Ponto de vista - Alaska MillerBanho. Eu não precisava de nenhuma pesquisa científica para me certificar de que no banho, é onde nossos pensamentos mais nos agradam ou nos atormentam – e, no meu caso, me atormentam dolorosamente. Liguei o registro do chuveiro, permitindo a água quente cair sobre minhas costas. Fechei os olhos, sentindo cada gota limpar algum resquício de maquiagem ainda existente em meu rosto. E por um segundo, por um pequeno fio, eu quase esqueci que dia é hoje.
Preferia não ter lembrado.
Amanhã, completará 4 meses que minha avó se fora. Subitamente e misteriosamente, me deixando nada além de um sms e uma maldita flor-de-lis, e nesse meio tempo, tudo que eu descobri foi o grande e robusto: nada.
O corpo dela fora enviado para o cemitério de Nova York, pelo visto isso era o que vovó queria em seu testamento e faz sentido, apesar de San Francisco ser o único lugar que ela chamaria de casa, Mary, passou metade de sua vida nessa cidade acinzentada e eu, embora não lembre com tanta precisão, passei uma pequena parte da minha infância aqui com a minha mãe, segundo a minha avó. Entretanto, não tenho um mísero resquício de lembrança desse passado, apenas imagens construídas na minha mente através das histórias hilárias que a vovó me contava. E sim, eu sei dessa informação há meses, mas somente agora, tive coragem para encarar seu túmulo. Todos me ligaram perguntando porquê diabos eu não fui no enterro da minha própria avó. Ela era a única família que me restara e simplesmente vê-la sendo enterrada de baixo de terras, não seria meu reality show predileto.
Enrolei-me em uma toalha e vesti uma blusa básica junto de uma calça jeans, com um sobretudo cobrindo meu corpo até os joelhos, prendi o cabelo em um coque mal–feito e expirei pela boca, o ar pesado saindo do meu peito chegava a ser alivioso. Antes que eu pudesse encostar as mãos na maçaneta, a porta fora abruptamente empurrada por Ryan, que me encarava com seu semblante pálido.
– Está tudo bem? – arfei, me recompondo do susto.
– J não voltou para casa ontem – ele pausou para bufar – E não fazemos ideia de que merda aconteceu com esse desgraçado, ele não atende nenhuma das minhas ligações.
– Eu não me lembro dele dizer algo na noite passada – encolhi os ombros.
– Sobre ontem...
– Eu prefiro esquecer – o interrompi – Por que não contou para Grace, sobre nada disso? Quer dizer, vocês namoravam.
Falar dela no passado, era como um murro no meu estômago.
– É complicado – ele desviou os olhos azulados e inexpressivos para o chão, os quais evitavam de cruzar com os meus – Isso arruinaria a vida dela, assim como vai arruinar a sua.
– Eu não tenho nada a perder, não acha? – arqueei as sobrancelhas e ele comprimiu os lábios ressecados.
Ryan me encarou e saiu do quarto como um sopro. Droga. Eu não queria soar como se o colocasse culpa, mas foi exatamente o que fiz parecer.
Desci as escadas pé ante pé, quase que silenciosamente, evitar qualquer expressão sôfrega era primordial. Chaz berrava agitadamente com alguém no telefone e, o garoto pálido ordenava alguns homens da noite passada para alguma missão. Franzi as sobrancelhas
– Ally, como você está? – Jasmine pigarreou, desviei meu olhar para a muda de edredom no sofá e só então, enxerguei a garota no meio de tanto pano.
– Meu deus, o que houve com você? – quase berrei, ao notar seu rosto pálido e seus lábios em um leve tom roxo.
– Gripe – ela respondeu óbvia, com a voz nasalada.
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Wild Flower
أدب الهواةAlaska Miller, é uma jovem aspirante em fotografia que vê seu caminho cruzado com Justin Bieber, por nada mais e nada menos que uma misteriosa flor de lírio. Duas histórias distintas que se conectam. O que ninguém sabe é que, histórias têm segredos...