4. liars

984 146 210
                                    


Os pequenos raios de sol incomodavam minhas bochechas, eu não sei se agradecia pelo frio cinzento ter ido embora, ou se resmungava por ter me acordado com esse mormaço. Na verdade eu deveria parar de resmungar. Entreabri meus olhos com dificuldade pela luz forte que os faziam marejar. E antes que me espreguiçasse, lembrei-me da noite passada e senti meu corpo enrijecer imediatamente. Desviei meu olhar para a poltrona onde o Justin dormiu e que não haviam mais vestígios seus, apenas a minha blusa e um papel. Levantei-me com pressa e fui até o pedaço de bilhete rasgado, que pela caligrafia péssima, só podia ter sido ele.

"Cobrança paga, Miller. Obrigado pela hospitalidade. Você tem uma bela bunda, devia parar de usar essas saias de professora"

Revirei os olhos para aquilo e imediatamente amassei, jogando na pequena lixeira ao lado da minha cama. Desci as escadas com esmorecimento, eu não estava nem um pouco à fim de sair da minha cama. Abri um sorriso sincero ao me deparar com a vovó na cozinha, preparando algo.

– Bom dia, Sunshine – Grace abriu um sorriso largo, com os braços apoiados naquela mesa bamba.

– São 07:00 da manhã, por quê está aqui? – franzi as sobrancelhas.

– Eu sou de casa, estou quase virando um móvel – ela deu de ombros.

– Querida, o que foi aquele barulho ontem de madrugada? – minha avó fitou seus olhos curiosos em mim.

Engoli em seco, buscando na minha mente qualquer resposta rápida. Os olhos acusadores de Grace só me deixavam mais nervosa. Eu não sei se dizer que eu estava com o Justin Bieber, cujo garoto sanguinário, no meu quarto, seria uma boa.

– Era eu, cheguei tarde de uma festa e usei o quarto dela como refúgio, como sempre. Desculpa vovó Grace, da próxima vez eu deixo avisado – Grace respondeu por mim, com um sorriso forçado.

Minha avó parecia ter engolido aquilo. Bem, pelo menos eu esperava que sim.

Agradeci entrelábios para Grace, assim que a vovó voltou sua atenção para as panelas.

Mas a garota não tinha engolido isso.

Ela apontou para escada com a cabeça, e levantou-se da cadeira, subindo-as com os passos duros.

– Eu vou trocar de roupa, já desço para devorar essas panquecas – abracei a vovó por trás, dando um beijo em sua bochecha.

Subi as escadas rapidamente, me preparando para as inúmeras perguntas que Grace faria e tentando arrumar respostas para cada uma delas.

– Quem estava aqui ontem? – perguntou, cruzando os braços como uma criança curiosa.

– Eu não posso falar, Gray – dei às costas para ela, indo até o banheiro escovar os meus dentes.

– Não me deixa falando sozinha não, garota – beslicou meu braço.

Soltei um grunhido, cuspindo na pia a espuma de pasta que antes estava em minha boca.

– Era o Barrow, tá legal? – encolhi os ombros.

- O Barrow? O que tem herpes? – a boca dela abriu, incrédula.

– É. E esse bullying com ele é ridículo – joguei-me na cama, rezando para que ela acreditasse e cessasse seu interrogatório.

– Eu espero que você esteja alucinada e logo perceberá o erro social que está cometendo – ela falou meio lenta, se entupindo de maquiagem na frente do espelho.

– Grace, são 07:20 da manhã – franzi a testa, vendo-a parecer uma modelo em plena segunda-feira.

– Eu preciso brilhar – ela falou, passando um glitter na maçã de sua bochecha – Eu brilho tanto que se esse sol for embora, ninguém vai sentir falta.

Wild FlowerOnde histórias criam vida. Descubra agora