O mar estava mais agitado do que o comum naquela noite. Se seu lado poético não fosse defasado quando comparado ao lado científico, Joshua poderia crer que as ondas enraivecidas o acusavam. Não estariam erradas. Mas a causa daquela fúria era um fenômeno meteorológico. O mar não condena; só existe. Humanos condenam. Ele mesmo condenou alguém na ignorância de desconhecer a extensão das consequências.
Voltou para a cozinha deixando a porta da sacada aberta. O rugido das ondas foi a trilha sonora que escolheu para aquela ocasião única.
Aproximou-se das garrafas vazias em cima da mesa — nem a quantidade delas e nem o alerta do code sobre o teor alcoólico em seu corpo o fizeram parar. Encontrou uma seringa esperando por ele ao lado de um copo vazio. Covardia era o que aquelas garrafas simbolizavam, porque precisou de três para enfim chegar à seringa.
Pegou o objeto, que continha uma dose generosa de... água. Muito engraçado. Sabia que não era água. Olhou para o braço, procurando por uma veia. Além de achar, precisaria acertar a mira. E depois imploraria pelo perdão de Maurício. Não acreditava em consciência após a morte, entretanto ansiava em levar um sermão do amigo.
A mão que segurava a seringa tremia; seria à base de tentativa e erro. Por que tudo na vida era complicado e injusto?
De repente, a campainha tocou. Quem aparecia na casa dos outros sem avisar? O cérebro estava tão inebriado, que nem pensou na possibilidade de ignorar o intrometido.
Largou a seringa na mesa e avançou até o fim da sala com os passos cambaleantes mais rápidos que conseguiu providenciar. Encostou a mão na porta, autorizando que se abrisse e... e desejou não ter desperdiçado tempo com a bebida.
— Desculpe aparecer assim... — disse Jane, soando hesitante. — Mas você não foi ao funeral, então eu... achei que tivesse acontecido alguma coisa.
Perplexo, o cientista não encontrou um argumento convincente, ou sequer palavras, para se justificar.
— Posso entrar? — ela indagou em meio ao silêncio perturbador dele.
Ao menos o cérebro de Joshua teve a decência de se lembrar das garrafas e outros itens recriminatórios na mesa. Em um dia qualquer, inventaria uma desculpa para afastá-la, porém naquele dia... não teve a capacidade e nem a vontade de inventar nada.
— Sim. Eu só vou... fazer umas coisas antes... — Fechou a porta e se apressou a ocultar suas verdadeiras intenções.
Em uma cidade pacata de uma sociedade que se considerava utópica, uma mulher surtava por sua casa com o celular colado na orelha.
— ...Depois de mover céus e terra para conseguir a guarda dela! — A mulher soltava sua ira no dispositivo.
O motivo era compreensível. Acabara de receber a notícia de que uma de suas filhas faleceu. Para piorar, o ex-marido não teve a decência de ligar para ela, incumbindo um empregado com essa tarefa. Então, sim, ela estava gritando com alguém que não merecia ouvir suas reações e que não repassaria seus gritos ao destinatário correto.
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Lua vermelha
Science FictionLiderada pelo biólogo Elias Crow, uma equipe de cientistas trabalha em uma pesquisa singular: a domesticação de harmínions, uma raça tão inteligente quanto os seres humanos, porém incompreendida e tratada como animais selvagens. Elliot, a única coba...