10. Solução laranja

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Utilizaria ingredientes improvisados para recriar a solução. Replicar era mesmo sua especialidade.

Passaram-se cinco horas após o fim do jantar, chegando ao horário de meia-noite. Enquanto aguardava o retorno do sobrinho, Dr. Crow lia um livro — uma versão moderna de Frankenstein, recomendada por Mori. Apesar de parecer interessante e ser inspirado em um clássico tão antigo, concluiu que o enredo não honrava a obra original.

Estava chegando aos capítulos finais quando ouviu a porta da sala permitindo alguém entrar.

Sem pressa, ele guardou o livro na estante anotando de cabeça a página em que parou — não voltaria a lê-lo, caso contrário, teria marcado com algo mais confiável do que a memória.

Saindo da biblioteca, viu o sobrinho descer as escadas para os laboratórios levando algumas sacolas de supermercado cheias. Seguiu Low a uma distância que evitasse ser ouvido, porém apertou o passo ao vê-lo entrar no laboratório de Daniel. Conseguiu chegar a tempo de segurar a porta antes que o sobrinho a trancasse.

— Fazendo compras a meia-noite? — perguntou Dr. Crow.

Low se limitou a encarar o tio com um olhar fulminante enquanto abria espaço andando para trás. Seria inútil trancar a porta para impedir de entrar a pessoa que tinha todas as chaves.

Ignorando Crow, ele apanhou do armário alguns equipamentos — aqueles que não sofreram danos por não estarem próximos às amostras que Sara destruíra.

— O que está aprontando? — o doutor insistiu, sentando-se na cadeira de Daniel e examinando descontraído o conteúdo das sacolas que foram parar na mesa.

Assim como não havia razão em trancar a porta, também não tinha lógica em ocultar o que estava fazendo de Crow, pois seria necessário contar-lhe mais tarde de qualquer forma.

— Resolvendo o problema do detector de mentiras. — Low respondeu como se fosse a coisa mais óbvia e monótona do mundo.

— E vai conseguir em menos de dois dias? — Dr. Crow se recostou na cadeira, acomodando-se para ver o passo a passo da ideia do sobrinho.

Low retirou o casaco que usava e o enroscou na maçaneta da porta. Não se sentiria confortável sendo assistido por Crow, contudo qualquer tentativa de convencê-lo a se retirar seria em vão.

— Não parece muito preocupado com o interrogatório — comentou ao invés de responder o tio.

— Sabe que Raymond vai estar lá para me encobrir.

— E onde ele está agora?

— No quarto de hóspedes — respondeu Crow, e acrescentou ao ver os olhos do sobrinho se contraírem e desviarem dos seus: — É o mínimo que eu podia fazer depois que ele salvou a minha pele!

Low se concentrou em analisar seu reflexo no piso até conter-se e retornar com uma expressão neutra.

— Já passou pela sua cabeça que Raymond pode estar envolvido com o que aconteceu na convenção? — questionou, voltando a encarar o tio enquanto tentava ignorar sua burrice.

— Não posso acusá-lo sem provas. E não posso deixar de considerar também que Elliot é um harmínion; e até onde se sabe, harmínions são instáveis.

— Ele estava abalado quando o encontrei, sentindo-se culpado. Justamente por isso que posso dizer que não estava instável da forma que pensa — disse Low na defensiva.

— Eu entendo, Low. Você quer defendê-lo; mas como quer que eu use seu testemunho sem denunciá-lo? — O doutor ergueu uma sobrancelha. — Ou será que apaguei as imagens das câmeras cedo demais?

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