16. Bala rosa

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Tirou um pequeno objeto de dentro do bolso. Uma bala rosa, a qual não se lembrava de ter colocado ali. De repente ouviu sons estranhos vindos da porta; alguém tentava entrar.

Próximo de chegar ao seu ponto de destino, Daniel foi alertado pela tela holográfica que surgiu à sua frente; um indicador verde piscava, mostrando no mapa o local escolhido para descer. Levantou-se e pegou a mochila no compartimento de bagagem acima do assento onde estava. Enquanto ajeitava a mochila nas costas, atravessou o ônibus até chegar à parte da frente, passando por vários bancos ocupados por pessoas que, em sua maioria, dormiam. Quando o veículo parou, ele foi o único a sair.

Aquela era uma área residencial em uma região ao norte, distante da cidade em que viveu durante os últimos anos trabalhando na pesquisa do Dr. Crow. Era pouco mais de dez da manhã e as crianças já aproveitavam as férias. Várias delas brincavam nos jardins e uma, que atravessou a rua sem prestar atenção ao ônibus, levava uma bronca do pai na calçada. Daniel sorriu com nostalgia ao se lembrar de sua infância; as incontáveis vezes em que atravessou a rua correndo e sem olhar para nada além de seu irmão mais velho, a quem vivia tentando alcançar.

A temperatura da cidade se elevara desde a última vez em que esteve ali. A presença dos raios de sol — aqueles que eram permitidos entrar — tornava desnecessário o uso de casacos a até mesmo de roupas leves de inverno. Pelo que aprendiam ainda na época de escola, a climatização sempre começava do norte para o sul nesse hemisfério, e ela acontecia há centenas de anos, após o clima quase destruir a vida no planeta.

Depois de passar pelos quarteirões desconhecidos, ele chegou ao qual queria. Não foi capaz de reconhecê-lo na primeira vez em que o visitou. Só tinha uma memória daquele lugar e os detalhes daquele evento aterrador ainda ocupavam sua mente. Naquela noite, aquela casa pareceu sombria, principalmente porque ele esperara pelo pior. Agora, contudo, ela era amigável e aconchegante, a tinta brilhando na luz do dia e deixando-a dourada como o sol.

Ele chegou até a porta da casa e apertou a campainha. Quem atendeu foi uma mulher jovem — talvez uma adolescente — de cabelos escuros e compridos reunidos na frente do corpo pelo lado direito.

— Daniel? — ela perguntou com desinteresse, não dando tempo para que ele se apresentasse.

— Isso. Você deve ser... — ele começou, antes de ser interrompido.

— Isadora. É. Eu. Entra aí. — Com movimentos largados, ela deu as costas a ele e ergueu um celular para próximo do peito, mexendo no aparelho agilmente com as duas mãos.

A sala para onde ela o guiou era bem ampla. Na verdade era um cômodo com dois ambientes: sala de estar e sala de jantar, entretanto, como a mesa de jantar era pequena, o espaço parecia maior, mesmo que contivesse várias caixas de papelão espalhadas pelo chão.

Sem desgrudar os olhos do celular, Isadora se sentou na ponta do tapete cinza-grafite que cobria todo o chão entre o sofá e a televisão. Havia várias almofadas ao redor dela; todas com estampas amedrontadoras de instrumentos de escritório com feições humanas sorridentes e de olhos grandes. Ao lado dela, uma porta dupla de vidro apresentava o gramado impecável do quintal. Somente ali era possível olhar para fora, pois todas as janelas do cômodo estavam encobertas por cortinas brancas.

Daniel avistou Anabela enquanto ela sinalizava para desligar a TV. Havia um sofá presente, no entanto, assim como Isadora, Anabela estava sentada no tapete e com as costas apoiadas no móvel.

— Oi, Anabela! — Ele se aproximou e, ao vê-la começar a se levantar, agachou-se rapidamente. — Não, não precisa! — Assim que a mulher relaxou e retomou a postura anterior, perguntou: — Como você está?

Lua vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora