Portland 1894

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  Pitter estava passando pelas árvores, já tinha perdido a trilha há muito tempo, e agora estava escutando os pequenos animais andarem ou tentarem conseguir algum alimento. O vento estava forte e no céu havia muitas nuvens, por mais que estivesse preto, dava para ver de leve as nuvens cinzas que cobriam as estrelas. Ao longe ele escutou um lobo uivando.
  - Não é noite de lua cheia- ele disse para ele mesmo- Não deveria haver lobos agora.
  Ele deu de ombros e continuou andando pela mata. Mas o cheiro se aproximava e os passos cada vez mais rápidos de patas passando pelas plantas eram cada vez maiores e mais pesados, pois enquanto passavam pela folhagem vários galhos quebravam. Ele já sabia que sozinho ele não iria vencer. Uma mordida de lobo era mortal para qualquer vampiro. Ele começou a observar qual era a árvore mais alta e subiu nela. Por mais que os lobos sejam habilidosos, pela altura e peso deles, eles não conseguiriam subir na arvore.
  Foi depois que ele subiu na árvore e se acomodou que ele começou a escutar passos ferozes passando pelas plantas e quebrando os galhos, aquilo não parecia ser um lobo, não era um lobo. Ele descobriu rapidamente que quem corria daquele jeito era igual a ele, mas ele não conseguia ver se era um homem ou mulher, porque andava muito rápido. Os lobos começaram a chegar mais perto, e quando o vampiro ou a vampira diminuiu a velocidade, ele viu que era uma mulher. Linda, por sinal, pensou. Seus olhos estavam vermelhos e seus cabelos claros estavam tomando conta da maior parte do rosto. Ela parecia desesperada e totalmente perdida, ele não queria deixá-la sozinha, mas sabia que não podia fazer nada se ele saísse dali. Ele ficou torcendo por ela em silêncio, mas ela não desviou de uma raiz de árvore e acabou caindo no chão. Ele não ficou parado, sabia que ela ia morrer e agora ele precisava fazer alguma coisa. Ele subiu até o topo e pulou para a árvore mais próxima dela. Os lobos nem prestaram atenção, a esse ponto eles só pensavam no prêmio que eles ganhariam do alfa por matar uma vampira. E que prêmio, pensou Pitter. A alça do vestido preto da vampira já estava rasgada e seu casaco já havia sido levado pelos lobos.
  Os lobos caminhavam em direção a ela, com a língua para fora e os olhos de predadores, ele sabia que os lobos não iam desistir até conseguir o que queriam.
  - Socorro, por favor, socorro! Alguém me ajuda, por favor- sua última frase pareceu um sussurro.
  Pitter pegou no seu bolso a arma de prata que ele sempre carregava com ele e viu se estava carregada. A menina já não estava mais com os olhos vermelhos, agora eles estavam verdes, e ele gostou daquilo. A menina sorriu ao perceber que ele estava lá, e ele fez sinal para ela ficar em silêncio.
  Os lobos se aproximaram cada vez mais, e ela viu a fúria e o ódio nos olhos deles, ela sabia que independente do que acontecesse, aquele estranho estaria lá para ajudá-la e pela primeira vez naquela noite ela sentiu segurança por saber que podia confiar em alguém novamente.
  Ela deu um chute no primeiro lobo que se aproximou dela e ela e se levantou. Os outros ficaram furiosos e um deles a puxou pela barra de seu vestido curto e ela caiu novamente, batendo a cabeça nas terras úmidas, ela soltou um gemido. Pitter sabia que precisa agir logo, senão ela morreria, então ele atirou na cabeça do lobo marrom que a havia derrubado, ele foi cambaleando para trás enquanto o sangue molhava seu corpo inteiro, até ele cair e fechar os olhos para sempre. Quando ela tentou se levantar de novo, um lobo agarrou sua calça e foi puxando ela para si, mas a calça rasgou e ela conseguiu se soltar um pouco dele. Os dois lobos maiores tentavam subir onde Pitter estava, mas tudo o que conseguiam era tirar lascas das árvores, ele atirou no peito de um lobo cinza que gemeu de dor e caiu encostado na árvore. O lobo preto, o maior deles começou a fugir. A vampira chutava o lobo que tinha rasgado seu vestido caro, até que ela quebrou o focinho dele e ele cambaleou para trás, e ela foi correndo para a árvore onde Pitter estava. Ele pulou e ficou de frente para ela.
  - Eu vou atrás daquele, você cuide deste!
  - Ma-mas como?
  Ele colocou a mão no rosto dela.
  - Você sabe o que fazer.
  Ela nem piscou e ele já havia sumido. Ele correu desesperadamente, mas o lobo já havia sumido. Ele estava em um lugar onde as folhas já estavam secas e mortas e não havia mais arvores, ele nem sentia mais o cheiro do lobo.
  - Merda!- se ele o tivesse perdido agora, ele voltaria para matar a vampira, e provavelmente voltaria com a matilha inteira.
  Ele a escutou gritando novamente. E sabia que ela precisava de ajuda. E ele ia ajudá-la. A partir daquele momento, ele faria qualquer coisa para protege-la.

blood Lines- O inícioOnde histórias criam vida. Descubra agora