Filha da Máfia

*22*

Coloco Alec em um dos quartos de hóspedes, perigosamente perto do quarto de Pietro e do meu também. Com certeza Pietro vai querer conversar ou ameaça-lo em algum momento. Penso em colocar escutas no quarto, mas seria uma traição de confiança. E por mais que eu não deva, confio em Alec. Só não tenho plena certeza de que eu devo.

Fico no escritório ajeitando os papéis da minha nomeação, que acontecerá em dois dias, assim que o período de luto passar. Sei que vou precisar refazer o juramento e fazer a tatuagem, assim como meu consigliere.

A tatuagem.

Nos homens, a estrela de oito pontas é feita na nuca, por algum motivo que ninguém nunca me explicou. Porém serei a primeira mulher, então farei em outro lugar. Um lugar visível. Vejo fotos é mais fotos na internet e blogs que dizem os lugares que mais doem. O que é a agulha de uma tatuagem perto das lâminas que senti na minha iniciação?

Aproveito para organizar a lista de convidados do casamento. Mais de 500 pessoas, entre os convidados da outfit e a bratva. Sem contar que depois que me casar com ele, terei de fazer a tatuagem e a iniciação da outfit. Sequer sei qual é a dor da primeira tatuagem e já sei que vou fazer uma segunda. Incrível.

Estou na terceira xícara de café quando Malik entra.

O encaro, ele está claramente tenso e provavelmente vai falar algo que eu não vou gostar.

-Fala logo. -digo assim que ele se senta. - E não enrola.

-É sobre o Alec, Khel.

Reviro os olhos.

-Ah não, não, não, não. Não me irrita hoje não Malik, por favor.

-Não é irritar, Maria ? O que você sabe da vida dele ? Como você conhece ele? Ele tem família? Parece até que você não nasceu na máfia, porra. Confiança leva tempo, e você aceitou ele sem fazer perguntas.

-Eu fiz as perguntas e ele veio para me responder. Temos um acordo e ele quis que eu soubesse mais dele antes de realmente fechar o negócio. Ele é meu contratado da deep Web. Ele limpou minhas merdas e descobriu muitas coisas pra mim. Ele quem me disse que havia sido o Pietro que explodiu meu navio, ele descobriu como invadiram a propriedade e está procurando a puta da Rebecca pra mim. Puta que aliás, ninguém questionou quando entrou nessa casa, exceto eu. E meu pai morreu quando tava com ela. Que coincidência né ? Então pouco me importa o que você acha, eu sei o que eu estou fazendo.

-Eu sei, Maria. Só quero te proteger.

-Quem devia fazer isso era meu pai, mas ele nunca fez e não vai ser agora, com ele morto, que você vai tentar. - respiro fundo.- se for só isso, já pode sair.

Ele me olha triste e sai. Perco qualquer concentração no que estava fazendo. Ainda tenho que contratar uma nova governanta para a casa. Ver se alguém arrumou meu quarto. Treinar. Jantar com Alec. Cuidar do meu cabelo.

Eu realmente preciso cuidar do meu cabelo.

Saio do escritório e subo para meu quarto. Assim que entro sorrio. Não precisei surtar para alguém arrumar ele dessa vez. Está tudo no lugar. As roupas repostas. Tudo em perfeito estado.

Vou direto para o banheiro e me olho no espelho. Paro e me encaro. Meu rosto não está mais inchado. As olheiras são visíveis. Preciso de mudanças. Por um instante cogito cortar meus cachos. Mas só de pensar na possibilidade meu coração dói. Então...

Tranças. É isso. As famosas box braids. Ligo para o meu cabeleireiro e peço pra ele mandar uma trançadeira. Jumbo, cor...

Ele hesita quando digo a cor, mas não me contrária. Sabia decisão. Deito na cama enquanto espero a mulher chegar, libero a entrada dela e ligo minha tv. Coloco no YouTube para ouvir música e me deixo levar por pensamentos. Faço muito isso desde que completei 18 anos, e faz o que ? Uma semana ? Talvez nem isso.