Capítulo 1 - Aquele do meu primeiro amor

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Revisado em 2024

⚠️ Pode conter gatilhos.

Capítulo 01 - Aquele do meu primeiro amor.

Ninguém esquece o seu primeiro amor.

Em alguns casos raros e sortudos, o primeiro se torna o último, e esse era o meu objetivo. Afinal, eu sempre soube que o meu primeiro amor era perfeito, e que eu não precisaria de um segundo, nem de um terceiro, eu só precisava dele.

Hoje, dez anos depois da primeira vez que eu o vi, eu ainda lembro do dia em que eu o conheci. Bem, não sei dizer se a palavra "conheci" se encaixa exatamente, mas foi certamente o dia em que eu me apaixonei, foi a faísca inicial para o fogo que iria se instalar no meu coração por todos esses anos.

Eu ainda era um novato na escola e por consequência não conhecia ninguém. Naquela época eu era apenas uma criança, tinha não mais que oito anos, acho incrível, pois ainda assim me lembro com total clareza, como se tudo aquilo tivesse acontecido há apenas poucas horas. Essa era uma daquelas memorias marcantes que definem todo o resto da sua vida.

Já estávamos o segundo mês de aula e eu ainda não havia feito nenhum amiguinho. Me sentia extremamente solitário naquele ambiente, onde eu brincava sozinho, comia sozinho. Era uma tortura diária. Mas o meu isolamento não intencional não era nenhum mistério, afinal eu era considerado por todos e até por mim mesmo como muito estranho. Minha pele alva, quase sem pigmentação, meus olhos violeta muito claros, cabelos loiros quase brancos, lisos, tocando meus ombros. Eu era facilmente confundido com uma garota, e claro que os meninos percebiam isso e faziam de mim o principal alvo para as brincadeiras de mau gosto e agressões. E eu nem era uma garota bonita, era um monstro, uma assombração, como eles gostavam de chamar.

Eu sentia que aquele seria para sempre a minha vida. Sozinho, excluído e mal tratado. Odiava a ideia que ninguém jamais gostaria de mim, ou que seria no mínimo gentil comigo. Eu costumava sonhar acordado com o dia que alguém esbarraria em mim e pediria desculpa, o dia em que alguém me veria como uma pessoa. Que eu compartilharia risadas, não sobre mim, mas comigo.

Entre todos os péssimos momentos daquelas horas diárias de tortura na escola, existiam os que conseguiam se destacar ainda mais, como nessa disciplina, a maldita educação física. A única matéria que separa os brutos dos inteligentes e favorece os primeiros.

E, entre tantos brutos, existia alguém, uma criança de oito anos que era perfeita.

Uma criança que me mostrou que o mundo não precisava ser esse tom de cinza.

Ele tinha chegado atrasado, explicou o motivo ao professor muito bem articuladamente para alguém da sua idade. Tentei ouvir discretamente às palavras daquela figura nova e desconhecida. Segundo ele, estava em uma viagem com os seus pais e esse seria o seu primeiro dia de aula naquela escola, mesmo estando alguns meses atrasado. Eu fiquei intrigado e curioso instantaneamente, algo nele me atraiu antes mesmo que eu pudesse perceber que sentia esse impulso em mim.

Ele cumprimentou a todos com seu sorriso gigante, a primeira das muitas vezes que eu veria aquele gesto caloroso e tão único do moreno. O David já era popular desde pequeno, a sua simpatia não fora algo adquirido com o tempo, ele simplesmente tinha o dom para lidar com pessoas. Aliado a sua simpatia nata, o jovem ainda possuía uma beleza singular. Seu corpo era magro, não tanto quanto o meu na época, e ele mantinha um frequente sorriso sapeca em seus lábios finos. Seus cabelos eram muito pretos, quase o oposto dos meus, e caiam em seu rosto por uma franja rebelde, destacando os seus profundos olhos cinza.

E mesmo que sua beleza fosse hipnotizante, não foi a sua aparência divina que me chamou a atenção, até porque eu era muito novo para reparar em algo assim. Eu o achei lindo, ele tinha todos os traços que eu queira ter, naquele momento, assim que meus olhos caíram sobre ele, eu queria ser ele. E se fosse por isso, tudo bem. Ele seria apenas mais um garoto mais bonito e forte do que eu. Mas não, não foi isso que me fez o amar, foi o seu caráter. Mesmo que na época eu não soubesse exatamente o significado daquela palavra, ainda assim eu soube reconhecer pela sua atitude.

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