Capítulo 4 - O Perfume.

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Cheguei no apartamento e coloquei as chaves no aparador, próximo à porta.
Fechei meus olhos e passei a mão no meu cabelo, tomando ar.

Agora era a minha vez de preparar a mala pra pegar o vôo no sábado.
Antes de abrir os olhos escutei chamar o meu nome.

- Callan ...

Uma voz de mulher, uma voz que eu conhecia bem. Era a Jordan.
Esbanjei um sorriso e abri os olhos, vendo ela sentada no sofá com seu filho Miguel em uma cadeirinha, repousando em sono profundo.

- Jordan!

Fui até ela. Ela se levantou com cuidado e me abraçou com força. - Que saudades ... - Eu disse.

- Saudades? Você tem meu número e o meu endereço, não foi me visitar e nem ver seu afilhado, porque não quis. - Ela disse se sentando no sofá.

- Como sempre bem direta né?!
- Não é pra ser?
- Sim ... mas enfim, como está as coisas?

Me sentei e olhei pra ela ainda com aquele sorriso no rosto.

- Estão bem, nada de grandes novidades ... mas eu queria saber se você estava bravo comigo ou algo do tipo, pois tem muito tempo que não nos falamos.
- Olha as Neuras, estava demorando ...
- Garoto, você me respeita que sou muito mais velha que você.
- Idosa.
- Alguém aqui perdeu mesmo o amor à vida, não é mexxxxmo?
- Iiiih, olha o sotaque, tá quase uma brasileira carioca já, quer ver ... daqui a pouco, está chamando Cookie de Biscoito.
- Pra mim é biscoito, oushe.
- Uiiii ... eu sou a Jordan, a americana que fala Bixxxcoito.

Eu comecei a imitá-la e até a mudar a voz, enquanto ria e debochava da cara dela.

- Esse aí, esse é o Cal. Esse é o meu menino que trabalhava comigo na cafeteria.
- Ãn? Como assim? - Perguntei sem entender.
- Você mudou muito depois da morte do Ryan, se tornou ... bem como posso dizer. Mais frio, seco as vezes e te ver assim, zoando ... me faz lembrar daqueles bons momentos na cafeteria de Nova York.

Ao ouvir isso, meus olhos desviaram para a mesinha de centro. Eu estava sem graça, eu não sabia que tinha mudado tanto e me lembrar do Ryan, meu melhor amigo, sempre me bate uma tristeza forte. Uma saudade sem explicação.

- Cal, eu não disse isso como crítica, mudar é bom. Você se tornou um grande homem. Olha tudo que você conquistou. Vai se casar, bom ... nunca achei que seria com o Renan, mas já que deu certo, que ótimo. Mudanças Callan, são necessárias. Eu já não sou mais a mesma mulher de 3 anos atrás, que trabalhava em uma cafeteria e que morria de medo do ex marido psicopata. Muitas coisas boas aconteceram pra nós dois. Só te dou um conselho, não deixe aquele Cal de Nova York morrer dentro de você, aquele Cal, que chamava a Dove de marca de Sabonete, o Ryan de quatro olhos ... o Cal que recebia varias cantadas no balcão da cafeteria de meninas que nem sonhavam que você era gay. Não deixe isso se perder dentro de você. Se você está aqui hoje ... é por causa desse Callan.

Eu olhei pra ela e dei um sorriso.

- Você tá certa e sabe o que eu estava reparando?
- O quê?
- Eu era o Caio.
- DEEEEUS ME LIVRE! Não se compare com o Caio.
- Por que não?! Eu era o palhaço seu e o Ryan.
- Sim ... você era o nosso palhaço, mas não era burro como o Caio. Que Deus me perdoe, mas eu não sei qual é a daquele menino. Ele só pode ter um parafuso a menos. Semana passada, ele foi visitar o Miguel. Foi ele e a namorada, que aquela é outra que não bate bem da cabeça, enfim ... se merecem. Então, chegaram no apartamento e simplesmente começaram a comer tudo que estava na geladeira, os dois... ele e a namorada.
Pedi ao Marcos para fazer alguma coisa, mas deu em nada, o Caio não tem um pingo de noção. Sem contar que ainda resolveu ir para a piscina do prédio ... A piscina que é de uso apenas dos moradores. Ele desceu o elevador cheio de boia, óculos e pé de pato ... ridículo. Mas, confesso eu ri muito de ver todo mundo olhando pra ele.

Somos Um // Mais Um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora