Capítulo 18

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Como quem não queria nada, apenas o seu habitual chocolate quente, Henry se aproximou do balcão do Granny's fingindo estar em uma ligação para não ser atendido por outra garçonete e se sentou em um banquinho. Ele encontrou em sua tia, uma forma de obter informações sobre os seus parentes e Fiona, então, para que tudo desse certo, ele não podia ser atendido por outra. Ao perceber que a jovem que provavelmente lhe atenderia seguiu para atender um homem sentado perto da entrada da lanchonete, encerrou a falsa ligação, guardou o celular no bolso e se escorou na bancada, entrelaçando as mãos uma na outra. Segundos depois, Kelly Miller West, como Zelena estava sendo chamada atualmente, aproximou-se com um lindo sorriso e simpatia. Expressão bem diferente do seu habitual quando Zelena Mills. Ele sorriu satisfeito.

— Ei, garoto! Já fez o seu pedido? — Retirou um pequeno caderno do bolso do avental e preparou sua caneta, coincidentemente, de tubo verde, retirada de seu decote.

— Na verdade, eu acabei de chegar aqui. — Fingiu pensar por uns segundos. — Vou querer um chocolate quente com bastante canela. — Respondeu, observando a mulher escrever com rapidez no papel.

— Essa coisa com canelas é de família? — Perguntou bem-humorada, arrancando o papel do bloco, guardando a caneta em seu decote novamente e pendurando o pedido na bancada da cozinha. — Uma de suas mães sempre pede com bastante canela também.

— Sim, é uma coisa de família. — Dá um sorrisinho. — Eu sou bem dividido, sabe? Em algumas coisas eu sou muito parecido com a minha mãe Emma, a loira, a que também pede o chocolate com canela. ― Kelly assentiu, entendendo de quem ele falava. — Em outras, eu me pareço bastante com a minha mãe Regina, a morena. — E então sua expressão se tornou pensativa, observando bem a mulher à sua frente. — Aliás, você me faz lembrar dela em alguns momentos. — Disse como quem não quer nada, com um sorrisinho, esperando qualquer reação suspeita da outra. Todavia, a mulher apenas sorriu como resposta, porém o ato não chegou aos seus olhos. Sua mente ainda estava processando o fato de o garoto ter duas mães enquanto ela não tinha sequer uma. ― Henry! ― Estende a mão para ela.

— Como você já sabe, Kelly! ― Aperta a mão dele e a balança. ― Deve ser muito legal ter duas mães, não? — Solta em tom melancólico. Henry lhe observa atentamente, sentando-se melhor na cadeira e apoiando-se ainda mais no balcão, esperando que ela continue a falar e conte sua história. Mas Kelly desvia o olhar e tenta se controlar para não ter que contar sua história para mais um estranho, porém falha miseravelmente e solta um alto suspiro em rendimento. — Meu pai disse que eu fui adotada, minha mãe me deixou na porta dele, no Kansas. — Soltou baixinho.

— E como veio parar aqui? — Perguntou rapidamente, no impulso.

Também no impulso, West lhe respondeu: — Alguns anos mais tarde, minha mãe deixou uma carta em nossa porta. Na frente dizia que era um presente. — Deu de ombros, franzindo o cenho, sem perceber que começava a contar coisas desnecessárias para responder à pergunta do garoto. — Havia uma breve explicação do porquê me deixou e dizia também que eu tinha uma irmã mais nova... — E então o olhar da ruiva se torna opaco, sem foco, perdido, indicando que ela havia se perdido em meio às lembranças. Henry desejou ter o poder de ler mentes naquele momento, para saber o que se passava na cabeça de sua tia. Será que, mesmo com outras lembranças, ela tinha raiva da mãe dele? Será que tinha inveja? Será que queria vingança? Suas indagações são interrompidas por uma garota trazendo o seu pedido, escorregando-o por cima do balcão até chegar em suas mãos. Com a movimentação, West também é trazida de volta para a realidade percebendo que não só tinha divagado, como também contou mais do que gostaria. Mas ela já devia estar acostumada. Sempre fazia isso. Não foi diferente com o seu marido e com Ruby, assim que os conheceu. — Uh, bem... — Sorriu sem graça. — Enquanto procurava minha mãe e irmã por aí, eu conheci e me casei com um homem que nasceu, cresceu e também morreu aqui. Robin era o nome dele. — Continuou falando, como se não tivesse acabado de contar detalhes da sua vida para um garoto desconhecido. — Viemos para cá porque ele queria ficar perto de sua família. Eu não tinha ninguém, apenas ele e a Margot, minha filha, então não fui contra a nossa mudança.

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