Capítulo 3 - Aquele em que tomei coragem.

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Revisado em 2024


O fim de semana se passou vagarosamente. Eu o passei inteiro pensando no que poderia fazer para conversar com o David e confessar meu amor ao moreno. Eu já tinha planejado tudo em minha cabeça. Iria chegar bem cedo na escola e colocar um papel na banca do David, lá eu iria escrever que precisava de ajuda com uma matéria e perguntar se ele podia me encontrar no final da aula para me explicar o assunto. Como ele era inteligente e prestativo me ajudaria e não iria acompanhado dos amiguinhos chatos dele, e dessa forma nos conheceríamos melhor.

Mas afinal estamos falando de mim, é obvio que não aconteceu como previsto. Eu cheguei todo animado na sala, duas horas antes do horário, mas o faxineiro ainda estava limpando e só me deixou entrar quando terminou o serviço. Quando ele terminou a limpeza, faltava apenas meia hora para começar as aulas, sendo assim, já tinha várias pessoas da minha classe por perto, e eu não tive coragem de fazer isso na frente delas.

Fiquei as três primeiras aulas do dia distraído, imaginando como eu entraria em contato com o David. E teria que ser ainda hoje, não queria esperar nem mais um dia. Passadas as três primeiras aulas, chegou a hora mais horripilante do dia: A educação física. Eu sempre arrumava alguma desculpa e ficava na arquibancada fingindo ler algum livro enquanto secretamente apreciava o David, ele jogava muito bem qualquer esporte.

Dessa vez algo diferente aconteceu, o treinador velho que acreditava em minhas desculpas esfarrapadas não estava mais lá, agora um homem jovem seria nosso novo professor.

— Quero todos os meninos aqui. — Me aproximei do grupo que se formava em volta do professor, enquanto as meninas ficavam na arquibancada conversando ou fazendo qualquer futilidade do gênero.

— Daniela, você não entendeu? Só os meninos. — Um garoto chamado Sean falou se referindo a mim, fazendo todos os outros rirem. Menos David e o treinador. Este último se apresentou e disse que se chamava Russel. Olhou atento, me analisando, acho que ele ficou em dúvida se eu era um menino ou uma menina e não queria fazer nenhuma suposição errada em seu primeiro dia.

— O Daniel não é muito fã de esporte, treinador. — David falou, marcando bem a palavra Daniel, no masculino.

— Daniel, você tem algum problema de saúde? — Eu balancei a cabeça negando, estava odiando toda aquela atenção voltada para mim. — Bom, então infelizmente você terá que jogar. — Eu o olhei com a minha melhor cara de coitado, tentando com muito esforço o fazer ter pena de mim, mas mesmo assim ele insistiu em me colocar no jogo. — Quem aqui já jogou basquete? — Todos levantaram a mão, menos eu. — Vejo que foi a maioria, então quero dois meninos para serem os capitães dos times. O Sean levantou a mão no mesmo momento que o treinador falou capitão e ficou me encarando como se me ameaçasse a ser o próximo capitão, virei meus olhos para ignorá-lo. Os outros meninos começaram a nomear o David e ele disse que queria ir. — Ótimo, agora quero que vocês escolham o time. — Eles ficaram em frente ao treinador e jogaram pedra, papel e tesoura. O David ganhou. — David, escolha um menino para ficar no seu time. — Ele olhou ao redor, todos os amigos dele, que não eram poucos, o olhavam com expectativa de ouvir seu nome sendo chamado pelo garoto.

— Daniel. — Todos olharam para mim, e eu olhei para trás. Deveria ter dois Daniels na turma, porque ninguém em sã consciência me escolheria. — É você mesmo, loirinho. — Senti minha face esquentar, ele me chamou de loirinho. Caminhei até atrás de si, o Sean me olhava com ódio, até hoje nunca soube o que ele tinha contra mim, ele era assim desde... Sinceramente? Ele sempre foi assim. Adorava me importunar e parecia ter um prazer particular em fazer da minha vida um inferno. Após um decorrido tempo os times estavam todos formados.

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