Orleans 1892

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  Pitter estava andando pelas ruas de Orleans, as casas grandes e os bailes ricos já não estavam mais à vista. Agora ele estava andando por uma vila pequena de casas simples, onde as pessoas tinham que trocar o que possuíam para conseguir alimentos. Quando ele passava as pessoas o olhavam com insegurança. O que um homem rico ia fazer essa hora da noite em um lugar tão sujo e pobre.
  Eles olhavam sua roupa e a invejavam e tenho certeza que até os homens queriam ter sua beleza e as mulheres o desejavam.
  Ele ouviu os comentários das pessoas que estavam confusas por ele estar ali, nascer simplesmente continuou andando. Tudo enfim estava silencioso até ele deparar com um bar, velho e desgastado, sem cor nenhuma, com alguns barris em volta e a porta de madeira que estava torta, fazia barulho, as janelas tinham cortinas brancas que estavam totalmente encardidas e não havia ninguém lá dentro, porque todos estavam assistindo a briga que estava acontecendo em frente ao bar.
  Estava um barulho infernal, todos estavam em um círculo e era impossível ver o que acontecia ali dentro. Mas Pitter sabia, ele sabia o que se passava ali no meio, pelos gritos de dor, ou as pessoas vibrando e torcendo para o "melhor" vencer, ele sabia que se tratava de uma briga. Ele foi abrindo passagem por entre as pessoas até estar totalmente visível um homem no chão ensanguentado. Ele teve que controlar a cede para continuar naquele lugar. Ele fechou seus olhos e respirou fundo, quando ele os abriu novamente percebeu que um homem com os cabelos escuros o observava. Ele imediatamente mudou de posição e fingiu que não havia acontecido nada.
  - Porque eles estão fazendo isso?- perguntou a um velho gordo, careca e com barbas brancas, suas roupas estavam rasgadas e sujas, estava descalço e segurava uma garrafa de cachaça em uma das mais.
  - Bom, o carinha lá- ele apontou para o cara que estava no chão- Não pagou a conta. Estava com dívidas há mais de um ano. E o cara lá- ele apontou para o homem gorducho, calvo e com barbas bem feitas e com um avental sujo, que estava sendo vangloriado pelos amigos- É o dono do bar.
  O cara calvo entrou em ação e começou a chutar o homem.
  - Ei, ei, ei. Para!- Pitter ficou de frente para o calvo o impedindo de agir novamente.
  Todos ficaram em silêncio. Ninguém seria ousado a fazer aquilo.
  - Senão o que? Vai chamar seu papai para vir me bater?- ele encheu o peito e cruzou os braços. Todos que estavam a volta deram uma leve risada.
Pitter simplesmente o ignorou.
  - Você- ele apontou para o cara que estava mais próximo do homem quase morto e olhou em seus olhos- Ajude ele a se levantar e ajude-o a se recuperar.
  Quando o homem estava pegando-o do chão o calvo deu um grito que o fez parar.
  - Se você obedecer, você será o próximo.
  - Bom, se ele não obedecer, você- ele apontou para o calvo- Será o próximo.
  Ele começou a rir e olhou para os amigos como se pedisse para que o acompanharem. Pitter olhou pelo canto dos olhos e o homem de cabelo castanho ainda o encarava, ele o observou, não parecia fazer parte do vilarejo, usava uma calça social preta, igual a de Pitter, uma blusa escuta e por cima, um terno preto. Seus sapatos estavam bem engraxados e pareciam muito novos.
  Pitter não queria mais brincar, estava cansado e queria voltar para casa. Já havia caminhado bastante por um dia. Ele pegou o homem calvo pela gola de sua blusa suja e olhou em seus olhos.
  - Olha aqui, você vai deixar esse homem ir embora e nunca mais vai procurá-lo, estou certo?- todos ficaram paralisados em silêncio.
  -Sim, deixe o ir embora- o calvo disse sem se mexer.
  - Ótimo, tenham uma boa noite- Pitter o soltou e apesar de ser quase uma hora da manhã,,ele colocou seus óculos.
