Estava tudo tão diferente, era o mesmo lugar, a mesma sacada na qual costumava ir toda manhã tomar o meu café.
Eu sabia que minha perda de memória não faria com que eu não vivesse o que estava por vir.
Aquela vista para a praia e para o mar aberto e o som dos pássaros logo cedo cruzando o céu, só podia me dar mais certeza de que eu estava mesmo no Rio de Janeiro e que agora esse era o meu lar.Me espreguicei e quase deixei minha caneca cair da mesinha da sacada do prédio, mas logo a peguei.
Ao fundo a música nova de Renan tocava no rádio, no programa matinal que eu sempre gostava de ouvir.
Carlos decidiu vir até o Brasil e ficar digamos que por tempo indeterminado.
- Callan? - Disse meu irmão entrando na sacada e se sentando ao meu lado.
Eu levantei a cabeça e levantei as sobrancelhas, enquanto ele arrastava a cadeira e se sentava.
- Então, pensei em passar o fim de semana em Petrópolis com o pessoal do curso de teatro. Então, eu posso ir? - Disse Carlos com uma certa timidez na voz e ansioso.
Eu suspirei e logo em seguida eu ri.
- Amigos do teatro!? Carlos, você entrou no curso ontem.
- Eu sei, mas o pessoal aqui me recebeu muito bem, incrível como o pessoal daqui são mais receptivos que os de Nova York.
- Carlos, a mamãe me deixou responsável por você e você não tem ainda nem a maioridade, eu nem conheço o pessoal desse curso.
- Cal ... por favor? Você teve as suas oportunidades de se aventurar no mundo, por que eu não posso?
- São situações diferentes, você sabe muito bem disso, já falamos sobre isso.
- Tudo bem, cada dia que passa você fica mais parecido com o papai.Carlos, se levantou chateado e foi em direção à porta da sacada. Aquilo me fez pensar um pouco, o garoto estava fora do país dele e não tinha amigos aqui e talvez seria uma ótima oportunidade de conhecer pessoas boas, mas eu tinha medo e definitivamente eu estava me sentindo pai do Carlos, eu sei que ele já tinha idade pra cuidar de se mesmo, mas enfim ... resolvi concordar.
- Carlos, espere.
Ele se virou pra mim e eu me levantei indo até ele.
- Tudo bem, você pode ir. Mas ...
- Sério, Cal?Os olhos dele brilhavam e um sorriso de orelha a orelha se formou, enquanto ele me abraça com força e repetia - Você é o melhor irmão do mundo.
- Olha, Carlos. Eu quero conhecer pelo menos alguém que vá com vocês, sei lá ... o responsável ... organizador ... sei lá, alguém!
- Isso é fácil, ele tá aqui.
- Ele quem? - Perguntei surpreso.
- Rodrigo.
- Quem é Rodrigo?
- O cara que está organizando a viagem, ele tá aqui na sala, vem aqui.Confesso que não gostei disso, Carlos sabia que eu não era muito fã de receber ninguém no apartamento, não só por mim, mas por respeito ao Renan que estava viajando divulgando a nova música.
Chegando na sala, vi Rodrigo de costas olhando um dos porta-retratos com as fotos de minha mãe e Jordan com meu afilhado em mãos.
- Rodrigo, esse é meu irmão ... o Cal, ele deixou que eu vá com vocês.
Quando Carlos o chamou e ele se virou, vi ele já vindo em minha direção com a mão estendida.
Rodrigo, era moreno e de cabelos escuros e liso.
Tinha os olhos grandes e uma barba por fazer.
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Somos Um // Mais Um Verão
RomansaUm especial para o dia dos namorados, do livro Somos Um. Conta a história a partir de quando Renan finalmente reconhece seus sentimentos por Cal. Lançamento 01/06