Epílogo - Canadian Girl

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Mordi os lábios enquanto observava a minha mala pronta e meu armário vazio. Um leve sentimento de dor e saudade já estava me tomando e eu nem ao menos havia descido as escadas até o táxi na frente da minha casa.

— Filha? — A voz de meu pai me despertou e eu o encarei. Ele estava encostado no batente da porta, com os braços cruzados e um singelo sorriso no rosto. — Você está bem? — Ele caminhou até mim e se sentou ao meu lado na cama, envolvendo meus ombros com seu braço.

— Está… Eu só… Estou nervosa. — Pausadamente, expliquei. Era mentira. Eu não estava nervosa, eu estava com medo. Medo e nervoso são duas coisas completamente diferentes.

— Eu vou fingir que acredito. — Meu pai revirou os olhos e eu ri baixo. — Você não precisa ficar, assim, querida. Vai dar tudo certo!

Dois dias depois do Natal eu havia recebido a resposta sobre a minha prova e — sim, eu passei — havia passado o resto do ano procurando por faculdades, visto que eu sou a moça mais indecisa desse planeta. Eu não queria falhar e ter que passar anos estudando em um lugar que eu não me sentisse bem, não?

— Eu sei, eu só… A ideia de perder a tutela paternal me deixa um pouco nervosa. — Dei uma risada rápida e balancei a cabeça. — E se eu não acertar o número da casa? E se o carro quebrar? Será que não vai ter nevasca lá hoje? E se as pistas ficarem escorregadias e…

— Opa, opa, opa, pode parar por aí, Sherry. — Meu pai levantou a palma na minha direção, indicando que eu parasse de falar. — Desde quando você tem tantos medos assim, huh?

Me encolhi enquanto olhava o chão. Eu nunca havia tido tanto medo quanto daquela vez. Que idiota, Sherry.

— Vai dar tudo certo, filha. — Meu pai repetiu e me abraçou. — Não precisa se preocupar que eu vou ligar pra você todas as noites.

Assenti com a cabeça e ri, fechando os olhos e aproveitando aquele momento caloroso e familiar antes que uma buzina me despertasse dos meus pensamentos. Eu precisava ir embora.

Fiz um biquinho choroso na direção do meu pai e ele novamente riu, tocando em minha mão e pegando minha mala, em seguida guiando-me até o andar de baixo.

Jessica estava em pé e seus olhos estavam brilhando enquanto alternava seu olhar entre minha mala e eu.

— Cuide bem do meu pai, senhorita. — Brinquei quando ela me abraçou. Seu balanço frenético da cabeça me fez ter certeza de que ela cuidaria muito bem do meu pai.

— Eu vou sentir sua falta. — Ela murmurou. Sua voz denunciou que ela estava chorando e meu peito se apertou.

Eu e Jessica nos tornamos boas amigas desde o Natal. Ela não era a megera que eu imaginei que fosse e ela sempre preparava uma ótima comida, então…

— Liga pra mim junto com meu pai. — Avisei quando separei nossos corpos e me direcionei à porta.

Procurei apressar mais meus passos até o carro quando percebi que meus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu não queria chorar, queria que aquele momento fosse um momento feliz, não triste e molhado.

Gail sorriu na minha direção e tomou a mala da minha mão, colocando-a no porta malas e entrando no carro em seguida. Ela também parecia feliz e com vontade de chorar, mas se eu não gostava da ideia de choro, ela não suportava.

— Eu amo o senhor. — Murmurei e envolvi meus braços ao redor do meu pai, o apertando com força. — Se o senhor não ligar pra mim todas as noites eu vou atrapalhar seu romance com a Jessica e ligar para o senhor de madrugada. — Ameacei e ele gargalhou alto, dando leves tossidas pelo fato dos meus braços estarem o apertando.

— Não precisa se preocupar, mocinha. — Ele me afastou e olhou em meus olhos, passando a mão no meu cabelo. — Eu poderia dizer a mesma coisa, mas se você ousar ter romance com o Shawn durante a madrugada, eu vou arrancar você daquela faculdade e te prender em uma coleira do meu ladinho.

Essa foi minha vez de gargalhar. Mas, como meu pai permaneceu sério eu julguei que ele não estava brincando, então, retomei a minha postura e balancei a cabeça de uma maneira que mostrasse que eu captei a mensagem da ameaça.

— Eu preciso ir. — Apressei, rindo e olhando para o carro. — Eu vou ficar bem. — Disse, mais para mim do que para ele.

— Eu sei que vai. — Meu pai respondeu, beijando minha testa demoradamente. — Se cuida, filha.

— Você também, pai. — Respondi, sorrindo e entrando no carro segundos depois.

Me: Eu estou nervosa. E chego aí em uma hora.

Husband: Não precisa ficar nervosa, querida. E eu vou esperar bem quietinho no banco desconfortável desse aeroporto, pode ter certeza disso ;)

~*~

— Gail, não precisa levar a mala, me dê aqui. — Resmunguei para a mais velha quando descemos em terras canadenses e ela insistia em carregar a minha mala.

— Se você tentar pegar essa mala de novo eu não vou responder pelos meus atos, mocinha. — Sua voz foi firme e eu fiquei séria, desistindo da ideia de pegar a mala da sua mão.

Peguei meu telefone no bolso enquanto caminhávamos até a área principal do aeroporto e um papel veio junto. Franzi o cenho mas logo sorri ao lembrar do que se tratava o papel ao desdobrá-lo e reler algumas palavras.

Seu pedido para ingressar na Universidade de Toronto foi aceita! Esperamos você no dia 10 de janeiro para que sua matrícula seja efetuada (...)”

Um sorriso pequeno tomou conta do meu rosto e novamente senti vontade de chorar apenas por reler aquelas palavras. Força, Sherry, você não pode ser tão fraca assim, quase gritei mentalmente e recoloquei o papelzinho em meu bolso.

— Você também não pode segurar essa mala porque isso te impediria de abraçar um certo canadense alto e maravilhoso que está parado bem na nossa frente. — Gail sussurrou em meu ouvido e eu rapidamente olhei na direção indicada, recebendo uma risada da mais velha por causa da rapidez com que o ato tinha sido feito.

Shawn estava olhando em nossa direção com um sorriso casto nos lábios e em seguida tomou caminho até nós, parando na minha frente e abraçando o meu tronco quando praticamente pulei nele.

— Olá, querida. — Ele sussurrou entre uma risada e outra e em seguida beijou minha testa, cumprimentando Gail com um abraço e quase sendo fuzilado quando fez menção de pegar a mala que ela carregava.

— Não faça isso. — O alertei e ele riu baixo, posicionando-se ao meu lado e levantando as mãos em rendição.

Caminhamos até a saída do aeroporto e engoli em seco ao sentir que a presença paternal a que eu estava habituada havia sumido e também, de tal maneira, era como se minha proteção estivesse se esvaindo.

Fechei os olhos e suspirei, procurando centrar minha atenção nas duas importantes pessoas que estavam ao meu lado e mordendo os lábios de nervoso.

— Hey, vai dar tudo certo, Sherry. — Shawn sussurrou e hesitou um pouco antes de tocar em minha mão e entrelaçar nossos dedos.

Aquele seu “Estou aqui” sem palavras fez com que me sentisse segura naquele espaço tão grande e desconhecido. Fez também com que eu me sentisse orgulhosa, feliz e nervosa por ele ter aquele tipo de contato comigo em frente às pessoas.

Quando olhei na direção de Shawn e seu olhar retornou o meu, pude perceber que mesmo com todos os meus medos e incertezas, aquilo poderia funcionar. Percebi também que encontrar o amor e vivenciá-lo é a experiência mais linda que um ser humano poderia ter.

E quem diria que eu encontraria o meu em um show repleto de fãs e umas mensagens inocentes trocadas com um segurança?

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Xoxo,
~Ally

We Are Real - Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora