7. look who's back

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Já faz 5 meses, desde o pior dia da minha vida.

Eu continuei no Newspaper Parker e, escrever uma matéria sobre o assassinato da minha avó e o desaparecimento da minha melhor amiga, foi um soco certeiro no meu estômago. John agia normalmente, sorrindo, embora seu semblante escurecesse toda vez que pairava seus olhos em mim, assim como a senhora Parker quando esbarra comigo. Eles agem como se não fizesse 5 meses que não obtém respostas, vestígios, nada de sua filha. E, particularmente, é uma maneira bastante estranha de lidar com o luto. Mas, quem sou eu para apontar isso? Eu nem sei mais o conceito disso, minha vida toda foi uma grande e enorme bagunça, estranhamente falando.

O cheiro de mofo invadiu minhas narinas assim que girei a maçaneta da porta de casa, os móveis estavam cobertos de poeiras e teias de aranha, e a faixa amarela da cena de crime ainda estava lá, assim como meu último waffles no prato, totalmente podre. Eu não entrei aqui desde aquele dia, não tive coragem. E por sorte, uma amiga de trabalho me cedeu seu quarto para passar as noites, já que minhas manhãs e tardes eram reservadas exclusivamente para o jornal, o que me arrecadou uma boa grana.

Subi as escadas lentamente, que agora faziam ruídos a cada degrau. Não pude evitar de deixar as lágrimas molharem minhas bochechas ao adentrar no meu quarto, apesar do aroma não tão agradável, tudo ali, do abajur ao pôster de uma banda que eu costumava a gostar, me traziam uma nostalgia dolorosa.

Coloquei algumas roupas e pertences na minha mochila, junto com um porta-retrato da minha avó, era a única coisa que reforçava essa ideia utópica que está na minha cabeça. Suspirei fundo antes de sair e fechar a porta atrás de mim, perambulei meus olhos em uma última vez pela casa, e saí, na pretensão de nunca mais ter que voltar. Verifiquei o papel amassado na minha mão e lá estava, Nova York, 158.

E sim, eu sei que é incerto, mas eu não tenho mais nada a perder.

Não mais.


                        {...}

Eu estava prestes à desembarcar do avião, era a primeira vez que eu entrara em um. Tentei dormir a viagem toda, o que consegui após cinco tentativas, não só pela apreensão e agonia de estar em um transporte que a qualquer momento pode cair, mas também para evitar de me repreender mentalmente por ter tido essa ideia totalmente impulsiva.

- Desembarque em dois minutos – a voz do piloto ecoou pelos auto-falantes.

Ajeitei a a alça da mochila no meu ombro direito, e respirei fundo, meu coração explodia como fogos de artifícios. O ar gélido de Nova York me atingiu, bagunçando meu cabelo e tornando-os desgrenhados. Escolhi meus ombros e caminhei até o aeroporto em passos largos, repetindo mentalmente "foi uma péssima ideia", como um mantra. Decidi não olhar para trás, caso contrário eu iria correr e tentar me enfiar naquele avião.

O céu já estava negrume, não demorou muito para fazer o check-in, as pessoas de Nova York são práticas, diferente de San Francisco, onde contam suas vidas toda na fila de um mercado. Fiz sinal para um táxi, que imediatamente parou o carro, entreguei o papel com endereço para o motorista, que nem ao menos me respondeu, só pisou no acelerador e arrancou com o carro. 

Eu sempre tive o sonho irrealista de conhecer Nova York, não pude conter de abrir um sorriso ao encarar deslumbrada pela janela, essa cidade linda e agitada. Eu só queria ter feito essa viagem por motivos melhores, bem melhores.

O taxista parou o carro no endereço dito, entreguei em sua mão o dinheiro e dei um aceno, mas tive como resposta à fumaça saindo do cano do seu carro, incomodando minha garganta. Nova Iorquinos, tão educados.

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