Capítulo 6 - Aquele dos dois momentos.

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Capítulo 6

Aquele em que me permitir amar

"Queria que ele fizesse carinho no meu cabelo e me dissesse o que eu queria ouvir. Queria que ele precisasse de mim como eu preciso dele, queria que ele não conseguisse viver sem mim. Mas querer não é poder. "

Aquele ano se passou rapidamente e como todos ele teve os seus bons e maus momentos. Simplificar esses momentos se tornou bastante simples já que eles se limitavam basicamente a uma pessoa, o David. Coisas como ter minha primeira vez com o menino que amo que foi algo simplesmente incrível e inesquecível, mas em contrapartida ter que ouvir dele como era dormir com outras pessoas era uma realidade terrível. Imagino, portanto que não seja um ano muito interessante para vocês, afinal é apenas 365 dias na vida de um cara na friendzone, sofrendo por uma paixão impossível. Alguns dias era um sonho e outros um completo pesadelo, toda vez que eu imaginava que o David poderia ser só meu, a realidade, aquela vadia sem coração caia por cima de mim arrastando meu rosto pelo asfalto e deixando bem claro que para o moreno eu nunca seria mais do que um amigo.

Na realidade duas coisas terríveis me aconteceram naquele ano que foram definitivos para que minha vida mudasse. O primeiro fato, que acabou por desencadear o segundo foi surpreendente. O David, aquele hipócrita, ele se apaixonou. Para a minha infelicidade ele não se apaixonou por mim. Na realidade ele se apaixonou por um garoto que não tinha nada a ver comigo e sinceramente, nem com ele. Um garoto era inocente e tímido e eu admito que no inicio eu pensei que o garoto seria apenas mais uma conquista para o inabalável David. Mas a medida em que o tempo foi passando eu comecei a sentir pena do meu amigo, isso mesmo, pena do incrível David. Apesar de negar, era obvio o quanto o moreno estava apaixonado pelo menino. Uma bela ironia, pois parecia que o universo conspirava para que os dois não ficassem juntos e por mais que o David quisesse mais, ele acabava sendo apenas mais uma conquista.

Doeu muito em mim quando eu soube que aquele sentimento do David pelo garoto era algo mais do que mera atração. Eu estava acostumado a vê-lo com outros, mas eu era o amigo, ele me amava, eu significava mais do que qualquer outro iludido que ele estivesse no momento, mas aquele menino, aquele menino tinha algo a mais. Algo que eu não tenho. Algo que eu nunca vou terei e que foi capaz de fazer com que o David se apaixonasse, e que ele não conseguisse parar de pensar naquele inocente garoto por um segundo sequer.

Era notável o fato de ele estar apaixonado, seus suspiros longos fora de hora, seus sorrisos sem motivos, tudo que eu já senti por ele, ele agora sentia por outra pessoa, e como aquilo doía. Machucava mais do que qualquer caso que eu tenha presenciado. Porque aquilo significava algo. E apaixonado ou não, o David continuava a ser meu melhor amigo, e eu estaria ao seu lado, para ajudá-lo a entender aquele sentimento desconhecido, aquela necessidade repentina de estar constantemente ao lado de alguém, ajudá-lo a superar aquela dor que parecia vim do fundo da sua alma, quando você percebe que o seu amor não é correspondido. Afinal, eu mais do que ninguém poderia entender o que era aquilo.

Neste mesmo ano eu sofri um acidente de carro, você deve pensar que essa é a segunda coisa ruim do meu ano, mas como eu queria que fosse apenas um acidente a próxima coisa ruim. Na realidade esse acidente foi como uma revelação para mim, ele acabou se tornando algo bom, eu decidi superar o David por causa dele, eu sei que no amor a gente não escolhe esquecer, mas pela primeira vez na minha vida eu escolheria tentar. Tentar seguir em frente, tentar ser feliz sozinho.

Quando eu sofri meu acidente estava voltando de uma festa qualquer e um cara qualquer estava ao meu lado, bêbado, dirigindo o seu carro. Ele acabou perdendo o controle e batendo em um poste. Eu ainda me lembro das luzes e do barulho, do medo. Eu vi sangue e o sangue saia de mim, eu iria morrer ali, e eu iria morrer sem nunca ter sido amado.

Qual é o propósito da vida, se não cativar o coração de alguém? Eu iria morrer ali, e nenhum coração estaria despedaçado. Pode soar egoísta, mas era isso que se passava na minha cabeça naquele momento. A minha morte seria simplesmente superável, e um dia eu seria eventualmente esquecido. Meus pais sofreriam, mas eles tinham um ao outro, assim como o David teria seu amor, minha mãe seu marido.

Eu desejei morrer quando percebi aquilo, quando percebi que eu era apenas uma peça incompleta. E foi desejando a morte que desmaiei. Quando acordei no hospital, sentindo aquela claridade ferir minhas retinas, quando acordei e me dei conta de qual seria meu último pensamento antes de morrer, eu ri do escárnio da minha estupidez. Afinal, eu desejei a morte simplesmente por não ter ninguém que me amasse? O quão idiota eu havia sido. Julguei a mim mesmo, analisei e cheguei tão facilmente à conclusão que me assustou. Como eu poderia cativar alguém se eu jamais permitira que isso acontecesse? Minha zona de conforto era o David, e qualquer um que me fizesse começar a sentir algo era perigoso, e eu me afastava tão rápido e por motivos tão estúpidos.

Então eu me decidi, quando eu acordei naquele hospital, ouvindo o choro dos meus pais e da minha mãe, ouvindo aquele choro tão profundo, tão verdadeiro. Eu decidi. Decidi me deixar ser amado. Não iria procurar o amor, não, apenas iria parar de me esconder dele. Pois como já dizia Cora Coralina "nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas".

Mas afinal qual teria sido a segunda coisa tão ruim no meu décimo sexto aniversário? Se eu conseguira ver algo bom até mesmo em um acidente de carro. O que seria capaz de ser considerado algo tão terrível que se se equiparia com o fato do meu primeiro amor ter se apaixonado por alguém que não era eu?

Bom, essa coisa tem quatro letras, um maldito sorriso prepotente e se chama SEAN.

A historia anterior, essa que você leu até aqui era sobre amor, mas agora é guerra!

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