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Ana Clara POV

Vitória era a típica solteira endinheirada! Não era o que tinha imaginado dela, até agora suas investidas em mim foram bem românticas por sinal, como se fosse aquele namoro de criança que não havia beijo, só dar a mão bastava. Mas eu queria o beijo também, não queria só a mão! Queria o corpo todo. Eu e meus pensamentos, sempre quis romance, agora que o romance vem, eu quero carne, quanta contradição meu Deus!

-Já que tu se apresentou, me chamo Ana Clara Caetano Costa, mas isso tu já deve ter visto nos registro do hotel, né? - Ela levantou os braços rindo,  como quem acabou de ser presa assumindo a culpa. -Imaginei!!!! Também nasci em Araguaína, meus pais também continuam lá. As coincidências não param por ai não em, também me mudei pra São Paulo, sou médica e compositora nas horas vagas. Tenho três irmãos, tudo na área da saúde, Érica, Rafael e Luana que é a minha miniatura. Vim passar as férias nesse paraíso pra fugir da vida um pouco. Não fui casada no papel, mas morei muito tempo com minha ex, já nem lembrava mais como era ser solteira. Vim pra cá e dei um mês pra ela sair de casa, espero que ela já tenha saído. Não sei o que me espera quando voltar, sei que precisava desse tempo meu, sempre sai de um relacionamento e logo emendava em outro.

 Não queria falar do meu término, acho que ela entendeu isso. Letícia por muito tempo me fez bem, mas no fim se mostrou uma completa idiota. Jogou fora o que tínhamos por causa de casos com residentes do hospital. Foi vergonhoso, todos no hospital sabiam, menos a trouxa aqui né. Não aguentava mais as fofocas e mudei de emprego, mas do apartamento quem ia mudar era ela. Já deixei ela de presente lá com os casinhos dela.   

-A gente não precisa de outra pessoa pra ser feliz Ninha, nossa companhia tem que ser suficiente. Mas se uma pessoa chega, e faz multiplicar essa felicidade, não tem como ignorar uma coisa dessas. Nada me faltou em casa, muito menos o amor, as pessoas que chegavam só não faziam a minha felicidade se multiplicar a ponto de eu querer largar a minha liberdade. Acho que criei um patamar de felicidade tão alto que não aceitava nada menos do que estipulei. A vida é muito bonita pra ficar presa sabe?

Não respondi nada, só assenti com a cabeça. Ela tinha razão. Eu me contentava com aquilo que tinha, não fazia noção de que merecia mais do que me era oferecido. Ficamos em silêncio por um tempo observando os casais dançarem na pista, Analu e Sabra ainda não tinham voltado. O silêncio não era um incômodo, as palavras da Vitória ecoavam na minha cabeça. Despertei dos meus pensamentos quando ouvi a voz rouca dela:

Quis evitar teus olhos

Mas não pude reagir

Fico à vontade então

Acho que é bobagem

A mania de fingir

Negando a intenção

Ela esticou a sua mão até a minha, me puxando sutilmente até a pista de dança. Balançávamos o corpo no ritmo da música, nosso corpo estava colado, sua voz baixa cantando no pé do ouvido, era quase que um sussurro. Relaxei minha cabeça em seu ombro e esqueci de todo o resto. Aqui minha felicidade estava sendo finalmente multiplicada e não dividida. 

Sabra e Analu esbarraram na gente no meio da dança, quando se deram conta que éramos nós duas Sabra gritou: -Além de cantora, minha cunhada também é dançarina? Casa logo Vitória!

Afundei mais ainda meu rosto no colo de Vitória, eu já tinha uma cunhada? Uma não, duas! Já ia "casar" de novo? 

-Relaxa Ninha, sua cun..., digo, Sabra é uma paiaça! - Me deixou um beijo carinho na testa e continuamos dançando. 

Não lembro de ter me sentido assim tão leve recentemente, mesmo com Letícia. Não conversávamos direito, há tempos não fazíamos uma programação assim, de ir pra um lugar mais romântico e dançar. O silêncio com ela era pesado. Tudo com Vitória estava sendo diferente. não gosto de comparações mas acabou sendo inevitável. 

-Vi, se importa se eu for pro quarto? 

-Mas é claro que não Ninha, vamos dar tchau pra Tatinha que te levo lá.

O casal estava rodopiando perto do palco nos aproximamos e Vitória falo:

-Sabra, tamo indo já, Ninnha tá cansada, e é melhor eu descansar também pra levantar cedo amanhã.

-Descansar? As pombinhas não vão aproveitar a madrugada? -Acho que ela gostava de me deixar sem graça, marseráubinidito!

-SABRA!!!!!!! - Vitória levantou a voz repreendendo a irmã.

-Já que o casal prefere dormir, nós aproveitamos em dobro, pra compensar! -Analu disse piscando pra mim.

-Agora é sério Vivi, amanhã o dia tá tranquilo de trabalho, enquanto tu e Ana ensaiavam hoje, já deixei tudinho pronto para os próximos eventos. Que tal fazermos alguma coisa por esses dias ?

-Tu topa Ana? Tá livre? -Vitória me perguntou.

-Mas é claro! Cês sabem aonde me achar!!

Nos despedimos, e fomos embora. Vitória fez questão de me deixar na porta do quarto.

-Prontinho Senhorita! Está entregue, sã e salva!

-Obrigada pelo dia Vi. Foi tudo muito lindo. Tu nem sabe o bem que fez.

-Acho que tenho uma noção, Ninha. - Ela sorriu um pouco acanhada.

Fiquei na ponta do pé e deixei um beijinho no canto da sua boca. -Até amanhã, leãozinho. - Sem dar oportunidade pra ela retribuir virei de costas e entrei apressada no quarto. Pelo olho mágico pude ver que ela ainda estava parada no lugar em que a deixei, com a mão no canto da boca.

  



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