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VITÓRIA POV

Não gostava de sair anunciando que eu sou dona de uma rede de hotéis. Não parece ser o caso, mas as pessoas acabam tentando se aproveitar disso. Pra mim era cômodo, porque dificilmente me envolvia emocionante com as mulheres que eu me relacionava. Elas queriam luxo e eu queria sexo, todo mundo saia ganhando. Nossas conversas eram sempre superficiais e nada era duradouro. Nunca fui atrás de mulher nenhuma. Muito menos mandei um café da manhã, com uma flor e um bilhete. Alguma coisa está estranha em mim, eu não sei afirmar o que é, mas sei que está.

-Você é dona do hotel que eu estou hospedada? - Ana Clara me perguntou incrédula.

-Ele não é só meu, é da minha família. Vim pra cá pra poder divulgar as novas instalações e promover os eventos do hotel.

-Por isso que ontem todo mundo que chegava ia falar com você! Agora faz sentido.

Eu ri! -Por isso mesmo. Aproveitei e chamei uns amigos que eu não via há um tempo. Ficamos conversando até que te vi sozinha no bar. Não podia te deixar lá, né!

-Quer dizer então que você estava me vigiando de longe? -Ela me pegou desprevenida com essa pergunta.

-Talvez! Nunca se sabe...

Pedimos a conta e ficamos andando pela praia. Sentamos na areia pra assistir o por do sol. O céu estava pintado de rosa e laranja, uma coisa de louco de tão lindo.
Discretamente, cheguei um pouco mais pra perto dela, reclinei meu corpo para trás e apoiei minha mão atrás das costas dela, fazendo com que ela apoiasse o corpo em mim.
Ficamos distraídas ali por horas, até o toque do celular da Ana invadir nossos ouvidos. Era o motorista do ônibus avisando que já estava na hora de voltar, que só faltava ela na van para eles partirem.

- Podemos ficar mais tempo se tu quiser...

- Mas a van já tá indo embora.

-Cê quer ir embora agora?

-Quero não! - Ela se virou me olhando nos olhos. 

Sem desviar o olhar, peguei o celular e liguei pro motorista avisando que a Ana Clara não ia voltar com a van.

Ainda com o olhar fixo no meu, ela apoiou sua mão em cima da minha coxa, pude sentir seu toque quente me acariciando com cuidado. Sua respiração estava tão próxima que eu também conseguia senti-la quente.
Sob a luz da lua, delicadamente a puxei pra perto de mim, grudando nosso corpo em um abraço.  Aos poucos ela foi se envolvendo em mim, me fazendo ter urgência pelo seu toque. Por mais que eu quisesse tê-la ali, eu não podia me precipitar, pela primeira vez eu não queria só sexo. Não sei mesmo porque estou pensando nessas coisas. Mistério.. 

Antes de voltar para o hotel andamos um pouco mais pelo centro de Maragogi, apesar de não termos nos beijado, nossas mãos não se desgrudaram hora alguma depois que se encontraram. Durante nosso rolê pelo centro, meu telefone tocou algumas vezes, era Sabra. Esqueci completamente de ligar pra ela e para os fornecedores que ficaram faltando. Preferi ignorar a sua ligação, depois eu me resolvo com ela. 

ANA CLARA POV 

Vimos o sol se pôr grudadas uma na outra. O corpo dela era maior que o meu e quente. Me envolvia de uma forma que não senti falta do meu casaco. Sua pele era macia, seu toque delicado.Tudo estava perfeito demais para ser verdade. As ruas estavam cheias, os bares então, lotados, a música ecoava, não tínhamos um destino certo, só estávamos andando na tentativa de prolongar um pouco mais o dia. O celular da Vitória começou a tocar incessantemente, ela apenas ignorava as ligações. Em uma das vezes, consegui ver o nome Sabra na tela. Quem seria?  Não somos nada uma da outra. A química é evidente, assim como o desejo, o encaixe, mas no fim das contas, a conheci ontem. Mas uma coisa é certa, não estou aqui pra ser a outra. 

Fiz menção para irmos embora, Vitória entendeu o recado. A volta pro hotel foi em total silêncio. Sua mão descansava na minha coxa esquerda e por vezes eu retribuía o seu carinho quando esquecia das ligações. Até Vitória resolver quebrar o silêncio.

-Ana Clara, tá quieto demais aqui!!! Toma, escolhe uma playlist boa. - Ela me entregou o celular dela!! Ele tava ali, na minha mão. Ignorei o fato daquele objeto me causar ciúmes (?) e botei Nando Reis pra tocar, logo ela reconheceu a música que tocava e cantou junto. PUTA QUE PARIU BRASIL!!!!! Que voz é essa? 

Fechei meus olhos e apertei a sua mão, fiquei quieta a ouvindo cantar.

"Por onde andei

Enquanto você me procurava?

Será que eu sei

Que você é mesmo

Tudo aquilo que me faltava?"

-Tu canta tão lindo Vitória!! - Ela corou na hora.

-Oxe, canto? A música só vem pra mim e eu vou pra ela. Ahhhh tu entendeu. - Falou entre gargalhadas.

Fomos interrompidas por mais um toque no celular dela, Sabra mais um vez. Já não aguentava mais ler aquele nome. Seria o apelido pra Sabrina?

Ela me olhou pedindo um minuto e atendeu no alto-falante do carro. Ela não tinha noção mesmo, eu ainda era obrigada a ouvir a conversa do casalzinho. Amarrei a cara na hora.

-Vitória, onde tu tá? - A voz do outro lado gritava.

-Boa noite pra tu também Tatinha. -Vitória falou em tom irônico.

-Agora não Vitória. Tô igual uma louca atrás de tu. Até o Papa tá te ligando. - A voz da Sabra foi se acalmando. -Tu não viu teu celular hoje ainda não?? - Vitória fez cara de desentendida. Ela estava séria.

-Vi não Sabra, resolvi tirar o dia de descanso. -Ela falou calma voltando o olhar pra mim, me dando um sorriso. Que porra era essa? Só podia ser sacanagem dela.

-Belo dia né Vitória. Oh, o Felipe me ligou, falou que o Tiago, o músico que ele contratou pra cantar no hotel amanhã não vai mais poder. Ele tentou te ligar, mas tu não atendeu. -Respirei aliviada nessa hora. Era trabalho. Mas eu ainda não sabia quem era a tal da Sabra. 

-Tu podia cantar Vitória. - Falei num sussurro.

-Quem tá aí Vivi? -Não falei baixo o suficiente pra Sabra não ouvir, droga!

-Tatinha, depois te ligo vou resolver isso, fica tranquila mulher.  - Vitória não respondeu quem eu era, achei estranho né.

-Ninha, eu nunca cantei fora do banheiro e do carro. O Tiago tinha tudo pronto já, banda, repertório...

Ignorei todo o ocorrido e foquei em ajudar Vitória.

-Se tu topar, arrumamos o repertório assim que chegar no hotel.

-Tá, mas e a banda? Num toco nadinha.

-HÁ! - Falei num grito. -Mas eu toco. O Tinho ta no quarto do hotel.

-Tu toca???? E quem é Tinho???? - Ela disse curiosa.

- Meu violão. E música pra mim é só um hobby, mas acho que consigo te ajudar. - Assim desbanco a Sabra. Ri do meu próprio pensamento. - Não tenho plano nenhum pra amanhã, se tu topar, podemos ensaiar o dia todim pra ficar tudo lindo. 









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