Mudaram as estações - nada mudou.

Capitulo 4.

Bellamy não conseguia dormir. Se mexia de um lado para o outro na cama, mas não conseguia parar de pensar que iria reencontrar Tony em algumas horas. O marido percebeu que ela estava muito inquieta e perguntou se ela estava bem, ela respondeu que estava apenas com insônia, ele virou e voltou a dormir. Sempre que parava para pensar sobre seu casamento, Bellamy se arrependia amargamente de não ter largado tudo para ficar com Tony, mas, no fundo, ela sabe que foi melhor para o filho ela ter continuado com o casamento. Ela não gosta de pensar no quanto seu filho sofreria com a separação. Ela sabe que fazer esse sacrifício pelo filho foi necessário, ela abriria mão de novo de sua felicidade pela felicidade dele, quantas vezes fosse necessário. Mas isso não a impede de pensar no quanto ela seria feliz ao lado de Tony.

     Em outra parte da cidade, Tony tinha os mesmos problemas pra dormir, não conseguia parar de pensar que iria reencontrar Bellamy. Não conseguia pensar em como iria reagir ao vê-la, não sabia nem o que iria dizer a ela. Mas tentava se acalmar pensando, "quando a vir saberei o que dizer."

      A noite passou arrastada para os dois, nenhum deles conseguiu dormir durante toda a noite. Viram a noite virar dia, e quanto mais as horas passavam, mais nervosos ficavam. Tentaram manter sua rotina normal, em vão. Não conseguiam fazer nada direito, estavam no mundo da lua. Bellamy foi para a reunião em uma ONG onde ela era sócia e não prestava atenção a nada, os amigos chamaram a atenção dela centenas de vezes. Goldwyn foi levar o filho ao cinema, mas seus pensamentos estavam ligamos apenas a uma mulher de olhos azuis. Os dois já estavam pensando em se trancar em casa até às 16h, já que não estavam conseguindo fazer nada direito. Mas seria bem pior fazer nada, as horas iriam demorar a passar. Depois da reunião, Bellamy foi a um restaurante almoçar. Tony havia acabado de deixar o filho na casa da mãe. Agora estava cada vez mais perto do reencontro.

     Bellamy chegou em casa perto das 14h, foi ajudar o filho na lição de casa, como desculpa para parar de pensar no reencontro que teria dali há duas horas. Tony foi ao escritório da assessora, que tinha contratos para ele assinar. Às 15h45min Tony chegou à praia. Ainda não tinha a menor ideia do que iria falar para ela. O nervosismo só crescia cada vez mais. A vontade de ir embora correndo também estava cada vez maior, mas ele sabia que não podia. Bellamy, que tinha saído de casa o mais cedo possível para não pegar nenhum trânsito e chegar na hora marcada, acabou pegando trânsito por causa de um acidente que teve no caminho perto da praia. Estava cada vez mais desesperada pensando que chegaria muito atrasada. Na praia, Tony pensava que ela não iria. "Se acalma, Tony, 16h agora. Para de querer desculpa pra fugir.", falava pra si, enquanto andava de um lado para o outro, nervoso. Bellamy conseguiu chegar praia 16h10min. Ela o viu de longe sentado na pedra olhando o mar, ele parecia tao calmo, enquanto ela se desmanchava em nervosismo. Mas o que ela nao sabia é que ela não estava nada calmo, estava a ponto de ir embora quando ela chegou. Quando a viu, Tony levantou. Bellamy foi se aproximando, enquanto os dois se olhavam fixamente. Eles ficaram um longo tempo apenas se olhando, como se as almas que conversassem. O silencio nao era nada constrangedor, muito pelo contrário, palavras não caberiam naquele momento, nenhum dos dois conseguiria explicar o que sentiram ao se reverem após três longos anos. Com um sorriso tímido ela que quebrou o harmónico silêncio.
      - Me desculpa pelo atraso. Tinha um acidente, acabou sendo difícil pra chegar aqui. - Ela se explicou.
     -  Tudo bem. Voce nem se atrasou tanto tempo. - Tentava falar parecendo calmo, mas olhar nos olhos daquela mulher depois de tudo que tinham vivido no passado ainda mexia muito com ele. Ele estava emocionado, ou, talvez, triste. Nem ele saberia dizer. As emoções estavam todas misturadas.    
   - Faz muito tempo que voce chegou? - Bellamy perguntou o tirando de seu transe. Ela também se esforçava muito para não demonstrar toda emoção que estava sentindo ao reve-lo, se segurava muito para as lagrimas nao caírem, e se segurava ainda mais para nao abraca-lo, pois sabia que ele iria repeli-la.
     - Sim, faz um tempo. Mas eu queria chegar um pouco antes pra tentar me preparar. Eu realmente nao sabia qual seria minha reação ao te reencontrar. Nao sabia nem o que falaria. - Foi sincero e direto. Ela deu um pequeno sorriso de canto de boca. Gostou que ele foi sincero, mas nao foi grosseiro.
    - E, agora, voce ja sabe o que vai falar? - Ela perguntou.
    - Sei que te chamei aqui por um motivo, é disso que vou falar com voce. Mas nao sabia como dizer, porque nao quero brigas. - Ele se explicou.
    - Fico feliz ao ouvir você dizer que não quer isso, porque eu também não quero. Fiquei realmente feliz em saber que você queria conversar comigo, porque depois de todas as tentativas mal sucedidas que eu fiz pra conversar com voce durante esses últimos três anos, achava que nao iria falar com voce nunca mais. - Falou com certa tristeza.
     - Então, vamos conversar. - Ele estava tentando muito não ser grosso, e nao perder a linha. Mesmo que ela merecesse que ele fosse grosseiro.   
     - Vamos sentar? Acho que é melhor, né? - Ele perguntou a ela, mas ja estava voltando a se sentar onde estava quando ela chegou. Ela apenas acenou afirmativamente com a cabeça e sentou ao lado dele.
    - Sobre o que voce quer conversar. - Ela perguntou delicadamente, inclinando o rosto para olhar diretamente nos olhos dele. Mas ele estava olhando o mar.
    - Queria deixar umas coisas claras sobre o passado, mas so pra que isso nao afete nosso novo trabalho juntos. - Falou calmamente inclinando o rosto para olhar para ela, que ainda estava olhando para ele.
   - Tudo bem. Pode falar.
   - Sabe, três anos atras, quando voce terminou o que tínhamos pra preservar sua familia, eu te entendi. Sei que pareceu que não entendi, mas entendi, de certo modo. - Ela ouvia atentamente, olhando fixo para os olhos dele. E ela sabia que ele estava sendo sincero. Ele nunca mentiu, e não precisaria mentir agora.
     - Mas eu estava muito magoado, porque eu te amava demasiadamente, Bells. - Havia dor em seus olhos ao pronunciar essas palavras. E ela sentiu o peito apertar ao ouvir o verbo amar ser dito no passado.
    - Eu queria que tivéssemos construído uma vida juntos. Queria que tivéssemos tido essa chance. Queria ter vivido nosso amor da forma mais plena possível. - Lágrimas começaram a cair pelo rosto de Bellamy, e Tony fez um esforço sobre humano para nao seca-las e continuar o que estava falando.
- E por estar tao magoado, preferi me afastar. Se eu continuasse te vendo ou se eu trabalhasse com você, isso não iria passar. Eu precisava te esquecer, porque você  estava seguindo sua vida, e eu precisava seguir com a minha. Essa foi a maneira que encontrei. Sei que talvez tenha sido covarde, mas foi a melhor maneira que encontrei. Passei por momentos que te odiei muito por não ter me escolhido, momentos irracionais. Quando esses momentos passavam é que eu tinha certeza que tinha feito certo ao me afastar porque se eu te encontrasse iria dizer coisas que nos magoariam e eu iria me arrepender depois. Me afastei pra preservar nosso amor no meu coração, para que quando lembrasse de voce, lembrasse dos momentos bonitos e incríveis que vivemos. Mas também pra preservar isso em você. Entende? - Ela apenas assentiu, nao conseguia falar nada, so chorava silenciosamente. - Foi melhor assim, para que pudéssemos, pelo menos, construir uma amizade no futuro. Se nos magoássemos mais, iríamos ficar ressentidos um com o outro, o clima seria péssimo. E assim, nao conseguiríamos nunca mais trabalhar juntos, ser amigos, nada. E por isso que te chamei aqui hoje. Quero que sejamos amigos, para que o trabalho flua bem. Isso sera bom para nos dois. Confesso que não sei se a
magoa passou totalmente, mesmo com esses três anos, não sei se estou pronto para trabalhar novamente com voce, nao sei se todos os sentimentos vão voltar com força total. Mas saiba que tudo que eu puder fazer para ter uma boa relação profissional com voce, eu farei. E sempre te respeitarei, assim como respeitei - e ainda respeito - sua decisao. - Ele parou de falar por um momento, ela ainda chorava, de maneira silenciosa, olhando fixamente nos olhos dele. - Bom, acho que é isso tudo que eu tinha pra te dizer. - Falou ainda tentando ser forte e não secar as lagrimas dela.
       Ele esperou pacientemente até que ela estivesse pronta para responder. Ele sabia que a historia mexia de algum modo com os dois, mesmo que ele acreditasse que ela não tinha o amado. Como quem tivesse lido seus pensamentos, Bellamy perguntou de maneira triste.
     - Em algum momento voce desacreditou do meu amor por voce?
     -  Sim. - Foi direto. Nao queria falar sobre aquilo. Mas a resposta dele a fez chorar ainda mais.
     - Eu sei que voce jamais me desrespeitaria. É claro que aceito que sejamos amigos. - Respondeu a pergunta que ele a fez. - Mas nao so pelo bem do nosso trabalho, mas porque sinto muito a sua falta, Você não imagina como faz falta ter voce na minha vida. - Nesse momento ele a interrompe. Ela estava mexendo nas feridas dele.
     - Bellamy, por favor, eu falei que nao queria brigar. Nao vamos entrar nesse tipo de assunto. - Falou agitado.
    - Por quê? Eu estou falando a verdade, Tony. Você não imagina como eu sofri sentindo sua falta nesses últimos três anos. As vezes, parecia que eu não iria suportar.
    - Você não tem o direito de me falar que sofreu, porra! - Disse num tom mais alto. Mas foi tentando se acalmar aos poucos, pra não perder a cabeça. - Você escolheu isso. E eu disse que respeito e entendo. Mas você não pode ter escolhido ele e vir aqui me dizer que VOCÊ sofreu por estar com saudade de mim. Isso não é justo comigo, Bellamy. Eu passei muito tempo sofrendo por você. Mas você não pode dizer que sofreu, porque você tinha escolha, você escolheu isso. - Falava alterado. Seus olhos marejados.
     - Eu sofri, sim! Sofri muito! E você não pode saber o que se passa aqui. - Falava gritando e batendo no peito enquanto chorava. Mas foi se acalmando aos poucos e baixando o tom. - Ter que escolher ficar sem você foi a escolha mais difícil da minha vida. E se você quer saber, eu me arrependo disso até hoje, mesmo sabendo que foi melhor assim para o meu filho. Isso não torna nada menos doloroso. Eu ter feito essa escolha não significa que eu gostei de ter feito. Não significa que eu não sofri e chorei muito porque eu estava com saudade de você. Você era uma parte muito importante da minha vida. Eu fui ao inferno todas as vezes que você se negou a falar comigo nesses últimos três anos. Eu precisava tanto de você. Você era o meu melhor amigo, meu companheiro meu porto seguro, pra onde eu corria quando tudo dava errado, e quando dava certo também. Porque eu só era feliz quando dividia minha felicidade contigo. Você e o meu filho eram as únicas pessoas que conseguiam me fazer sorrir de verdade. - As lágrimas caiam livremente pelo rosto dele, e ele não fazia nada para pará-las. E ela ainda continuava falando e chorando. - Não era só sexo, por mais que você ache que eu pensava isso. Por mais que você não acredite em mim, no meu amor. Eu te amei muito, Ton. Você foi o amor da minha vida. - Ele levantou como se fosse embora, pois não suportava mais ouvir tudo isso. Ela também levantou de súbito. Ele já tinha dado uns passos se afastando dela, estava de costas para ela. Mas ela foi rápida e disse alto. - Você AINDA é o amor da minha vida, eu sei disso. Eu AINDA te amo muito. E eu sei que vou te amar sempre, mesmo que você não acredite nisso. - Ele virou e ela chorava desesperadamente, mas por dentro ela estava também feliz de ter feito com que ele permanecesse ali. Isso significava que ele ainda sentia algo por ela.
      Eles foram se aproximando mais um do outro, os dois choravam. Ele passou o polegar suavemente pela bochecha dela para secar as lágrimas que por ali escorriam. Ele a olhava fixamente e, delicadamente, ele foi enxugando cada lágrima dela. Ela também o olhava e repetia o mesmo gesto em seu rosto, secando as lágrimas dele carinhosamente, como ele estava fazendo com ela. E, como que por uma conexão de almas, os dois pensaram juntos, e uniram suas bocas num beijo terno e delicado cheio de saudade e amor. Um amor que eles sabiam que jamais deixaria de existir entre os dois.