1. bad day

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Ponto de vista - Alaska Miller, California, San Francisco.

Hoje é um dia daqueles do qual eu sempre temo quando se aproxima. E, pior do que dias ruins, é quando você se acostuma com ele. Coagi-me a levantar da cama, abri a persiana com a esperança do sol invadir meu quarto e substituir esse clima frio, mas o céu estava tão cinzento quanto o meu humor.

– Bom dia, sunshine – Grace apareceu no meu quarto como uma assombração.

– Você devia bater, madeiras emitem sons exatamente para isso – respondi, ríspida.

– Seu mau humor é tão agressivo quanto o seu cabelo – riu, analisando meus fios desgrenhados.

Fiz uma careta feia pra ela.

– Ah, qual é, Ally! Hoje é o último dia de aula naquele manicômio, estamos finalmente livres – disse Grace, numa animação que somente ela teria às 08:000 da manhã.

– Eu vou sentir falta da Berkeley – suspirei em desânimo.

– Única coisa que sentirei falta, será dos garotos suados da Kappa Alfa – falou, jogando seus cabelos dourados sobre os ombros.

– Você namora, Grace – balancei a cabeça.

– Eu andar de mãos dadas com o Ryan, passar os dias dos namorados, comprar presentes e transar com ele todo final de semana, não significa namoro – deu de ombros, realmente acreditando em tudo que dissera.

Encarei seu semblante pacífico, contando do um até o três mentalmente para que sua ficha caísse.

– Ou significa? Ai meu deus – levou a mão até a boca de forma dramática.

O cheiro de waffles estava forte no ar, respirei lentamente aquele aroma, fazendo com que meu coração apertasse. Era o preferido da mamãe. Minha avó sempre tem essa tradição, quando chega essa maldita data. Grace me encarou e logo desviou o olhar para um ponto fixo no chão.

– Te espero no carro – falou, com uma pequena alteração na voz.

Assenti com a cabeça.

Era nítido que isso também era difícil para Gray, às vezes esqueço o quanto sou dura demais com ela. Fiz minhas higienes matinais com rapidez e vesti a primeira coisa que não estivesse na estação de dois anos atrás. Peguei o colar que minha mãe me dera, quando eu ainda era criança e o prendi em meu pescoço. Apesar de ter passado anos, o brilho e sua textura prateada continuavam intactos. Era a única coisa que me mantinha firme.

Desci as escadas apressadamente, e logo vi minha avó limpar sorrateiramente as lágrimas que umidava suas bochechas. Abracei-a em um ato impulsivo. Ela deslizou seus dedos enrugados nas minhas madeixas alaranjadas, enquanto eu sentia seu desespero escorrer pelos seus olhos.

– Ela não gostaria de vê-la assim – sussurrei.

– Vá querida, não quero que chegue atrasada. Ficarei bem – mentiu, com um sorriso amarelo.

Era de partir meu coração vê-la assim. Desde o dia do acidente eu não a vejo chorar dessa forma, o que era surpreendente e um tanto estranho para mim. Caminhei até a porta com a consciência pesada, a vovó já não é a mesma desde quando a diabetes resolveu ser presente em sua vida. Apesar de seus sorrisos persuavivos, sei o quanto dói ter que vender sua galeria para comprar os remédios e me dói ainda mais, não poder fazer nada além de um bico ali e aqui, para ajudar com a grana. Empurrei a porta e ao sair, o vento fresco ricocheteia minha pele, trazendo consigo a nostalgia de fotografar. Busquei em minha bolsa a minha câmera, mas ao notar a falta dela, lembrei-me de tê-la vendido.

Wild FlowerOnde histórias criam vida. Descubra agora