Capítulo 2 - Aquele do conselho.

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Revisado em 2024.


Foi somente aos meus 12 anos que comecei a entender o que aquele sentimento desconhecido, aquele calor no peito e sorriso involuntário significavam.

Desde o incidente há quatro anos, eu e o David não voltamos a nos falar, aquela havia sido a primeira e última vez. Meus pais tinham sido chamados a diretoria, o monstro expulso e mais algumas medidas de segurança tomadas, mas meus pais não entraram em detalhes comigo, eles mesmo devolveram a roupa que peguei emprestada e os detalhes de toda a resolução continuavam sendo um mistério para mim.

Durante todos esses anos ele continuava em minha turma, mas parecíamos ser de universos diferentes, ele andava com os populares e eu andava sozinho. Não sei porque eu achei que as coisas iriam mudar. Eu deveria ter tido a coragem de falar com ele antes, sempre que ele passava por mim ele me mandava um aceno de cabeça, um oi silencioso, e eu corava e tremia. Talvez eu realmente fosse uma assombração. Mas a ideia de falar com David me aterrorizava e eu não conseguia entender o porquê.

Acho que foi nessa época que descobri que estava apaixonado por ele, afinal é com cerca de doze anos que os garotos normais começam a perceber as meninas. No vestiário eu sempre os ouvia comentar barbaridades sobre o corpo das meninas mais velhas, mas eu não dava a mínima importância para isso. Eu percebia coisas diferentes deles, eu percebia que o David, meu herói de cabelos negros, ficava cada vez mais alto, que seus olhos cinza brilhavam mais que as estrelas, que ele teve a sua primeira espinha. Eu percebia o David e nada mais ao meu redor. Eu lembro de uma vez em que eu estava tendo uma conversa com um dos meus pais, e agradeço a ele desde então pelo conselho, afinal foi por essa conversa que tomei uma atitude.

— Pai? — Entrei no quarto meio incerto. Meu pai Rodrigo era o mais calmo e mais fácil de conversar, eu tinha até um pouco de medo do meu pai Marco. Ele era um pouco superprotetor demais, e depois do incidente as coisas pioraram bastante.

Espera, acho que isso deve estar confuso para você, não você não leu errado. Eu tenho dois pais homens, e apesar de ser filho de um casal homoafetivo, eu não sou adotado. Meu pai Marco era meu pai biológico, ele engravidou a namorada acidentalmente ainda no ensino médio, quando ambos tinham dezesseis anos, mas não deu certo. Bom o motivo é obvio, meu pai é gay. Mas isso é conversa para outra hora, deixe-me continuar com a conversa anterior, onde eu parei? Ah sim...

— Pai? — Perguntei com um tom de voz baixo entrando no quarto sem permissão.

— Danny, o que foi filho? — Meu pai Rodrigo era um homem muito lindo, tinha uma cara de bravo, mas o coração mole. Ele tinha traços típicos de hispânicos, além de ser muito alto e manter um corpo musculoso, devido ao seu vício em academias e profissão como personal trainer, era comum as pessoas se precipitarem e lhe julgarem como grosseiro pela sua aparência. O choque era ainda maior quando elas descobriam que ele era meu pai.

— Pai, quando é que a gente sabe se está gostando de alguém? — Meu pai sorriu ao ouvir isso, me pegou nos braços facilmente, como se eu não pesasse nada, e deitou junto a mim na sua cama de casal.

— O primeiro passo é se perguntar se está gostando da pessoa. — Ele riu melodicamente. — Quem é a garota? Ela é bonita? É do seu colégio? — Disparou perguntas, possuído por curiosidade paterna.

— É u-um m-m-menino. — Senti meu rosto esquentar. Eu gaguejei tanto que eu até hoje não sei como o meu pai decifrou o que eu lhe falei, mas ele pareceu entender e acima disso, não se importar.

— E como ele é? — Meu pai perguntou enquanto acariciava os meus cabelos. Aos doze anos meus cabelos loiros estavam maiores, desde que o David os elogiou eu nunca mais cortei, eles agora chegavam até a minha cintura, o que piorava a minha cara de menina, mas eu aprendia cada vez mais com o tempo a não me importar.

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