  Enquanto ele estava se virando para ir embora, viu algumas pessoas ajudarem o homem quase morto a se levantar.
  Ele já estava em um beco totalmente escuro quando quando sentiu que alguém estava o seguindo.
  Ele ficou parado e virou levemente a cabeça. Ao longe havia um homem com roupas totalmente pretas e um chapéu estava sobre sua cabeça, sua sombra se projetava na parede de tijolos.
  - Quem é você?- Pitter o enfrentou.
  O homem não respondeu, mas começou a andar em sua direção.
  - Eu acho que eu descobri o seu segredo- disse ele por fim.
  - Olha, você descobriu o meu segredo- Pitter fingiu surpresa- Qual deles?
  - Para começar, você é um vampiro- o homem se aproximou mais e Pitter conseguiu reconhecê-lo, mas antes ele não usava um chapéu. Pitter ficou paralisado, ninguém, a não ser os vampiros, sabia da existência de vampiros, quer dizer todos achavam que era uma mísera lenda, mas nada comparado a um fato.
  - Então você deve imaginar que eu posso acabar com sua vida, certo?- Pitter deu dois passos na direção dele.
  - Errado.
  - Defina errado- Pitter franziu a testa.
  A escuridão dominava tudo e a essa hora todos já estação com suas portas fechadas. Não havia ninguém na rua, todos temiam o que podia acontecer se eles tirassem os seus pés de casa depois da meia noite. Nem o vento quis dar as caras e o céu não estava tão estrelado quanto deveria.
  - Porque eu posso acabar com sua vida antes mesmo de você pensar em acabar com a minha.
  Pitter soltou um riso abafado.
  - Estou ansioso para ver.
  E de repente Pitter já estava prensado na parede de tijolos e o braço do homem de cabelos castanhos estava sobre seu pescoço. Pitter se espantou com sua rapidez.
  - Você... Você é um vampiro?- perguntou sufocado.
  - Sim, eu sou um vampiro e sim, eu posso acabar com sua vida, mas não vou- o homem o soltou- sou Cristhian.
  - Pitter.
  Simplesmente isso, nada mais. Nenhum aperto de mão, nem reverência, só isso. As apresentações dos nomes. Já era o suficiente.
  - Então... Você está aqui por quanto tempo?
  - Cheguei ontem.
  - O que você estava fazendo lá no bar?
  - Eu estava casando, aí eu escutei um barulho de copos caindo, ossos quebrando, enfim- Cristhian virou os olhos- Eu sou uma pessoa curiosa, mas o que você estava fazendo lá?
  - Eu sempre... Bom, eu sempre caminho esse horário, vendo a rua, conhecendo as pessoas...
  - Procurando uma donzela inocente, sei como é- Cristhian disse.
  Pitter sorriu, ele tinha senso de humor e Pitter não conversava com ninguém a muito tempo, e a não ser que "como foi o seu dia" conte. Cristhian sabia e compartilhava o mesmo segredo e isso já bastava.
  - Não era eu quem estava caçando.
  Cristhian o encarou com um olhar brincalhão.
  - Você tem razão.
  - Vai ficar aqui por muito tempo?
  - Eu pretendo- Cristhian cruzou os braços.
  - Bom, eu preciso ir embora.
  - Claro, está muito perigoso aqui fora.
  - É claro- Pitter sorriu e virou os olhos- Já estou ficando com medo.
  - Tome cuidado ao voltar para casa, ande pela sombra e olhe para os dois lados da rua, princesa.
  - Cala a boca!
  Pitter virou e começou a andar para a saída do beco.
  - Ei, que tal caçarmos amanhã?
  - Está me chamando para um encontro, Cristhian?- ele o encarou sorrindo.
  - Para de ser idiota, é pelas jovens belas que temos por aqui.
  - Me parece encantador- Pitter coçou o queixo- Eu topo. As mais belas ficam do outro lado da cidade, onde só a gente rica. Elas são as mais desejadas.
  - Então nós vamos ser os únicos a consegui-las.
  - Não há duvidas.

blood Lines- O inícioOnde histórias criam vida. Descubra agora