6. she knows too much

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Ponto de vista - Alaska Miller

Uma semana inteira. 7 dias,  dentro de casa, deitada na minha cama e ficando totalmente inerte. Eu nunca fora uma pessoa que acorda cedo para correr ou que degusta de coisas verdes, admito. Mas, hoje consegui bater meu recorde de inatividade.

– Posso entrar? – a voz aguda da Grace, fez-me olhar para ela, encostando a sua cabeça na porta do meu quarto.

– Você já entrou – dei de ombros.

Ela bufou, rolando os olhos.

– Tenho notícias – seu tom soava empolgante.

– Huh? – murmurei, fingindo não estar nem um pouco curiosa, o que claramente era mentira.

– Abriu uma vaga no jornal do meu pai, e eles precisam de uma editora – ela falou rapidamente.

Meu queixo caiu. Puxei uma quantidade de ar antes de abrir minha boca novamente.

– Vaga? – minha voz quase não saiu – Grace, eu...

– Está tudo bem – ela me interrompeu – Eu agi como uma Regina George, não foi legal.

Eu abri um sorriso para ela, que se jogou nos meus braços. Eu fui idiota demais por achar que dando bola para o meu orgulho, substituiria a falta de sentir saudades do cheiro sufocante do seu perfume importado.

– Vista isso – ela tirou uma camiseta branca básica da sua bolsa – Me encontra lá.

Torci o nariz para Grace, que rolou os olhos. Eu não entendia o que ela tinha  contra as minhas roupas, tirando o fato de que a maioria são de desenhos eu não as renovava desde os meus 17 anos – e elas ainda cabem.

Pelos grunhidos auto-críticos e frustrantes que fui obrigada a escutar a madrugada toda, presumi que minha avó passou sua noite pintando. Desci as escadas com esperança de encontrar a sala colorida e enfeitada como se morássemos de baixo de um arco-íris, mas seu cavalete estava todo em branco, não havia nenhum quadro, nenhum borrão de tinta.

Adentrei na cozinha, e Mary estava sentada na cadeira, apoiando a cabeça sobre os braços debruçados na mesa.

– Vó? – chamei, receosa.

Ela levantou a cabeça rapidamente, seus olhos estavam inchados como bolhas e seu rosto totalmente amassado com marcas da pulseira que estava no seu pulso.

– Desculpa querida, eu acabei dormindo – ela bocejou.

– Na cozinha? – franzi a testa.

Ela deu de ombros e levantou-se com dificuldades, suas pernas tinham marcas vermelhas que antes não estavam ali, franzi o cenho e a segui até a sala.

– Por quê parece que passou a noite em uma boate? – abri um sorriso, fazendo-a rir.

– Eu não dormi muito bem – ela aconchegou-se no sofá, pigarreando discretamente.

– Estava sentindo dores? – eu falava como uma médica.

Ela assentiu a cabeça. Tinha um papel em sua mão, presumi que fosse alguma conta demasiadamente cara, como todas as outras. Eu não queria que ela ficasse se preocupando com isso.

– O que é isso? – perguntei, apontando com a cabeça.

– Não é nada – Ela  arregalou os olhos e em seguida colocou o papel no bolso de sua calça.

Enruguei as sobrancelhas, abri a boca pra dizer algo, mas os seus olhos já haviam se fechado. Ela estava piorando, sua pele estava mais pálida que o normal, seus olhos tinham criado uma mancha escura em volta de si. 

Wild FlowerOnde histórias criam vida. Descubra agora