um almoço esteja... -Acho que essa foi a coisa mais tosca que eu já disse!! Nunca pensei que teria que planejar  o que falar ou não falar para uma mulher. 

-Almoço... seria ótimo, acho que perdi a noção do tempo, pra variar,  lendo de novo. Tu conhece algum lugar bom por aqui? 

-Se eu conheço? Ninha, sou quase nativa daqui, posso ser tua guia particular se quiser. -Parece que eu não parava de falar besteira. Ninha??? De onde eu tirei esse apelido??? 

-Esse é novo!!! - Fiz cara de desentendida. -O apelido, Ninha, me chamam de Ana, Aninha, agora de Ninha. Ficou bom com tu falando, gostei! Mas me diga! Onde tem comida boa?

Vitória, Vitória nada de falar besteira agora, segura essa língua. -Aqui bem pertinho. - Me contive em falar apenas isso. 

ANA POV

Não esperava encontrar com a Vitória em Maragogi. Aliás, não sei como ela conseguiu me achar, mas gostei. Não sei nem se ela queria me achar, fiz uma anotação mental pra perguntar a ela sobre isso. Ainda bem que ela já chegou me chamando pra almoçar. Esquecer de comer está virando um péssimo hábito. Fomos em uma pensão pertinho da praia, o lugar era bem simplesmente, sem nenhum luxo, mais muito aconchegante. A dona da pensão era a simpatia em pessoa.
Almoçamos em silêncio, ficamos apenas nos olhando, uma analisando a outra. Seu olhar penetrava em mim. Quando nossos olhos se cruzavam, logo eu mudava a direção, enquanto ela abria um meio sorriso. Não era desconfortável ficar em silêncio, mas resolvi quebrá-lo.

-Posso te fazer uma pergunta, Vitória?

-Até duas!

-O que veio fazer aqui em Maragogi?

-Ué... O mesmo que você.

-Como me achou? - Perguntei sem saber ao certo se eu devia perguntar.

Ela deu um gole no copo e respondeu.

-Precisei fazer algumas ligações pra saber aonde você estava. Não foi muito difícil, só precisei ter um pouco de paciência.

Ela veio até aqui me procurando!!!!! Por mais que eu tivesse amado a resposta, aquilo estava um pouco esquisito.

-O hotel pode informar assim, tão fácil os dados dos hóspedes?

-Olha Ana Clara, o que fiz não é correto, tampouco ético, mas quando soube que você estaria nesse passeio, tratei de adiantar todos os compromissos que eu tinha pra vir aqui. Não sei o que pensei, não sei nem se pensei. Eu quis vir e vim. E o hotel só me informou os seus dados porque eu meio que sou a dona dele...


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