1. Armadilha

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A chuva caía suavemente sobre nossas cabeças enquanto nos movíamos na nova cidade. Os olhares de mais estranhos investigavam cada parte de nossos corpos e eu só podia pensar em como sobreviveria a uma semana inteira no meio de todos eles. Éramos apenas intrusas em seu território demarcado. 

— Quando eles vão parar de nos olhar desse jeito? — Vincy se refere aos garotos que estão em frente a uma das tantas cafeterias. Além de esquisitos, eles realmente gostavam de um bom café. 

— Eu não reclamaria se fosse logo. — Sussurro, caminhando até os primeiros degraus da escada do hotel. — Todos aqui são assustadores.

Lana puxa o carrinho com as bagagens enquanto entramos na portaria. O hotel era simplório, mas para um grupo de garotas desesperadas por abrigo — e completamente encharcadas, este certamente serviria.

Torcíamos para que neste prédio houvessem quartos. Este não era o primeiro lugar em que havíamos parado procurando por vagas e em nenhum deles conseguimos ao menos um dormitório. Esta viagem estava sendo ruim desde o primeiro momento. 

Eu só pedia para que não piorasse ainda mais.

— Boa noite, senhor... — Melany olha para o crachá do homem de cabelos grisalhos que se encontra na recepção. — Malcom. 

Ele continua a procurar algo em documentos que estão sobre a mesa, mas não nos cumprimenta ou sequer questiona o que procuramos. O homem simplesmente não nos responde.

Empurro as garotas para trás e tomo a iniciativa.

— Olá? — Estalo meus dedos, arregalando um pouco os meus olhos. — Será que pode nos ouvir?

Malcom me oferece um olhar desconfiado e bate suas mãos, como se limpasse algum possível resíduo. Nós esperamos por seu atendimento, entretanto, ele permanece em silêncio.

Aperto as pontas de meus dedos tentando controlar a ânsia de matá-lo na frente de todas elas. 

— Esqueça, Ari, vamos procurar em algum outro lugar. — Vincy me puxa com gentileza, querendo deixar para lá o que estava acontecendo. O fato era, que eu não sairia do estabelecimento enquanto ele não nos respondesse. Nem que me arrastassem!

— Olha aqui, Malcom! Estamos exaustas e o senhor poderia, de fato, facilitar para nós. — Eu grito, enquanto dou um soco na mesa, fazendo saltar as folhas que ele antes analisava. — Queremos um quarto. 

Dessa vez ele nos olha, de verdade. Um sorriso meio torto mostra parcialmente seus dentes que estão podres. 

— Quatro camas? — Ele oferece uma chave e eu a agarro no mesmo instante, sem pestanejar. Eu não menti quando disse que estava farta de procurar um lugar para ficarmos. O primeiro que aparecesse e estivesse disponível, seria perfeito.

Arregalo de novo meus olhos, erguendo os ombros. — Obrigada.

Não me importo com o modo desagradável que o tratei, mas basta chegarmos ao quarto para que um grupo de moscas zunam em meus ouvidos.

— Era necessário todo aquele teatro? — Lana joga as malas sobre uma das camas, visivelmente irritada. — Não queremos chamar atenção, Ari! 

Melany e Vincy cruzam os braços, consentindo.

— Eu perdi a paciência, está bem? — Balanço a cabeça. — Ele estava praticamente rindo de nós e eu só quis facilitar as coisas. Conseguimos um quarto, não é? Agradeçam, em vez de reclamarem!

O clima entre nós não estava melhor e Vincy continuava distante, já que eu havia exigido isso. Elas não aprovavam a forma que eu utilizava para sanar os problemas, mas não poderiam reclamar dos resultados. Por minha causa estávamos hospedadas. 

A SubestimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora