CAP. X

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           Me Conta Toda a Verdade

A noite passada foi a pior de todas para Audrey, tudo o que havia acontecido parecia ter sido um pesadelo, mas pesadelos não deixam sequelas físicas, como o seu tornozelo inchado e dolorido.
Já era cedo e Audrey estava à beira do mar, entre as rochas esfregando roupas. Sua mãe a ajudava.
- Audrey, você não pode ficar assim, me diz o que aconteceu.
- Já disse mãe, nada demais. Eu tropecei e torci o meu pé. A senhora não ouviu o que disse o boticário?
- Sim, eu ouvi..
- "Tome mais cuidado mocinha, poderia ter sido pior. Você poderia está com seu pé ao contrário agora!" - Brincou Audrey ao imitar Jason, com um tom de voz mais grave, tirando assim um sorriso do rosto da sua mãe, que parecia estar cansada, também coitada, ela trabalhara desde muito cedo.
- Audrey, só promete para mim, que você não vai mais sair à noite, tão tarde assim. - pediu Julieth com certo medo, à essa altura ela estava certa, Audrey havia passado por um perrengue na noite passada, que talvez sair a noite não estava mais em seus planos.
- Mãe, talvez eu..
- Não Audrey! - Cortou ela. - Eu não quero que nada aconteça contigo, não quero que você, sei lá, seja devorada viva!
Audrey engoliu em seco, respirou fundo e olhou para a sua mãe, que estava realmente preocupada, pela primeira vez em tempos que Audrey à vira assim.
Audrey não sabia o que falar, só pensava como seria possível que a sua mãe soubesse da fera. E mesmo assim não contara para ninguém, simplesmente guardou para si. Seria egoísmo isso tudo o que ela fizera? Sua filha quase perdera a vida noite passada, e Julieth não a alertou sobre tal. Talvez a preocupação dela tinha realmente uma justificativa. O sentimento de culpa.
- Devorada viva? Como assim? - Insistiu Audrey, tentando arrancar algo de sua mãe.
- Ontem a noite, após Jason te examinar, ele me contou algo.
Pronto, não só a sua mãe, mas o boticário de Lingorn também sabia sobre a fera, mas seria errado mesmo eles ter conhecimento de tal?
- E o que ele te contou, que te deixou assim, tão preocupada?
- Na verdade ele me alertou, pediu pra eu tomar mais cuidado com você e com o Dylan.
- Como assim? Onde a senhora quer chegar? - Perguntou Audrey que tentava esconder a todo custo a verdade, mas tudo indicava que sua mãe soubesse!
- Jason avistou lobos caminhando por Lingorn! - Respondeu Julieth olhando diretamente para a filha que deu um suspiro.
- Lobos, sério mesmo? - Como se já não fosse problema uma fera desconhecida por eles, agora lobos também para dificultar.
- Sim. E se eles estão por aqui, pode ter certeza que brioches não é o que eles procuram. E você é a minha filha, tenho que tomar conta de você.
Audrey sorriu e abraçou sua mãe. Naquele momento, ela queria muito poder contar a verdade, mas ela ainda precisava ter a certeza de que a sua melhor amiga não estava envolvida. Ou talvez ela esteja. Realmente Audrey estava sem muitas opções, porém ela sabia que devia escolher. Contar a verdade sobre a existência de uma fera que conversa com Bea, ou esconder e esperar Bea se pronunciar. Qual seria a escolha certa a se fazer?
- Mãe. Ontem à noite, eu fui encontrar a Bea. E preciso te falar algo..
- Uma amizade um tanto peculiar não acha? Olha filha, eu gosto da Bea, mas você sabe o que falam dela, eu só não quero que falem que você também está ocultando junto com ela, e a louca da sua mãe.
Esse fora o momento chave para a sua decisão, Audrey não gostara nem um pouco do jeito em que todos agiam em Lingorn, quer dizer maltratar uma família porque elas moram na floresta longe da cidade, ou porque Bea fora criada com uma mãe solteira?
E mesmo assim isso não era motivo para criticá-las. Então Audrey fizera o melhor para elas, pelo menos é o que ela acha.
- Eu só quero o melhor pra você filha. E o que você tinha para me contar? - Perguntou Julieth.
- A lua, não sei se a senhora reparou, mas ela estava linda ontem. Nossa! A melhor.
As duas riram. E Julieth se levantou.
- Preciso ir, você leva o restante para a sua mãe? - Perguntou ela, que catava um monte de roupa.
- Pode deixar comigo. Tchau mãe. - Julieth se abaixou, deu um beijo no rosto da filha e se dirigiu para a cidade.
Para Audrey ainda restara algumas peças para lavar, certamente duraria algumas horas. Horas que talvez passariam mais rápidas com a presença de Bea, que acabara de chegar.
- Mas o que é isso? - Perguntou Audrey olhando para trás, pra ver se sua mãe viu algo.
- Não se preocupe, eu estava esperando ela se afastar para me aproximar.
- Então você estava escondida a quanto tempo? - Audrey queria ter certeza de que Bea não ouviu Julieth falando dela.
- Tempo suficiente. Mas e você, sobrevivente. - Brincou Bea dando um soco de leve no braço de Audrey, que sorriu.
- Bea, eu preciso saber, me conta toda a verdade! - Audrey estava se corroendo por dentro, mas precisava saber de toda a verdade, custe o que custar.

Ao subir um morro, Julieth chegara na rua principal de Lingorn, que por onde andou até chegar à igreja. Entrou. Passou por todos os bancos, e fora até o palco.
- Padre William. Está aí?
- Sim. Estou aqui fora.
Julieth se encaminhou para lá, era o cemitério, que nas crenças antigas devia ficar aos redores das grandes igrejas, para que as almas pudessem caminhar em paz.
- Me desculpe, eu posso voltar mais tarde se quiser. - Disse Julieth que sentiu estar atrapalhando.
- Não se preocupe, tenho certeza de que a sua visita possa me ajudar com algumas de minhas perguntas. - Respondeu o padre, que estava todo sujo. Sim ele estava cavando um dos túmulos. Agora a pergunta é "qual"?
Will tirou suas luvas encardidas, as colocou numa mesa e pegou um jarro de água, colocou um pouco em um copo, e ofereceu a Julieth, que recusou.
- Estou aqui para te falar uma coisa. Uma coisa que Audrey me disse sobre ontem.
- Pois bem, me diga. - Disse ele dando duas goladas no copo.
- Mas primeiro eu quero isenção de quaisquer culpas que possam vim a afetar a minha filha.
- O que você quer dizer? - Perguntou o padre interessado no que Julieth tinha a falar.
- Audrey foi ao relógio para encontrar Bea. Mas aquela bruxa! Acabou trazendo alguns lobos com sigo, e um deles veio até a minha filha, que tentou fugir mas acabou caindo. - Encenou Julierh, uma verdadeira artista, que em certo momento deixou cair umas lágrimas.
Essa verdade contada por Julieth poderia trazer muitos problemas para Bea. Mas também poderia ser a solução de todos em Lingorn. Já que todos acham que ela sempre tem culpa de tudo o que acontece. Será?
Pensativo, Will questionou.
- Lobos? Isso reforça os cortes no abdômen do senhor Mason.

The Beast - A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora